Category: Liturgia
Neste tema incluimos artigos sobre algum ponto de Liturgia, como também a publicação dos textos litúrgicos, como Missas, Rituais etc.
E o mundo? Que rumo tomará esse monstro de complexidade e de diversidade, que rosna em todos os tons a vanglória de suas conquistas, para logo, em todos os timbres gemer as misérias das mesmíssimas glórias; e o mundo? o mundo?
Ainda uma vez estamos nós, caro leitor, enquanto por aqui andamos, no limiar da Semana das semanas, a Semana Santa, onde a alma antes de se rejubilar com os hinos da Ressurreição, contempla e sofre a Paixão do seu Senhor.
Todos que possuem rudimentos de iniciação da Sagrada doutrina sabem que foi na Quinta-feira Santa, véspera de sua morte na cruz, que o Cristo Nosso Senhor instituiu o sacramento da Eucaristia (Mt. XXVI, 20-25); (Mc. XIV, 17-21); (Luc. XXII, 14-20); (Jo. XIII, 18-30) e (1 Cor. XI, 23-26).
A vida cristã vista com os critérios do mundo parece um disparate; e quanto mais perto seguirmos as pegadas de nosso Salvador mais bem fundada parece a exclamação do Apóstolo: — “Escândalo para os judeus, loucura para os gentios.”
“Nós, porém, nos gloriamos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossa salvação, nossa vida e nossa ressurreição...” (Gal. VI, 14). Estas palavras do Apóstolo Paulo, que estão no Intróito da Missa de hoje, dão-nos o diapasão, o lá fundamental para afinação de todos os muitos movimentos de nossa alma.
No torvelinho das horas e dos dias convém considerarmos, vez por outra, os marcos imóveis, os sinais da eternidade.
À primeira vista parece que não precisa da especial comemoração da Quinta-feira Santa quem todos os dias se acerca da Mesa do Senhor com a familiaridade da doce monotonia. Precisa tanto e talvez mais do que os menos assíduos. A vida religiosa é principalmente trabalho de Deus em nós, mas também é, logo depois, trabalho nosso, colaboração de obediência que consiste, principalmente, em nos desnaturalizarmos deste velho mundo cuja figura vai passando, para nos sobrenaturalizarmos no mundo novo, na única verdadeira e eterna novidade que Jesus nos trouxe. Daí a necessidade de uma contínua e monótona perseverança combinada com a singularidade dos atos extraordinários; ou daí a necessidade de certos choques, de excepcionais descargas para quem já vive aquela perseverança.
Editorial da Permanência
A comemoração litúrgica da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que na dor consumou nosso resgate, é uma lição repetida, é uma sabatina dos dois lados essenciais de nossa vida: o lado Cruz em que Nosso Senhor assumiu todas as nossas dores, convidando-nos a assim nos associarmos à sua obra, e descarregou com seu sangue a tensão de inimizade entre o homem e Deus; o lado Ressurreição com que ultrapassa tudo quanto poderíamos desejar. Para descrever o contraste da obra redentora São Paulo nos diz que “onde abundou o pecado superabundou a graça”, de onde poderíamos tirar várias conclusões de júbilo transbordante: onde abundaram tristeza e lágrima, superabundou a alegria. Ainda vemos essa alegria da Glória no lumem fidei, na lamparina da Fé que nos mostra tudo em sinais enigmas; mas um dia, se não opusermos a nossa vontade à vontade de Deus, veremos tudo o que estava escondido, e tudo resplandecerá no lumem Gloriæ.
A Igreja nos desdobra o maravilhoso panorama das várias lições que vitalmente interessam, ou deviam interessar aos seus filhos, e assim reaviva nas várias estações do ano litúrgico certas noções que deveriam ser companheiras de todos os passos de nossa vida. Assim é a Quaresma. Segundo ensina nosso pai São Bento, a vida inteira do monge deveria ser uma quaresma ininterrupta.
Não sei se já observaram uma curiosa peculiaridade dos evangelhos desta semana da Páscoa. No Domingo da Ressurreição temos a seqüência de Marias narrando a piedosa iniciativa das duas Marias e o espanto delas quando viram removida a pedra do sepulcro e um jovem luminosamente vestido de branco a explicar que ressuscitara aquele a quem buscavam. E o moço mostrava o sepulcro vazio às duas Marias espantadas. Na segunda-feira temos a narração, a meu ver a mais bela história do mundo, do encontro dos dois peregrinos de Emaús.