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Art. 5. — Se o intelecto criado precisa, para ver a essência de Deus, de algum lume criado.

(II Sent., dist. XIV, a. 1, q. 3; IV, dist., XLIX, q. 2, a. 6; III Cont. Gent., cap. LIII, LIV; De Verit., q. 8, a. 3; q. 18, a. 1, ad 1; q. 20, a. 2; Quodl., VII, q. 1, a. 1; Compend. Theol., cap. CV).
 
O quinto discute-se assim. — Parece que o intelecto criado não precisa de nenhum lume criado para ver a essência de Deus.
 
1. — Pois, as coisas sensíveis, por si mesmas lúcidas, não precisam de nenhum outro lume para serem vistas. Logo, nem as inteligíveis. Ora, como Deus é inteligível, não é visto por nenhum lume criado.
 
2. Demais. — Se Deus é visto por um intermediário não o é em essência. Ora, tal se dá se é visto por meio de um lume criado. Logo, não é visto em essência.
 
3. Demais. — Nada impede que o que é criado seja natural a uma criatura. Se, pois, a essência de Deus é vista por meio de algum lume criado, este lume poderá ser natural a alguma criatura que, então, não precisaria de nenhum outro lume para ver a Deus, o que é impossível. Logo, não é necessário a toda criatura acrescentar-se um lume, para ver a essência de Deus.
 
Mas, em contrário, a Escritura (Sl 35, 10): No teu lume veremos o lume.
 
SOLUÇÃO. — Tudo o que é elevado acima da natureza própria é necessário que tenha uma disposição, que lhe seja superior; assim, se o ar tiver que receber a forma do fogo, é necessário que receba alguma disposição para tal forma. Ora, quando um intelecto criado vê a Deus em essência, esta torna-se-lhe a forma inteligível. Por onde, é necessário lhe seja acrescentada alguma disposição sobrenatural, para que se eleve a tanta sublimidade. Ora, como a virtude natural do intelecto criado não lhe basta para que veja a essência de Deus, como já demonstramos1, necessário é lhe seja aumentada pela divina graça a virtude intelectual, e este aumento chama-se iluminação do intelecto, assim como o próprio inteligível é chamado luz ou lume, do qual diz a Escritura (Ap 21, 23): A claridade de Deus a alumiou, i. é, a sociedade dos bem-aventurados que vêem a Deus. E este lume os torna deiformes, i. é, semelhantes a Deus, conforme aquilo do Evangelho (1 Jo 3, 2): Quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele e o veremos bem como ele é.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O lume criado é necessário para ver a essência de Deus; não que torne essa essência inteligível, que, em si mesma, é incompreensível, mas porque dá ao intelecto a capacidade de inteligir, do modo pelo qual o hábito dá a uma potência capacidade de operar. Semelhantemente, o lume corpóreo é necessário para a visão exterior, tornando, atualmente, o meio transparente, de maneira que possa a cor afetá-lo.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Não é preciso que o lume em questão, necessário para vermos a essência de Deus, seja uma imagem na qual vejamos essa essência, mas, sim uma quase perfeição do intelecto, que o fortifica para que possa ver a Deus. Por onde, pode-se dizer, que não é um intermediário no qual, mas antes, pelo qual Deus é visto. Ora, isto não tolhe a visão de Deus.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A disposição para a forma do fogo não pode ser natural, senão para o que já tem essa forma. Por onde, o lume da glória só poderia ser natural à criatura se esta fosse de natureza divina, o que é impossível. Mas, por este lume, a criatura racional torna-se deiforme, como dissemos2.
  1. 1. Q.12, a. 4.
  2. 2. In corpore
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