O quarto discute-se assim, — Parece que o batismo não confere ao homem a graça e as virtudes.
1. — Pois, como se disse, os sacramentos da lei nova realizam o que figuram. Ora, a ablução do batismo significa a purificação da alma, da culpa; mas a informação da alma pela graça e pelas virtudes. Logo, parece que o batismo não confere ao homem a graça e as virtudes.
2. Demais. — O que já alcançamos não precisamos receber de novo. Ora, certos se apresentam ao batismo, tendo já a graça e as virtudes. Assim, lemos na Escritura: Havia em Cesaréia um homem, por nome Cornélio, que era centurião da corte que se chama Italiana, cheio de religião e temente a Deus. E contudo foi depois batizado por Pedro. Logo, o batismo não confere a graça e as virtudes.
3. Demais. — A virtude é um hábito; e este é por natureza uma qualidade que dificilmente perdemos e que nos faz agir fácil e deleitávelmente. Ora, depois do batismo permanece em nós a inclinação para o mal, inimigo da virtude e temos dificuldade de praticar o bem que é o ato virtuoso. Logo, o batismo não nos confere a graça nem as virtudes.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Salvou-nos pelo batismo de regeneração, isto é, pelo batismo e renovação do Espírito Santo, o qual ele difundiu sobre nós abundantemente, isto é, para a remissão dos pecados e a abundância das virtudes, como o expõe a Glosa a esse lugar. Assim, pois, o batismo confere a graça do Espírito Santo e a abundância das virtudes.
SOLUÇÃO. — Como diz Agostinho, o efeito do batismo está em incorporar os batizados com Cristo, tornando-os membros seus. Ora, de Cristo, que é a cabeça, deriva para todos os seus membros a plenitude da graça e da virtude segundo aquilo do Evangelho: Todos nós participamos da sua plenitude. Por onde, é manifesto que pelo batismo alcançamos a graça e as virtudes.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como a água do batismo significa pela sua ablução a purificação da culpa, e pelo seu refrigério, a liberação da pena, assim, pela sua natural cladade, o esplendor da graça e das virtudes.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como dissemos, a remissão dos pecados pode alcançá-la antes do batismo quem o deseja explícita ou implicitamente. E contudo quando realmente o recebe, faz-se-lhe mais plena a remissão, ficando totalmente livre da pena. Assim também, antes do batismo, Cornélio e todos os da mesma condição alcançam a graça e as virtudes pela fé de Cristo e o desejo do batismo, implícita ou explicitamente; mas depois, no batismo, alcançam maior cópia de graça e de virtudes. Por isso, àquilo da Escritura - Ele me conduziu junto a uma água de rejeição - diz a Glosa: Pelo aumento da virtude e de obras santas nos fortificou no batismo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A dificuldade para o bem e a inclinação para o mal os batizados as sentem não por deficiência do hábito das virtudes, mas pela concupiscência, não eliminada pelo batismo. Assim, pois, como o batismo diminui a concupiscência, de modo que não possa ela dominar, assim também diminui a inclinação para o mal e a concupiscência, para não nos vencerem.