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Art. 12 — Se a paixão deve ser atribuída à sua divindade.

 O duodécimo discute-se assim.  Parece que a paixão de Cristo de ser atribuída à sua divindade.

1. — Pois, diz o Apóstolo: Se eles o conhecessem não crucificariam nunca ao Senhor da Glória. Ora, o Senhor da glória é Cristo, na sua divindade. Logo, a paixão de Cristo devia lhe ser atribuída àdivindade.
 
2. Demais. — O princípio da salvação humana é a divindade, segundo aquilo da Escritura: Mas a salvação dos justos vem do Senhor. Se, logo, a paixão de Cristo não lhe pertencesse àdivindade, parece que nenhum fruto podia produzir para nós.
 
3. Demais. — Os judeus foram punidos pelo pecado de matarem a Cristo, como homicidas do próprio Deus, o que mostra a grandeza da pena em que incorreram. Ora, tal não se daria se a Paixão não fosse atribuída à divindade. Logo a paixão de Cristo lhe pertencia à divindade.
 
Mas, em contrário, diz Atanásio: O Verbo, enquanto Deus é impassível. Ora, o impassível não pode padecer. Logo, a paixão de Cristo não lhe devia ser atribuída à divindade.
 
SOLUÇÃO. — Como dissemos a união entre a natureza divina e a humana realizou-se na pessoa, na hipóstase e no suposto, permanecendo, porém a distinção das naturezas. De modo que é a mesma a pessoa e a hipóstase da natureza divina e da humana, salva, contudo a propriedade de uma e outra natureza. Por isso, como dissemos, ao suposto da natureza divina foi atribuído a Paixão, não em razão da natureza divina, que é impassível, mas em razão da natureza humana. Por isso diz a epístola sinodal de Cirilo: Quem não confessar que o Verbo de Deus sofreu na sua carne e foi na sua carne crucificado, seja anátema. Logo, a Paixão de Cristo deve ser atribuída ao suposto da natureza divina, em razão da natureza passível assumida e não em razão da natureza divina impassível.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Diz-se que o Senhor da glória foi crucificado, não enquanto Senhor da glória, mas enquanto homem passível.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz um sermão do Concílio Efesino, a morte de Cristo, foi à morte de um Deus, por causa da união na pessoa; por isso destruiu a morte, porque quem sofria era Deus e homem. Mas a natureza de Deus não padeceu nenhum detrimento, nem nenhum sofrimento por não ter passado por qualquer mudança.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como no mesmo lugar se acrescenta, os judeus não crucificaram somente um homem, mas foi o próprio Deus que fizeram o objeto das suas ofensas. Assim, suponde um príncipe que dá instruções e as formula em uma carta, que envia às suas cidades. Se algum insubmisso rasgasse a carta, seria condenado à morte, não por ter assim procedido, mas porque, desse modo, desfez as instruções mesmas do príncipe. Os judeus não devem, portanto considerar-se em segurança, como se tivessem crucificado apenas o homem. O que viam era uma como carta; e o que nela estava oculto era o Verbo imperial, nascido da natureza, e não proferido pela língua. 
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