Os princípios tradicionais da moralidade católica expressamente proíbem todo e qualquer uso de armas nucleares em tempos de guerra. A razão para isso é que, como os autores dizem, assassinar inocentes é um ato ilícito e imoral que não pode ser justificado pelo objetivo de vencer a guerra. Os não-combatentes, isto é, aqueles que não contribuem direta ou indiretamente para o sucesso dos atos de guerra do inimigo, devem ser considerados como inocentes. Atacá-los diretamente por qualquer razão, como abalar o ânimo da nação, é um ato imoral. Entende-se que a morte de inocentes pode, ocasionalmente, acontecer como um efeito colateral da guerra, mas não como um efeito primário, diretamente buscado. Nesse caso, não é imoral, mas desde que não seja algo desejado, mas apenas um efeito colateral inevitável de uma ofensiva agressiva ou do bombardeiro de alvos militares.
Porém, as armas nucleares provocam destruição em massa de populações civis inteiras e não podem ser utilizadas para atacar alvos militares isoladamente. Portanto, a morte de civis inocentes e de não-combatentes não é um mero efeito colateral: é o que se busca diretamente. Isso é manifestamente imoral, não importando que a guerra seja justa.
Essa realidade deve, porém, ser modificada em razão da natureza dinâmica da guerra no mundo moderno. Surgiu uma nova forma de barbarismo que responde pelo nome de “guerra total”. Desde a Guerra Civil Americana, as guerras modernas não têm sido um simples conflito entre combatentes de ambos os lados, e essa realidade tem aumentado de maneira cada vez mais intensa. Todos os recursos de um povo passaram a ser direcionados para a guerra e para a destruição total do inimigo, incluindo a indústria, a educação e toda a infraestrutura de uma sociedade. Esse conceito de guerra é manifestamente imoral e não pode, de maneira alguma, ser usado para justificar a morte de inocentes ou de não-combatentes.
A dificuldade surge quando uma nação inimiga passa a empregar a técnica da guerra total. Pode acontecer de a única maneira de se defender contra um agressor injusto em uma guerra imoral como essas seria responder à altura, alocando todos os recursos do país e atacando os alvos civis do inimigo (cf. Fagothey, Right and Reason, p. 572). A justificativa para essa resposta seria que, nesse caso, não existem não-combatentes e que, como a população inteira está envolvida na atividade de guerra inimiga, então todos podem ser alvos de agressão para autodefesa. Apesar disso poder ser admitido como uma possibilidade teórica, seria uma decisão extremamente difícil de se tomar.
Consequentemente, pode-se imaginar uma situação na qual a morte de um grande número de civis através do uso de armas nucleares poderia ser justificado através do princípio do efeito duplo, ou seja, como um meio necessário para se vencer uma guerra justa. Porém, mesmo nessas circunstâncias, teria que haver uma razão proporcional ao mal que a morte de inocentes representa, a saber, o bem desejado. Meu ponto é que, no mundo moderno, essa razão proporcional jamais poderia ser imaginada. O uso de uma arma nuclear acarreteria o uso de outras armas nucleares pelo inimigo ou por seus aliados, e um ciclo de destruição inacreditável seria criado, o que faria a situação geral ser um mal muito maior do que mesmo perder uma guerra justa.
Consequentemente, parece-me que, ainda que se conceda a possibilidade teórica de a guerra total ser respondida com uma guerra total, na prática, o uso de armas nucleares jamais seria permitido.
É patente que o uso de armas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki, em 1945, foi imoral. Naquele momento, não havia ameaça às populações civis nos países aliados, nem se poderia dizer que havia uma guerra total. Certamente não havia razão proporcional ao sofrimento dos civis, destruição e miséria que resultaram, sem mencionar o escândalo público e o horror de que uma nação “civilizada” perpetrou um ato tão bárbaro contra inocentes.
— Pe. Scott, Maio de 2003.