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Art. 14 — Se Deus conhece os enunciáveis.

(I Sent., dist. XXXIII, a. 3; dist. XLI, a. 5; I Cont. Gent., cap. LVIII, LIX; De Verit., q. 2, a. 7).
 
O décimo quarto discute-se assim. — Parece que Deus não conhece os enunciáveis.
 
1. — Pois, conhecer os enunciáveis é próprio da nossa inteligência, enquanto compõe e divide. Ora, no intelecto divino não há nenhuma composição. Logo, Deus não conhece os enunciáveis.
 
2. Demais. — Todo conhecimento se realiza por alguma semelhança. Ora, em Deus, não há nenhuma semelhança dos enunciáveis, pois, é absolutamente simples. Logo, Deus não conhece os enunciáveis.
 
Mas, em contrário, a Escritura (Sl 93, 11): O Senhor conhece os pensamentos dos homens. Ora, os enunciáveis existem no pensamento dos homens. Logo, Deus conhece os enunciáveis.
 
SOLUÇÃO. — Como está no poder do nosso intelecto formar os enunciáveis, e como Deus sabe tudo o que está no seu poder, ou no da criatura, como dissemos1, é necessário Deus conheça todos os enunciáveis, que podemos formular. Mas, como ele conhece as coisas materiais, imaterialmente, e as compostas, simplesmente, assim, conhece os enunciáveis não como tais, de maneira que haja no seu intelecto a composição ou a divisão deles; senão que conhece cada um por simples inteligência, inteligindo-lhes a essência. Como se nós, por isso mesmo que inteligimos o que é o homem, inteligíssemos tudo o que do homem se pode predicar. O de que não é capaz a nossa inteligência, que discorre de um termo para outro; pois, a espécie inteligível representa um objeto, porque não representa outro. Por isso, inteligindo o que é o homem, não inteligimos ao mesmo tempo, mas, numa certa sucessão, o mais que nele existe; donde, o que inteligimos separada e divididamente, é necessário reduzi-lo à unidade, compondo e dividindo, formando assim a enunciação. Ora, a espécie do intelecto divino, i. é, a sua essência, basta para explicar tudo; por isso, inteligindo a sua essência, conhece as essências de todas as coisas, e tudo o de que são susceptíveis.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A objeção procederia se Deus conhecesse os enunciáveis, como tais.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A composição do enunciável significa alguma realidade do objeto; e, assim, Deus, pelo seu ser, que é a sua essência, é semelhança de tudo aquilo significado pelos enunciáveis.
  1. 1. Q. 14, a. 9.
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