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A salvação para os Judeus

Este filme despertou enorme atenção pública por três razões: primeiro, por ter sido feito por um grande ator como produtor, Mel Gibson; segundo, por ser uma filmagem da vida de Cristo, numa obra cinematográfica de nível artístico admirável, em tempos de total indiferença, para não dizer desprezo ou rancor, pela pessoa de Jesus Cristo ou por qualquer aspecto de vida religiosa católica e terceiro pela imediata reação agressiva de grupos judeus nos Estados Unidos onde rabinos ligados à organização maçônica judaica B:nai B:rith iniciaram campanha contra o produtor e seu filme acusando-o de ser anti-semita. Esta última razão funcionou como o que os gregos chamavam “estentoreio”, isto é, alto-falantes que atraíram a atenção dos jornais e televisões e provocaram debates acirrados sobre o assunto.

Meu propósito aqui é o de dirigir-me aos judeus, que porventura cheguem a ler ou a ouvir o que lhes tenho a dizer, com a intenção de tentar eliminar o que possa impedir ou dificultar a devida apreciação do filme, não porque tenha procuração do autor do filme, que evidentemente nem conheço, nem a mim conhece ele, mas porque estou convencido de que, por uma série de circunstâncias, este filme é um portentoso sinal da graça de Deus em favor dos judeus e meu desejo é o de que os judeus, como os demais, possam contemplar o filme no que ele realmente é, uma espécie nova, moderna, da pregação missionária da Igreja que os judeus, durante tantos séculos, recusaram-se a ouvir, mais ainda, sequer a considerar como uma realidade a que pudessem dirigir o olhar. Isto porque ergueram barreiras psicológicas com as quais desviam os olhos e os ouvidos de tudo o que lhes recorda este assunto: a pessoa do Cristo, a Igreja Católica. A discussão pública que hoje se armou em torno do filme fará, certamente, com que muitos judeus tomem conhecimento do assunto com a intenção, não de ver o filme, mas de agredi-lo ou mesmo procurar impedir sua exibição. Ora, a intenção do autor do filme não é, evidentemente, tratar de judeus, para começo de conversa, e sim do Cristo. Não existe nenhum motivo, nem atual nem antigo, que permita supor que o sr. Mel Gibson tenha má-vontade com os judeus. Seu filme se atém estritamente a fatos históricos tais como reportados nos Evangelhos e tais como a Igreja Católica sempre interpretou e ensinou até 1958. Mais ainda, preocupado com a imediata e agressiva reação da B’nai B’rith, Mel Gibson procurou fazer-lhes concessões eliminando do filme uma passagem em que os judeus que pressionaram Pôncio Pilatos a mandar crucificar Jesus gritam: “que o seu sangue tombe sobre nós e os nossos filhos”, embora este grito esteja reportado nos Evangelhos. Logo, evidentemente, o que os grupos de judeus que se voltam contra o filme querem é, mais uma vez, repudiar o Cristo e a sua Igreja. Isto é uma pena, sobretudo para os próprios judeus aos quais gostaria de procurar ajudar a limpar sua alma e seu coração de tanta acrimônia, para que pudessem ouvir a pregação do Cristo em toda a sua mansidão e considerar os argumentos que lhes podemos oferecer em sua simples racionalidade, digna de aceitação se for verdadeira, para que se coloquem de um modo feliz diante da pregação em questão.
 
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Se perguntarmos a um judeu qualquer, hoje, de que tribo sua família é, ele terá que, obrigatoriamente, responder que não sabe pois a destruição de Jerusalém pelos romanos, no ano 70 de nossa era, acarretando a destruição de toda a nação judaica e o êxodo quase total da população para fora da Palestina, destruiu também todos os registros que, até então, eram cuidadosamente guardados, registros cuja importância ia muito além da simples identificação das famílias mas era também a fonte da designação daqueles aos quais incumbia o serviço do Templo, os da tribo de Levi, dentre os quais saíam os designados para o sacerdócio, honra assinalada única e exclusivamente aos descendentes da família de Aarão, irmão de Moisés. E ainda mais, somente com tais registros seria possível conferir se o Messias, quando viesse, atendia ao que os profetas haviam predito dele, que seria da tribo e da família de Davi, rei de Judá. O próprio rei Davi, no salmo 109, profetiza que o seu descendente será o seu Senhor (“Disse o Senhor ao meu Senhor...”), mas como certificar-se disso hoje se o Messias ainda estivesse por vir?
 
Depois da dispersão resultante da destruição de Jerusalém e da tomada da Palestina pelos romanos, os rabinos judeus mais importantes reuniram-se na cidade de Jamnia, no ano 90 da nossa era, onde selecionaram os textos hebreus do antigo Testamento que admitiram como sagrados, rejeitando vários livros componentes da famosa versão grega chamada “dos 70” (tradução do texto bíblico feito ao longo do século III antes de Cristo por judeus de língua grega). Eles rejeitaram diversos livros utilizados pelos cristãos nas suas disputas com os judeus, livros considerados “inconvenientes” tais como Judite, Tobias, Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruch, chamados por isso deutero-canônicos. Assim a Bíblia hebraica, que foi nesta reunião fixada como um Cânon com exclusão de tudo o mais, ficou constituída em três partes: l) a Lei, ou Torá, que corresponde ao nosso Pentateuco, os 5 primeiros livros do Antigo Testamento; 2) os Profetas (Neviim) com os livros históricos e os proféticos propriamente ditos e 3) os Escritos (Ketouvim) com os livros sapienciais, Ruth, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras e as Crônicas. Mais tarde outros rabinos destacados, em Babilônia e na Galiléia, promoveram uma revisão gráfica do texto do ano 90 sem alterações na sua substância, daí resultando a versão chamada “massorética” utilizada até hoje. O parecer dos mais importantes teólogos católicos sobre estes textos é o de que na sua versão em hebraico eles não sofreram adulterações a não ser pequenas divergências de grafia ou de disparidades de copistas. Esta é a opinião de São Jerônimo que se baseia nisso na opinião de Orígenes. É também a opinião de Santo Agostinho. Porém varias adulterações foram assinaladas por São Justino, Santo Irineu, o próprio Orígenes e São João Crisóstomo nas versões em grego de textos bíblicos, sobretudo os da lavra de um certo Theodocium de Éfeso e um outro chamado Áquila, do Ponto. Porém a maioria dos judeus, mesmo religiosos, sobretudo religiosos, não tomam muito conhecimento desses textos bíblicos por mais sagrados que sejam, preferindo utilizar coletâneas de interpretações deturpadas e insultuosas para os cristãos chamadas Michna e o Talmud (isto é a “tradição”). Estas interpretações tendenciosas criaram barreiras intencionais que induzem os ouvintes a nem tomar conhecimento da existência dos pregadores católicos. Mas esse fenômeno atesta também que, na prática, os judeus sem Templo, sem sacerdotes, sem sacrifício, não têm mais, realmente, o uso espiritual dos seus próprios textos sagrados.
 
No final do capítulo 9 das profecias de Daniel está predito que um povo viria com seu capitão para destruir o Templo e a nação, que produziria uma ruína total fazendo cessar “a hóstia e o sacrifício” e que esta desolação duraria até o fim do mundo. Esta profecia é muito diferente das profecias que, antes de Daniel, anunciavam castigos divinos. Com efeito, as outras profecias referiam-se sempre a castigos por um tempo limitado, anunciavam a reconstrução do Templo ou a retomada dos sacrifícios nele, bem como a reconstrução da cidade de Jerusalém. Mas esta diz claramente que nunca mais haverá Templo nem a retomada de sacrifícios.
 
Os judeus modernos têm, por outro lado a terrível responsabilidade de responder pela sua atitude pessoal diante do seguinte espetáculo que a história do mundo lhes apresenta.
 
Durante os tempos da antiga Lei, antes da vinda de Jesus Cristo, os judeus, ainda que muitas vezes prevaricadores diante de Deus, tinham consciência de que possuíam um patrimônio, digamos, místico, um universo religioso que conservava a memória de manifestações misteriosas, maravilhosas de um Deus invisível cujo poder eles bem sabiam ser incomensurável e que intervinha sempre na vida do povo judeu, quer por anúncios dos profetas, quer por milagres com que salvava este povo de seus inimigos como no tempo dos Juizes ou por castigos com que os entregava aos seus inimigos. Os judeus sempre souberam ver nos acontecimentos preditos pelos profetas ou nas intervenções divinas na vida deles a manifestação da vontade de Deus. Ora, além da profecia de Daniel acima referida, como podem os judeus deixar de considerar atônitos este espetáculo inaudito: ao lado de sua situação que realiza a profecia de Daniel, que os manteve dispersos pelo mundo inteiro durante vinte séculos, reduzidos a uma população desprezada, sem magistrados notáveis, nem sacerdotes de verdade, nem Templo nem sacrifício, sem soldados nem força, nem unidade política nem território, sujeitos ao arbítrio dos reis dos países onde viviam e, às vezes, ao massacre como ocorreu muitas vezes na Rússia ortodoxa ou na Alemanha protestante; ao lado disso, a religião cristã levada a nações não judias por um grupo de doze judeus pescadores ignorantes, sem influência política nem força militar, perseguidos os cristãos e massacrados pelos romanos durante quase três séculos, no início de sua história, cambaleantes depois ao longo de lutas terríveis contra heresias quase vitoriosas por força de influências políticas, sujeitos em seguida à devastação causada pelas seguidas invasões de bárbaros durante séculos também, com tudo isso, esta religião chegou a dominar todo o mundo ocidental (na verdade o mundo que realmente fez a história da humanidade desse período em diante e, num certo sentido, faz ainda até hoje) e, mais ainda os mais nobres espíritos e as mais notáveis inteligências que o mundo já viu.
 
Um professor universitário brasileiro, hoje falecido, foi um dia interpelado por um aluno durante a aula quando, por acaso, Jesus Cristo foi mencionado. “Professor, Renan diz que Jesus foi apenas um grande homem...”. O professor respondeu: “De alguém que diz de si mesmo, “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” e “quem come a minha carne e bebe o meu sangue viverá eternamente” só se pode dizer ou que é louco ou que é Deus. Grande homem é Renan, por exemplo.” E se alguém pode pensar que um louco conseguiu impressionar os milhões de homens e as notáveis inteligências que o cristianismo formou e realizar a obra esplêndida de uma civilização própria que durou intacta em seus valores durante mil anos, então o problema é outro, é um problema de sensatez. Mas, o que importa aqui ponderar é: porque os judeus não olham essa ocorrência simultânea de fatos ao longo de 20 séculos com o mesmo olhar espiritual, com a mesma piedade filial com que os antigos se lembravam do braço poderoso que os havia tirado do Egito e os tinha salvo do exército de Faraó e de sua cavalaria?
 
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Há ainda outros aspectos a considerar aqui. Há o aspecto do ressentimento judeu que conheço por experiência própria. Esse ressentimento é curioso. Os judeus modernos costumam explicar a si mesmos, quando se lhes pergunta alguma coisa a respeito disso, que a raiz mais profunda desse ressentimento vem da lembrança das perseguições que os judeus sofreram no passado, mas proponho aos judeus honestos esta pergunta: é verdade ou não é que esse ressentimento volta-se mais contra a Igreja Católica do que contra os paises, não católicos, onde a perseguição e os massacres efetivamente se deram? Nunca houve perseguição sangrenta aos judeus na Polônia, na Áustria, na Hungria, na Itália. Houve na Rússia ortodoxa do século 19 e começo do século 20, houve na Alemanha protestante no século 20. Costumam citar a Espanha dos reis Católicos Fernando e Isabel que nunca massacraram judeus mas, sim, mandaram expulsa-los do seu reino por razões políticas. Esta expulsão foi efetivada pelo famoso Decreto de Alhambra, admirável na sua retidão e até na delicadeza com que explica a necessidade de expulsá-los. Nenhum judeu conhece esse texto e os detalhes do fato histórico. Querer inculcar a idéia de que a Inquisição forçava judeus a se converterem, não coincide com a natureza dela. A única verdade que realmente ocorreu e, creio eu, ocorre ainda hoje em paises católicos ou ex-católicos é, me parece, um certo mau humor dos gentios para com os judeus, um mau humor em que os judeus não são inocentes porque ele resulta, pelo menos em parte, da maneira pela qual os judeus, em todos os paises onde vivem, constituem uma espécie de fraternidade separada que atribui ajuda e até privilégios aos seus correligionários e olha os demais como adversários. Sem falar na usura com que, no passado, muitos judeus eram mal vistos, sobretudo pela dureza na cobrança de empréstimos.
 
A verdade (que eu conheci no fundo de minha alma) é que o ressentimento judeu é mais antigo do que as perseguições e o perigo que ronda as almas dos judeus é que esse ressentimento se dirija realmente e antes de qualquer pretexto, contra o Cristo e contra a sua Igreja, que seja uma manifestação do “ódio sem motivo” a que se refere Nosso Senhor (João 15, 25). Minha esperança, mencionando aqui este assunto, é a de que algum judeu que por acaso leia ou ouça o que escrevi possa, pelo menos, suspender seu ressentimento e olhar o filme naquilo que ele realmente quer ser: um testemunho em imagens que recordam em toda a sua crueza a morte de Deus encarnado, que assumiu uma natureza humana para poder sofrer afim de, pela grandeza infinita da personalidade divina dessa natureza, poder pagar, expiar o pecado, e assim oferecer aos homens a salvação de Deus, inclusive aos judeus.
 
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Uma coisa os judeus da B’nai B’rith podem alegar e alegaram contra o filme de Mel Gibson: as autoridades atuais do Vaticano, tanto em pronunciamentos de cardeais, teólogos quanto do Papa atual e do Concilio Vaticano II, modificaram o entendimento e a pregação da Igreja Católica que, por 20 séculos, desde os pronunciamentos de São Pedro e São João Evangelista, por diversos e grandes santos teólogos, São Justino, São João Crisóstomo, São Jerônimo, Santo Agostinho e tantos outros sempre afirmou duas coisas bem claras a respeito da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo: o motivo pelo qual a segunda Pessoa da Santíssima Trindade se encarnou como verdadeiro homem, sofreu a Paixão e morte na cruz foi o pecado de todos os homens em todos os tempos, inclusive os futuros, até o fim do mundo, para sua remissão. E, por sua vez, que o Cristo encarnou-se no seio de uma virgem judia, nasceu, cresceu e viveu entre os judeus aos quais se dirigiu em sua pregação mas que não foi por eles recebido. Embora muitos judeus se tenham feito seus discípulos – cerca de 120, entre apóstolos e outros seguidores, estavam presentes no dia de Pentecostes e cerca de 3.000 receberam o batismo nesse dia – a maioria da população de judeus não o recebeu e deixou-se incitar pelos sacerdotes e membros do Sinédrio a pedir a Pilatos a condenação de Jesus preferindo que soltasse Barrabás, o qual era um ladrão. Jesus veio para os seus e os seus não o receberam. É portanto normal se dizer de um modo geral que “os judeus crucificaram Jesus”. Evidentemente ninguém pode dizer quais judeus no meio da multidão que pedia a morte de Jesus eram interiormente culpados disso, realmente. Deus é que sabe. Porém com que direito os judeus de hoje pretendem chamar de racista quem simplesmente diz, generalizando, que “os judeus mataram o Cristo” quando eles efetivamente o mataram? E que dizer da aversão que inúmeros judeus, até hoje, guardam contra “os alemães”, de um modo geral, recusando ir à Alemanha, comprar qualquer produto alemão, até mesmo CDs da Deutsh Gramophon. Durante mais de 40 anos era proibido tocar Wagner em Israel e só começaram a tocar porque o maestro judeu Daniel Barenboim arriscou sua vida impondo isso à orquestra que dirigia em Israel. Todos os alemães são culpados das atrocidades nazistas?
 
A verdade é que os atuais dirigentes da Igreja Católica, que traumatizaram a Igreja e até hoje a mantêm sob flagelação desfigurando-a pelos atentados cometidos contra a sua doutrina, seus procedimentos e entendimentos de 20 séculos, produziram uma nova religião, a religião da Igreja pós-conciliar de inspiração maçônica, demagógica, revolucionária, para a qual não é difícil alterar também textos bíblicos ou modificar normas litúrgicas milenares. Fizeram concessões demagógicas, por pressão de organizações tipo B’nai B’rith mas, sobretudo, abandonaram definitivamente sua atividade missionária em favor de um chamado ecumenismo que pretende legitimar todas as religiões e até declarar salvos quem não tem nenhuma. Aqueles que recusam acompanhá-los nisso tudo – um dos quais é precisamente o sr. Mel Gibson – são chamados pela imprensa de “católicos tradicionalistas”, ultraconservadores e até, caluniosamente, de fundamentalistas. Na verdade somos, nós e ele, católicos simplesmente que querem ser apenas aquilo que a Igreja sempre foi.
 
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Para os judeus comuns, que não tenham a índole de membros da B’nai B’rith, o filme de Mel Gibson pode ser uma bênção dos céus mostrando que Deus não se esquece deles e os persegue no fundo de suas almas com “gemidos inenarráveis” procurando enternecer seus corações para que possam atender às evidências acima descritas e se disponham a contemplar o espetáculo terrível da morte de Jesus Cristo com o espírito livre de preconceitos e ressentimentos. Tenho a convicção de que nossos tempos favorecem isto de um certo modo. Explico porque. Embora os judeus da B’nai B’rith não gostem disso, a verdade histórica é que os judeus que pediram a condenação de Jesus efetivamente clamaram “que seu sangue tombe sobre nós e nossos filhos”. Ora, a história dos judeus depois da dispersão em massa por causa das duas guerras contra os romanos parece confirmar que, realmente, caiu sobre eles uma maldição milenar. Os judeus tornaram-se, – vê-se pela literatura de todos os tempos – objeto de desprezo, ridicularizados, enxotados, impedidos de terem terras durante séculos, impedidos de seguir a carreira das armas, de ascender a posições políticas ou na magistratura e, finalmente, já em nossos dias, massacrados aos milhões. Ora, como escrevi em um livro que publiquei, parece que esta maldição acabou. Não apenas porque circunstâncias históricas possibilitaram a formação do Estado de Israel (que, se Deus não quisesse, não se teriam concretizado) mas, porque este Estado constituiu-se em plena guerra contra 100 milhões de árabes e se manteve com outras guerras contra eles, mesmo depois que estes árabes se tornaram super-ricos pelo petróleo. Para isso, aquele povo judeu, pequeno, com figuras que, até um passado recente, eram vergonhosas, odiosas, ridículas, viu aparecerem em seu meio notáveis estadistas, grandes chefes militares de uma coragem extraordinária, de uma eficiência técnica militar inacreditável, grandes estrategistas, cientistas, pensadores, inventores que mostraram claramente que o braço de Deus os ajuda agora, depois de 2000 anos de abandono. Ou será que os judeus pensam que é apenas a excelência deles mesmos que produziu tudo isso? Evidentemente isso não possibilitou nem pode possibilitar uma revivescência do judaísmo como religião pelos motivos acima explicados. O verdadeiro motivo para essa assistência divina parece ser o de preparar os judeus para a conversão em massa deles, no fim do mundo, que está predita por São Paulo (Romanos 11, 25 e segs.). Se esta suposição tem fundamento, ainda que a conversão em massa possa estar longe, a suspensão do castigo milenar dos judeus torna propícia a conversão pessoal aos judeus de nossos tempos. A graça de Deus está no ar à espera e, assim como São Paulo assinala que a queda de Israel favoreceu o ingresso dos gentios na Igreja, assim também os tempos apocalípticos em que vivemos, com a corrupção generalizada do clero católico, pode facilitar o aparecimento de judeus que aspirem a uma verdadeira (e única) Religião dotada de valores transcendentes, mais altos do que este universo de direitos humanos, fraternidades sem pai, gozo de bens materiais, em que vivemos. Nós aspiramos a um universo de obrigações humanas, piedade filial voltada para o Pai, em primeiro lugar, e esperança de um gozo eterno na pátria verdadeira que não é aqui. Ora, sabemos que é a graça de Deus que nô-lo pode dar. E essa graça, é só pedir.
 
No Evangelho de São Lucas cap.21, 24 há uma curiosa profecia que tem passado desapercebida. Ali se relata que “Jerusalém será calcada pelo pé dos gentios até que se complete o tempo das nações.” Depois de 2000 anos em que Jerusalém esteve dominada por povos diversos, todos não judeus, os judeus tomaram Jerusalém integralmente em 1967, mas só em 1980 é que a proclamaram capital do Estado de Israel. Esta proclamação foi recebida por urros de furor do mundo inteiro, não apenas dos países árabes, da União Soviética mas também da União Européia e dos Estados Unidos que apoiavam Israel mas ficaram contra a retirada de Jerusalém de sob os pés dos gentios. Até a pequena Costa Rica, único pais que tinha sua embaixada em Jerusalém e não em Tel-Aviv, tratou de fazer as malas e mudar-se apressadamente para não reconhecer implicitamente a nova capital de Israel. Esse furor do mundo inteiro, mundo apóstata, incrédulo, inimigo da fé me dá a mim a impressão de estar assistindo a coisas maravilhosas que me mostram que é Deus, Ele mesmo, que dirige em última análise os acontecimentos e que Ele se ri do furor das nações como diz o salmo 2. Ora, se Jerusalém deixou de estar sob os pés dos gentios em 1980, então o “tempo das nações” acabou. Dez anos depois é que o mundo começou a ouvir falar em “Globalização”. Mas estes acontecimentos deveriam ser bem compreendidos pelos judeus também. O tempo das nações acabou para todos. Para eles também. Não há mais distinção entre judeu e grego como diz São Paulo. Muitas razões existem hoje, além desta última, para se supor que vivemos em tempos terminais e nestes tempos a distinção real é entre os que servem ao Cristo e os inimigos dele os quais, apesar de lutarem entre si, irão juntar-se em Armagedon para a batalha final contra Deus. Que Deus nos guarde no bom lado para este combate.
 
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Um derradeiro comentário. Nem todos os judeus, mesmo americanos, são do tipo B’nai B’rith. Recebi de amigos o texto que um rabino judeu ortodoxo americano de Seattle, Estados Unidos, colocou na internet criticando os ataques das organizações judaicas que se levantaram contra o filme. Cito alguns dos seus pronunciamentos:
“Estas organizações judaicas que dissiparam tempo e dinheiro futilmente, protestando contra o filme “A Paixão” ostensivamente, pretendendo (diz ele com ironia) evitar pogroms em Pittsburgh (chamavam-se pogroms os massacres de judeus na Rússia no século 19 e 20) dificilmente se podem orgulhar de seu desempenho. Esperavam arruinar Gibson e não enriquece-lo; queriam suprimir o filme e não promove-lo e, finalmente, pretendiam ajudar os judeus e não prejudicá-los...Ao invés de ajudar a comunidade judaica eles lhe infligiram danos duradouros. Selecionando para descarregar sua fúria apenas um entretenimento que descreve o cristianismo de um modo positivo, eles arriscaram produzir raiva, mágoa e ressentimento....Considero importante que os cristãos saibam que nem todos os judeus estão de acordo com seus auto-designados representantes....Muitos judeus, individualmente, me exprimiram seu embaraço com que grupos, ostensivamente representando-os, ataquem “A Paixão” mas se calem diante de entretenimentos depravados que encorajam matar policiais e brutalizar mulheres....Tenho encontrado amargura para com organizações judaicas que insistem em que acreditar no novo Testamento é, de fato, evidência de anti-semitismo. Cristãos ouviram lideres judeus denunciar Gibson por ter feito um filme que segue o relato dos Evangelhos muito antes de qualquer deles ter visto o filme. Mais ainda, cristãos ficam ofendidos com grupos judeus que estão pretendendo ensinar-lhes o que as Escrituras cristãs “realmente significam”....Organizações judaicas procurando ajudar mas falhando tão espetacularmente, refutam todos os mitos sobre a inteligência dos judeus. Como é possível que seus planos tenham sido tão equivocados e sua execução tão inepta?”
 
O autor dessas palavras chama-se Rabino Daniel Lapin que é presidente de uma organização judaica de nome Toward Tradition (Pela Tradição) e tem um programa de rádio.

 

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