PERMANÊNCIA

"Permanecerei em mim e eu permanecerei em vós."

O Brasil é a cereja do bolo

Ricardo Luiz Guimarães de Azevedo

No presente estudo destaco cinco nações do mundo, dentre elas o Brasil. A comparação com as demais justifica o título deste trabalho.

Ricardo Luiz Guimarães de Azevedo[fn]O Autor é Engenheiro e professor da ESG-Escola Superior de Guerra- com pós Graduação em Relações Internacionais pela COPPEAD (UFRJ) e Mestrado em Segurança e Defesa Hemisférica pelo Inter American Defense College, Washington, USA.[/fn]

Introdução

Na minha adolescência, sempre li nos jornais e revistas e ouvi na televisão dados preocupantes sobre o desmatamento da Amazônia. Certa vez, comecei a compilar esses dados e verifiquei que, se somados todas essas percentagens, toda a floresta já teria desaparecido, o que, efetivamente, não ocorreu.

O que move a apresentação dessas pesquisas tão dramáticas? Quais as verdadeiras motivações, interesses ou questões veladas envolvidas nessa matéria?

A resposta me foi dada no ano de 2000 em um curso da Escola Superior de Guerra (ESG) em que compreendi a real importância do Brasil e a sua posição no concerto das nações.

As pesquisas e estudos empreendidos naquela casa descortinaram para mim os problemas do Brasil e de seu povo, destacaram as virtudes e talentos do brasileiro no enfrentamento de dificuldades e apresentaram o caminho para a solução de tamanho desafio.

No presente estudo destaco cinco nações do mundo, dentre elas o Brasil. A comparação com as demais justifica o título deste trabalho.

 

Os países e seus interesses

Com o fim da guerra fria, novos centros de poder liderados pelos EUA (NAFTA), Japão (APEC) e União Europeia (UE) promoveram a globalização do comércio e dos serviços com a criação de blocos regionais e da “Constelação Mundial do Comércio”, como por exemplo o G-8.

O grupo do G-8, criado em 1975, é composto por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. Países esses que representam quase 70% da riqueza mundial e são os principais acionistas de organismos internacionais como o FMI – Fundo Monetário Mundial – e o Banco Mundial, além da colaboração da União Europeia.

Embora de grande importância no cenário internacional, o G-8 só  possui poder de deliberação. Para colocar em prática seus interesses utiliza-se de  mecanismos sociais, ambientais e  econômicos-financeiros como FMI e o Banco Mundial para implantação de suas políticas .

 A crise financeira de 2008 expôs de maneira clara as principais demandas destes países.

Considerando que a ascensão das economias da China e da Índia e suas grandes populações pressionam de maneira sensível a já crescente demanda mundial por commodities, recursos naturais e energia, e que o Brasil e a Rússia despontam como grandes fornecedores, há que se destacar, nesse cenário, o jogo de poder resultante entre as nações e blocos econômicos para suprir a essas necessidades.

Os massivos investimentos ocidentais transformaram a China em uma grande fábrica e a Índia em um escritório remoto das grandes corporações devido ao baixo custo da mão de obra e a inexistência de garantias trabalhistas. O estado do bem-estar social na Europa exige cada vez mais energia oriundas da Rússia e do Oriente Médio e a alta demanda por alimentos colocam, definitivamente, o Brasil neste tabuleiro de xadrez. 

Como forma de mascarar os seus verdadeiros interesses em atender as suas principais questões nacionais, estes países lançam mão de pautas socioambientais como por exemplo o desmatamento da Amazônia, o aquecimento global, o tráfico de drogas e de armas, as desigualdades sociais de modo a mitigar os seus próprios erros no uso de seu território e de suas águas. Com um forte lobby em seu agronegócio, A união Européia  ameaça e intervem na soberania das nações construindo para si mesma uma encruzilhada : aceitar a dependência e ceder poder ou obstar , por todos os meios, o desenvolvimento das nações que podem satisfazer suas necessidades.  

 

Uso do território e disponibilidade de água no mundo

A demanda mundial por commodities, recursos naturais e energia dependem das condições e da localização geográfica de cada país. Um levantamento feito pela NASA, concluiu que a Austrália, o Brasil, o Canadá e a Rússia são os países que abrigam a maior área de natureza intacta do mundo com nenhuma ou mínima interferência humana. O levantamento não inclui partes do alto mar fora de fronteiras nacionais e a Antártica.

Importante destacar que a Europa, de onde parte as maiores críticas sobre meio ambiente, desmatou e explorou intensamente o seu território. Sem a Rússia, detinha 7% das florestas originais do planeta e hoje possui apenas 0,01%. O Brasil, em contrapartida, detém as maiores florestas tropicais do planeta. Os demais são cobertos, em sua maioria por tundras e vegetação de baixa estatura.

O quadro ao lado espelha, em grande medida, a situação global com destaque para o Brasil único país que detém as maiores florestas tropicais do planeta. Os demais são cobertos, em sua maioria por tundras e vegetação de baixa  estatura.

 

 

A distribuição hídrica no planeta

Cerca de ⅔ do planeta Terra são cobertos por água sendo 97% salgada. As calotas polares, a Groenlândia, as ilhas do Ártico e as  grandes montanhas pelo mundo, armazenam 2%. O restante (cerca de 1%) está na atmosfera ou armazenada em aquíferos subterrâneos, nos sub-solos, ou em fluxo nas águas superficiais (Shiklomanov, 1993).

A figura seguinte aponta as regiões de menor e maior estresse hídrico no mundo. A América do Sul se apresenta como uma região de baixo estresse, sendo o Brasil o de maior disponibilidade de água doce do mundo – 13% do volume (World Bank).

Grande parte desse volume de água no Brasil se encontra em aquíferos subterrâneos, outra parte está  na vasta rede de rios, córregos, riachos e igarapés do território. Importante destacar que duas das  áreas de maior estresse hídrico coincidem com as de maior população  como a China  e a Índia.

 

A produção de alimentos no mundo

O mundo tem 1,87 bilhões de hectares de lavouras para alimentar 7,8 bilhões de habitantes.

A produtividade de cada país varia muito em função do tipo de solo, clima e regime de chuvas, tipo e qualidade dos cultivos produzidos bem como tecnologia empregada.

As maiores extensões cultivadas no mundo, pela ordem, são a da Índia, dos Estados Unidos, da China e da Rússia com 36% de área em todo o planeta. O Brasil aparece em quinto lugar seguido do Canadá, da Argentina, da Indonésia, da Austrália e do México. A Europa dedica mais de 60% de suas terras à agricultura e à pecuária não tendo, portanto, mais capacidade de expansão significativa.

Importante notar que, entre os grandes produtores, o Brasil detém uma das menores taxas de ocupação, ou seja 7,6%, ou 66 milhões de hectares.

Os Cinco Grandes

Considerando-se a complexa questão relacionada às exigências do mundo moderno quanto ao uso de recursos naturais, utilização do território para produção de alimentos, geração de energia e preservação do meio ambiente, verificamos que a maioria dos países não possui capacidade para atender a tais demandas, seja por falta ou exaustão do uso do território, por estresse hídrico, reduzida população ou capacidade econômica.

Adotando como critério a extensão territorial maior que 2 milhões de km2, população superior a 100 milhões e PIB superior a US$ 1 trilhão, apenas 27 países detém um ou mais destes critérios.

Blocos Regionais como a União Europeia ou qualquer outro bloco comercial, ainda que sejam importantes mercados consumidores, apresentam entraves em suas relações internacionais refletidas nas suas integrações políticas. Há ainda questões relativas à sua própria segurança (OTAN, por exemplo) e soberania.

12 Países com mais de 2 milhões km2: Argélia, Argentina, Arábia Saudita, Austrália, Brasil, Canadá, China, Cazaquistão, EUA, Índia, Congo, Rússia;

14 Países com mais de 100 milhões de habitantes: Bangladesh, Brasil, China, Egito, Etiópia, EUA, Filipinas, Índia, Indonésia, Japão, México, Nigéria, Paquistão e Rússia;

16 Países cujo PIB é superior a US$ 1 Trilhão: Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Espanha, França, EUA, Indonésia, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Rússia;

Somente cinco países preenchem cumulativamente os três critérios acima de extensão territorial, população e PIB. São eles: Rússia, Índia, China, Estados Unidos e Brasil.

É sobre esses “cinco grandes” que passaremos agora a comparar.

A Situação dos cinco Grandes

Uma das bases de todo Estado Nacional é o seu território. Os seus recursos naturais e o uso que dele se faz são determinantes para o grau de desenvolvimento de cada país.

Assim, analisaremos cada um dos cinco grandes confrontando-os. A expectativa é a de se apresentar o quanto cada um poderá suprir as demandas mundiais com o uso de seu território, considerando a escassez de água, a produção de alimentos, a exploração dos recursos naturais e a geração de energia.

 

 

 

 

A Federação Russa

A Rússia é o país de maior extensão territorial com 17.130.000 km2. Possui mais de 20 mil km de fronteiras e 37 mil km de costa (Oceanos Ártico e Pacífico, mares Negro e Cáspio).

É membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e detentora de artefato nuclear. Tem reafirmado o seu poder militar no conflito com a Ucrânia e discute a soberania das Ilhas Curilas com o Japão.

Uso do território

A Rússia tem a sua posição geográfica entre o trópico de Câncer e o Círculo Polar Ártico. Seu território é constituído por duas grandes planícies: a Planície Russa, do extremo oeste russo até encontrar os Montes Urais e após este até o Cáucaso, ao sul; e a Planície Siberiana Ocidental.

A maior parte da topografia da Rússia não chega aos 200 metros. A exceção fica com uma região circundante à cidade de Moscou. Já a Planície Siberiana Ocidental só supera os 200 metros em sua porção sul, estando a maior parte da sua área abaixo dos 100 metros.

O extremo norte do território compõe-se de terras inférteis, desertos gelados e neves perpétuas. À medida em que se encaminha para latitudes em direção do Trópico de Câncer, apresenta climas temperado e polar, e biomas como taiga, tundra, e estepes dificultando o cultivo em grande parte do território devido às baixas temperaturas (no inverno em torno de -50 graus Celsius). As extensas planícies são compostas, predominantemente, por estepes no sul e por densas florestas no norte.

Por esta razão, é na porção mais ao sul e oeste (Moscou) do país que se concentram as principais cidades e aglomerados populacionais do país com 78% da população. Os territórios do Extremo Oriente, que compõem um terço do espaço geográfico da Rússia, possuem apenas 6,2 milhões de habitantes, o equivalente a menos de 4,5% de toda a população russa e um terço da população de Moscou.

Sendo uma das principais exportadoras de madeira, a Rússia é detentora das maiores reservas florestais do mundo. Possui  41 parques nacionais, 101 reservas biológicas, 40 reservas da biosfera da UNESCO, 266 espécies de mamíferos e 780 espécies de aves no país. Por esta razão, sua vegetação encontra-se em segundo lugar em sequestro de carbono perdendo apenas para a Floresta Amazônica.

 

O Uso da Água

O território russo é formado por enormes planícies, cortadas por milhares de rios, corpos d'água e lagos – o maior, o mais importante e profundo é o Lago Baikal – o que permite que os seus rios fluam com tranquilidade, facilitando a navegação e o seu uso na irrigação, exceto no período frio em que se dá o congelamento.

Com nascentes nas regiões elevadas nos arredores de Moscou, o Rio Volga (3.530 km), maior rio europeu e o mais importante da Rússia e o Don (1.870 km) desaguam, respectivamente, nos mares Cáspio e Negro. Ainda compões a rede hidrográfica russa os rios Ob (3.650 km) e o Ienissei (4.090 km) que desaguam no Ártico e o Lena (4.400 km), já no platô Siberiano.

Desta forma, o país detém a segunda maior reserva do planeta, atrás apenas do Brasil, abrigando 25% da água doce líquida do mundo, o que concede ao país uma vantagem comparativa importante na produção de bens e serviços.

 

Produção de Alimentos

Com vastas planícies e planaltos, a Federação Russa possui a quarta maior área de terras aráveis do mundo, correspondendo a 10% do total de sua área. Utiliza essas terras (tchernozion) para as culturas de trigo, cevada, aveia e centeio, ocupando 7.4% de seu território em uma extensão de 130 milhões de hectares, com uma produtividade média de 1960kg. Juntas, Ucrânia e Rússia, são responsáveis por 30% da produção mundial de trigo.

Contando com uma relevante criação de bovinos, suínos e galináceos, em praticamente todo o território, ainda assim necessita importar grandes volumes de proteína animal para sua segurança alimentar.

Com acesso a três oceanos, o Atlântico, o Pacífico e o Ártico, as frotas pesqueiras da Rússia são uma das principais contribuintes do suprimento mundial de pescado, situando-se na sexta posição.

Ainda que seja uma grande produtora de alimentos, é dependente da importação de produtos agrícolas. Ciente das dificuldades, o estado russo vem desenvolvendo políticas e tecnologias que permitam otimizar a produção de alimentos a par das condições climáticas e características de solo.

Como política fundiária, o governo russo aporta em uma área equivalente a 1/3 de todo o seu território, no extremo oriente, massivos investimentos estatais para povoá-lo. A densidade demográfica é muito baixa (4,5%) e uma lei de 2016 doa aos cidadãos do país um hectare desde que se comprometam a torná-los produtivos em um período de cinco anos.

Matriz Energética

A vasta rede hidrográfica russa é composta pelos principais rios, Volga, Lena, Ob, Amur e Ienissei, que garantem um baixo grau de estresse hídrico embora tenham na matriz energética uma baixa contribuição.

A matriz energética russa é largamente baseada em sua grande produção de combustíveis fósseis com 68% de participação, seguida de igual proporção entre a nuclear e a hidráulica (16%). Além disso, o país é o segundo maior produtor de petróleo do mundo, com uma produção de 9,5 milhões de barris por dia.

Recursos Minerais

Um grande território só poderia conter expressivas e variadas reservas minerais. Calcula-se em torno de 20.000 depósitos minerais já catalogados, mas apenas um terço está em desenvolvimento de produção. Por esta razão, a indústria mineradora é a segunda maior da Rússia, atrás apenas das indústrias do petróleo e do gás, contribuindo com aproximadamente 4% do PIB. Já o setor petrolífero é responsável por cerca de 14% do PIB. 

A Rússia é uma grande produtora de zinco, níquel, paládio, cobre, ferro, alumínio (cerca de 14% no mundo) e potássio além de grande volume de carvão, petróleo, gás e derivados. Da receita de exportação dessas commodities, principalmente para a Europa, depende, em grande parte, as suas divisas.

 

REPÚBLICA DA ÍNDIA

A Índia é um país asiático com extensão territorial de 3.287.000 km2 e uma costa marítima de 7517 km, banhada pelo Oceano Índico, Mar Arábico e pelo Golfo de Bengala. Possui fronteiras com a China, Paquistão, Nepal, Bangladesh, Butão e Mianmar. Existem graves problemas na região da Caxemira com os seus vizinhos China e Paquistão, todos detentores de artefato nuclear.

Considerada a maior democracia do mundo e membro da Commonwealth, a Índia é uma sociedade dividida em castas com enormes desigualdades sociais.

Diante de seus limitados recursos naturais, tem feito grandes investimentos em grandes polos tecnológicos para Pesquisa e Desenvolvimento em energia, alimentos, informática, física, matemática, dentre outros. É líder mundial na produção cinematográfica.

As suas principais indústrias são: têxtil, maquinaria, produtos químicos, aço, transportes, cimento e mineração. As principais exportações incluem os derivados de petróleo, alguns produtos têxteis, pedras preciosas, software, engenharia de bens, produtos químicos, peles e couros. Entre as principais importações estão o petróleo cru, maquinarias, joias, fertilizantes e alguns produtos químicos.

 

Uso do Território

Com o seu território dividido em quatro grandes regiões, o Himalaia (o sistema montanhoso mais importante é a cordilheira do Himalaia), as planícies fluviais do Norte, o planalto do Decão e os Gates Orientais e Ocidentais, a Índia abriga grande variedade de mamíferos, de aves e de répteis além de enorme diversidade de vegetação.

Por ações antrópicas, a cobertura vegetal remanescente, composta por savanas, bosques tropicais úmidos e desertos, é estimada em 12%. Varia de florestas úmidas até florestas temperadas de coníferas no Himalaia e os bosques caducifólios[1] da Índia Oriental e do centro-sul, dos Gates Ocidentais e do noroeste indiano.

O regime de chuvas na Índia é muito dependente do ciclo das monções. O gradiente de temperatura do continente e do oceano determina a direção do fluxo dos ventos alísios. Os ventos secos do continente para o mar marcam o período de grande estiagem. No sentido contrário-mar-co