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Art. 4 — Se todos os sacramentos são necessários à salvação.

O quarto discute—se assim. — Parece que to­dos os sacramentos são necessários à salvação.
 
1. Pois, o que não é necessário é supér­fluo. Ora, nenhum sacramento é supérfluo por­que Deus não faz nada em vão. Logo, todos os sacramentos são necessários à salvação.
 
2. Demais. — Assim como do batismo, diz o Evangelho: Quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus — assim também da Eucaristia: Se não comer­des a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue não tereis vida em vós. Logo, assim como o batismo é um sacramento de ne­cessidade para a salvação, assim também a Eucaristia.
 
3. Demais. — Sem o sacramento do batis­mo pode uma pessoa salvar—se contanto que não o deixasse de o receber por desprezo, mas por necessidade, como a seguir se dirá. Ora, em Qualquer sacramento o desprezo da religião im­pede—nos a salvação. Logo, pela mesma razão, todos os sacramentos são necessários à salvação.
 
Mas, em contrário, as crianças se salvam só pelo batismo, sem os outros sacramentos.
 
SOLUÇÃO. — De dois modos podemos considerar a necessidade relativamente ao fim, da qual agora tratamos. — Num sentido, é tal quem sem ela não pode ser conseguido o fim; assim a comida é necessária à vida humana. E esta é a necessidade absoluta, para a consecução do fim. — Noutro sentido, necessário é aquilo sem o que não podemos atingir convenientemente o fim; assim o cavalo é necessário para uma via­gem. E esta necessidade não é necessária, abso­lutamente falando, para atingirmos o fim. Ora no primeiro sentido da necessidade, três sacramentos são necessários. Dois a cada pessoa em particular: o batismo, simples e absolutamente falando; e a penitência, suposto o pecado mortal depois do batismo. Quanto ao sacramento da ordem, ele é necessário à Igreja, porque, no dizer da Escritura, onde não há quem governe perecerá o povo. — Mas, no segundo sentido, os outros sacramentos são necessários. Assim, a confirma­ção de certo modo aperfeiçoa o batismo; a extrema unção, a penitência; e o matrimônio enfim conserva, pela propagação, o povo fiel.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Para uma coisa não ser supérflua basta que seja necessária no primeiro ou no segundo sentido. E assim são necessários todos os sacra­mentos, como dissemos.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Essas palavras do Senhor devem ser entendidas da manducação espiritual, e não só da sacramental, como o ex­plica Agostinho.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora o desprezo de todos os sacramentos seja contrário à salva­ção, não há contudo desprezo do sacramento no fato de quem não cuida de receber o que não é de necessidade à salvação. Do contrário, to­dos os que não recebessem a ordem e não con­traíssem matrimônio desprezariam esses sacramentos.

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