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Art. 4 — Se na ordem das virtudes teologais a fé é anterior à esperança e a esperança, à caridade.

(IIª-IIª, q. 4, a. 7; q. 17. a. 7, 8; III :Sent., disto XXIII, q.1. 2, a.5; dist. XXVI, q. 2, a. 3, qª 2 ; De Virtut., q. 4, a. 3).
 
O quarto discute-se assim. — Parece que a ordem das virtudes teologias não deve ser a em que a fé é anterior à esperança e a esperança, à caridade.
 
1. — Pois, a raiz é anterior ao que dela procede. Ora, a caridade é a raiz de todas as virtudes, conforme a Escritura (Ef 3, 17): arraigados e fundados em caridade. Logo, a caridade é anterior às outras virtudes.
 
2. Demais. — Agostinho diz: Ninguém pode amar aquilo em cuja existência não crê. Mas, se crê e ama também fará bem se esperar1. Logo, parece que a fé precede a caridade e esta, a esperança.
 
3. Demais. — O amor é o princípio de todo afeto, como já se disse2. Ora, a esperança, sendo uma paixão, como já se disse3, exprime um afeto. Logo, a caridade, que é amor, é anterior à esperança.
 
Mas, em contrário, é a ordem em que o Apóstolo enumera estas virtudes (1 Cor 13, 13): Agora pois permanecem a fé, a esperança e a caridade.
 
SOLUÇÃO. — Há uma dupla ordem: a da geração e a da perfeição. Ora, naquela, em que a matéria é anterior à forma, e o imperfeito, ao perfeito, num mesmo ser, a fé precede a esperança e esta, a caridade, atualmente falando, porque quanto aos seus hábitos eles são infundidos simultaneamente. Pois, o movimento apetitivo não pode tender esperando ou amando, senão para o que é apreendido pelo sentido ou pelo intelecto. Ora, pela fé, o intelecto apreende o que espera e ama. Logo, necessariamente, na ordem da geração, a fé precede a esperança e a caridade. Semelhantemente, se o homem ama alguma coisa é porque a apreende como bem seu. Ora, aquilo de que o homem espera poder receber um bem, ele o considera como seu bem. Logo, ama em quem espera, e portanto, na ordem da geração e quanto ao ato, a esperança precede a caridade.
 
Mas na ordem da perfeição, a caridade precede a fé e a esperança, porque tanto esta como aquela se formam e adquirem a perfeição de virtude, pela caridade. Por onde, a caridade é a mãe e a raiz de todas as virtudes, enquanto forma de todos, como a seguir se dirá4.
 
Donde consta clara a resposta à primeira objeção.
 
Resposta à segunda. — Agostinho se refere à esperança pela qual confiamos, pelos méritos já adquiridos, em que chegaremos à beatitude; e isto é próprio da esperança formada, consecutiva à caridade. Mas também podemos esperar antes de termos a caridade; não, pelos méritos que já temos, mas pelos que esperamos ter.
 
Resposta à terceira. — Como já dissemos, quando tratamos das paixões5, a esperança visa um objeto principal, que é o bem esperado. E em relação a ele, o amor sempre precede a esperança; pois, nenhum bem é esperado sem ser antes desejado e amado. Em segundo lugar, a esperança também recai sobre aquele por quem esperamos poder conseguir um bem. E neste caso a esperança, primeiramente, precede o amor, embora depois, pelo próprio amor, a esperança aumente. Pois é porque julgamos podermos conseguir um bem por meio de outrem, que começamos a amá-lo; e por isso mesmo que o amamos nele mais fortemente esperamos.

  1. 1. I De doct. Christ. (cap. XXXVII).
  2. 2. Q. 27, a. 4.
  3. 3. Q. 23, a. 4.
  4. 4. IIª-IIª,. q. 23. a. 8
  5. 5. Q. 40, a. 7
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