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Preâmbulo

Durante o Angelus de 15 de outubro de 2017, o Papa Francisco anunciou a sua intenção de organizar um Sínodo especial sobre a Amazônia. O Sínodo iniciará no dia 6 de outubro em Roma, e terá a participação dos bispos de sete Conferências Episcopais sul-americanas.

O Documento Preparatório (DP) foi redigido durante uma reunião de dois dias, que ocorreu em Roma nos dias 12 e 13 de abril de 2018. O Documento foi publicado em 8 de junho juntamente com um questionário. O trabalho concreto de preparação desse documento foi realizado pela Rete Ecclesiale Panamazzonica (REPAM), fundada em Brasília em 2014.

As respostas ao questionário dadas por diferentes realidades eclesiais de base foram enviadas aos presidentes das sete Conferências Episcopais (Antilhas, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), que, por sua vez, os remeterem ao Secretariado do Sínodo.

Nessa etapa, a REPAM organizou 2.600 eventos, nos quais participaram 87.000 pessoas: durante esses encontros, os participantes discutiram os resultados dos questionários e as sínteses propostas pelas Conferências Episcopais.

Todo esse material foi em seguida confiado à oito peritos, quatro provenientes da região amazônica, e quatro de Roma, os quais redigiram o texto final do Instrumentum Laboris. Claro, outras reuniões e seminários de estudo do Instrumentum Laboris se seguiram, entre os quais um congresso particularmente importante ocorreu em Washington, entre os dias 19 e 21 de março de 2019.

O texto do Instrumentum Laboris (que doravante chamaremos de IL) está dividido em três seções: a primeira parte chamada de “A voz da Amazônia”, a segunda parte de “Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres”, a terceira parte de “Igreja profética na Amazônia: Desafios e esperanças”. 

Antes de começar nossa breve análise do texto, façamos uma observação preliminar sobre o método empregado: como se pode notar, optou-se por partir de baixo para cima, ou seja, o documento final é o resultado da compilação do questionário e de uma série incontável de reuniões preparatórias. É o método que o Papa já empregou nos sínodos precedentes, como o da família e o dos jovens. Estamos diante de uma espécie de democracia eclesiástica radical, com um apelo contínuo ao povo, que é instado a preparar um “caderno de queixas” com tudo o que espera da Igreja, exprimindo quais mudanças deseja. No fundo, é o método de toda revolução, a partir, justamente, da revolução francesa de 1789. É um método perigoso, completamente contrário à natureza da Igreja e jamais visto em toda a sua história. A Igreja católica é essencialmente “Magistra” — ela possui a verdade em sua plenitude, guarda uma doutrina imutável e o seu dever é o de ensinar a todos os povos. Ela não é uma instituição meramente humana que deve fazer sondagens sobre a maneira de adaptar um serviço às exigências de seus clientes. Dada a relação entre Igreja Docente (o Papa e o episcopado subordinado e unido a ele) e a Igreja Discente, não faz sentido algum inverter os termos da relação e pensar que é esta que deverá ensinar àquela o que precisa ser feito ou ensinado. Estamos diante de uma verdadeira reviravolta com respeito à relação que deveríamos ter com a Autoridade e, como veremos adiante, esse é o coração do documento e, em realidade, trata-se do centro da interpretação muito pessoal e heterodoxa que o Pontífice tem do papel e dos deveres da Igreja.

Mas, é útil colocar ainda a seguinte questão: 34 milhões de pessoas vivem na Amazônia, das quais 3 milhões são índios, vivendo num território de 7,5 milhões de quilômetros quadrados. Trata-se, portanto, de uma quantia inexpressiva de habitantes, equivalente a pouco mais da metade dos habitante da Itália, mas espalhados num território 22 vezes maior que o italiano. Oras, por que tanta ênfase na sorte do catolicismo nessa região particular, quantitativamente irrelevante no que se refere à Igreja católica? Não há problemas mais urgentes, como por exemplo a profundíssima descristianização dos estados outrora católicos? Não há problemas gigantescos no domínio da bioética que necessitariam de sínodos extraordinários, como por exemplo os problemas do aborto, da eutanasia, das uniões contrárias à natureza? Por consequência, não nos parece temerário supôr que a inquietude por 3 milhões de índios espalhados na imensa floresta amazônica tenha uma outra origem, e venha de estratégias ecologistas promovidas pelos grandes poderes do mundo inteiro, e dos quais a Igreja se tornou porta-voz e caixa de ressonância, dado o seu papel de autoridade moral, domesticada e controlada, é verdade, mas ainda influente sobre muitos, e bastante útil para emprestar um verniz de espiritualidade à ditadura global que está aos poucos sendo instaurada. Em suma, o Papa é utilizado como uma Greta 1 de luxo, para ser usada por povos estupefatos que são pouco a pouco esmagados.

Analisemos agora os pontos essenciais do documento.

  1. 1. Referência à ativista sueca mirim Greta Thunberg. (N. da P.)
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