O segundo discute-se assim. — Parece que o batismo foi instituído depois da paixão de Cristo.
1 — Pois a causa precede o efeito. Ora, a paixão de Cristo, é a que obra nos sacramentos da lei nova. Logo, a paixão de Cristo precede à instituição dos sacramentos da lei nova; e sobretudo à instituição do batismo. Por isso, o Apóstolo diz: Todos os que fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte, etc.
2 — Demais — Os sacramentos da lei nova tiram a sua eficácia do mandamento de Cristo. Ora, Cristo deu aos discípulos o poder de batizar depois da sua paixão e ressurreição, dizendo: Ide e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Padre, etc. Logo, parece que o batismo foi instituído depois da paixão de Cristo.
3. — Demais. — O batismo é um sacramento de necessidade para a salvação, como se disse. Donde se conclui que, desde que o batismo foi instituído, os homens estavam obrigados a ele. Ora, não o estavam, antes da paixão de Cristo, porque ainda então vigorava a circuncisão, que o batismo veio substituir. Logo, parece que o batismo não foi instituído antes da paixão de Cristo.
Mas, em contrário, diz Agostinho: Desde que Cristo foi imerso na água, desde então lavou com a água o pecado de todos. Ora, tal se deu antes da paixão de Cristo. Logo, o batismo foi instituído antes da paixão de Cristo.
SOLUÇÃO. — Como dissemos, os sacramentos, pela sua instituição, têm o poder de conferir a graça. Por onde, conclui-se que um sacramento foi instituído, quando recebeu o poder de produzir o seu efeito. Ora essa virtude o batismo a teve quando Cristo foi batizado. Logo, então o batismo foi verdadeiramente instituído como sacramento. Mas, a necessidade de usar desse sacramento foi imposta aos homens depois da paixão e da ressurreição. Quer porque com a paixão de Cristo extinguiram-se os sacramentos figurados, a que sucedeu o batismo e os outros sacramentos da lei nova. Quer também porque o batismo nos configura com a paixão e a ressurreição de Cristo, porque morremos assim ao pecado e começamos a vida nova da justiça. Por onde, era forçoso que Cristo primeiro sofresse e ressurgisse, para depois impor-nos a necessidade de nos configurarmos com a sua morte e ressurreição.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Mesmo antes da paixão de Cristo o batismo tirava a sua eficácia da paixão de Cristo, pela prefigurar. Mas diferentemente dos sacramentos da lei antiga. Pois, aqueles eram apenas figuras; ao passo que o batismo hauria no próprio Cristo o poder de justificar, por cuja virtude também foi salvadora a sua paixão.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Não convinha que Cristo, que veio com a sua verdade abolir os símbolos antigos, realizando-os, nos fizesse prisioneiros de símbolos mais numerosos. Por isso, antes da sua paixão, não pôs como preceito o batismo já instituído, mas quis acostumar os homens a praticá-lo; e sobretudo O povo judeu cujos atos religiosos eram figurados, como diz Agostinho. Mas depois da paixão e da ressurreição, não só aos judeus mas também aos gentios impôs-lhes o batismo sob preceito de necessidade, dizendo: Ide e ensinai a todas as gentes.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os sacramentos não são obrigatórios senão quando ordenados sob preceito. O que não se dava antes da paixão, como se disse. E quanto a ter o senhor dito, antes da paixão, a Nicodemos – Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus – refere-se antes ao futuro que ao tempo presente.