Skip to content

Art. 5 — Se Deus pertence a algum gênero.

(I Sent., dist. 8, q. 4, a. 2; dist. 19, q. 4, a. 2; Cont. Gent. I, 25; De Pot., q. 7, a. 3; Compend. Theol., c. 12; De Ent. Et Ess., c. 6)
 
O quinto discute-se assim. — Parece que Deus pertence a algum gênero.
 
1. — Pois, substância é o ser por si subsistente, o que é por excelência próprio de Deus. Logo, Deus pertence ao gênero da substância.
 
2. Demais. — Uma coisa mede-se pela sua congênere, como as longitudes, pela longitude e os números, pelo número. Ora, Deus é a medida de todas as substâncias, como o diz o Comentador1. Logo, Deus pertence ao gênero da substância.
 
Mas, em contrário, o gênero é, racionalmente, anterior ao seu conteúdo. Ora, nada é anterior a Deus, nem material nem racionalmente. Logo, não pertence a nenhum gênero.
 
SOLUÇÃO. — De dois modos uma coisa pode pertencer a um gênero: absoluta e propriamente, como as espécies, que ele abrange; ou por via de redução, como os princípios e as privações. Assim, o ponto e a unidade se reduzem ao gênero da quantidade, como princípios; a cegueira, como toda privação, ao gênero do seu hábito. — Ora, de nenhum desses modos Deus pertence a um gênero. E, por outro lado, que não pode ser espécie de nenhum, de três modos pode ser demonstrado. Primeiro, porque uma espécie é constituída pelo seu gênero e pela sua diferença; e sempre a origem da diferença constitutiva da espécie está para a origem do gênero, como o ato, para a potência. Assim, animal deriva da natureza sensitiva, por concreção; pois, chama-se animal o ser dessa natureza sensitiva. Racional, por seu lado, deriva da natureza intelectiva, pois racional é o ser que tem essa natureza. Ora, intelectivo está para sensitivo como o ato, para a potência, o mesmo se dando em casos semelhantes. Ora, como em Deus nenhuma potência vem acrescentar-se ao ato, impossível é que seja espécie de qualquer gênero. Segundo, porque sendo a existência a essência de Deus, como já demonstramos2, se Deus pertencesse a algum gênero, este seria necessariamente o do ser, pois o gênero exprime a essência de uma coisa e predica o que a coisa é. Ora, como o Filósofo o demonstra3, o ser não pode constituir gênero de nada; pois, todo gênero implica diferenças estranhas à sua essência. E não é possível descobrir nenhuma diferença exterior ao ser, visto que não pode o não-ser diferenciar nada. Donde resulta que Deus não pertence a nenhum gênero. Terceiro, porque todas as coisas pertencentes a um mesmo gênero devem ter também a mesma quididade ou essência genérica, que lhes é atribuída por atribuição essencial. Mas diferem pela existência; assim, não é a mesma a existência do homem e a do cavalo, nem a de tal homem e a de tal outro. Por onde é necessário que, em todas as coisas de um mesmo gênero, difira a existência da quididade ou essência. Ora, em Deus não há tal diferença, como já demonstramos4. Portanto, é manifesto que Deus não pertence especificamente a nenhum gênero. Donde resulta que não tem gênero, nem diferenças, nem definição, nem demonstração — salvo pelo efeito; porque a definição consta de gênero e diferença e é o meio para chegar à demonstração. — E também é claro que Deus não se inclui em nenhum gênero, como princípio, por via de redução. Pois, o principio redutível a um gênero não pode estender-se além desse gênero. Assim, o ponto só é princípio da quantidade contínua, e a unidade, da discreta. Ora, Deus é o princípio de todos os seres, como a seguir se demonstrará5. Logo, não está contido em nenhum gênero, como em princípio.
 
DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O nome de substância não significa somente o que subsiste por si, porque o ser em si mesmo não é gênero, como demonstramos6. Mas, significa a essência, à qual convém existir desse modo, i. é, por si mesma; sem que isso, porém, lhe constitua a essência própria. Por onde, é claro que Deus não está incluído no gênero da substância.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A objeção colhe quanto à medida proporcionada, pois esta há de, necessariamente, ser homogênea com o que mede. Ora, Deus não é medida proporcionada a nenhum ser; mas é considerado como medida de todos, porque cada um existe enquanto dele se aproxima.
  1. 1. Averróis, X. Metaphys., comm. VII.
  2. 2. Art. Praec.
  3. 3. III Metaphys., c. 3
  4. 4. Art. Praec.
  5. 5. Q. 44, a. 1
  6. 6. In corp.
AdaptiveThemes