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Espiritualidade (180)

A Semana Santa

JÁ ESTÁ À VENDA!

MISSAL DA SEMANA SANTA

 

Texto Latim-português - Canto Gregoriano
do Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa

Entre em nossa loja aqui

 

 

 


A SEMANA SANTA

Dom Lourenço Fleichman OSB

Enquanto a vida segue seu rumo, e uma aparência de normalidade retoma seu lugar no dia a dia dos homens, os bastidores da Igreja se agitam, paira no ar um perfume de mistério e de sublimidade.

Objetos são consertados, outros pintados, lustrados, verificados. Rapazes cuidam da liturgia, o coro ensaia com insistência e perseverança. Tudo deve estar pronto em poucas semanas, porque o Esposo há de chegar no meio da noite, ouviremos o grito: "saiam com vossas lâmpadas acesas para receber o Senhor para as bodas". 

Não queremos ser contados no número daquelas virgens loucas, negligentes a ponto de não levarem o azeite juntamente com as lamparinas. Ao contrário, queremos o cortejo, almejamos nosso lugar na fila, a honra de acompanhar Nosso Senhor nos passos de sua Paixão. Em pouco tempo estaremos às portas da Semana Santa, no centro da vida litúrgica da Igreja. Após as rudes semanas de jejum e penitência que formam a Quaresma, é justo que Nosso Senhor se incline sobre as almas com suas mãos carregadas de graças e presentes espirituais.     Leia mais

Retiro de Santo Inácio

RETIRO ESPIRITUAL

DE SANTO INÁCIO

PETRÓPOLIS  

QUINTA-FEIRA 4 DE FEVEREIRO

A TERÇA-FEIRA 9 DE FEVEREIRO

PARA OS HOMENS

 

Inscrições pelo e-mail capela@capela.org.br ou tel: 21-2616.7462

R$ 350,00

O pagamento pode ser feito pela conta da Capela N. Sra da Conceição

Itaú - Agência 1638 - Conta: 06869-0  -  CNPJ: 39.845.995/0001-27

50% na inscrição - o restante na semana do retiro ou no local

Ao se inscrever você receberá as informações precisas de endereço e outras questões práticas.

Em 5 dias, no silêncio e na meditação, o fiel alcança um maior conhecimento de si mesmo, base necessária para a conversão diária e para a dilatação da Caridade. A obra dos Retiros espirituais é uma das armas mais eficazes contra os erros modernos e a perda das almas.

 

 

Retiros Espirituais de Santo Inácio

Estamos numa situação muito difícil. A corrupção causada pelo mundo moderno chegou a tal ponto que as pessoas vivem sem vida sobrenatural, achando que estão no caminho da salvação. Não percebem mais o quanto estão mergulhadas em seus defeitos dominantes, sem um padre para lhes orientar ou, quando têm o padre, não aceitam ir muito longe nas descobertas das sombras que obscurecem a alma e a luz do Evangelho em nós.

Nunca os homens tiveram tanta necessidade de Retiros Espirituais. Pois no silêncio e na meditação, apesar de já não terem o costume disso, podem chegar a conclusões importantes sobre si mesmos, sobre suas atitudes em relação a Deus e ao próximo. E com isso, terem uma chance de conversão mais profunda, que os leve longe de todo pecado mortal, abrindo novas perspectivas na busca da santidade.

Ao passar 5 dias meditando e rezando, iniciamos essa busca de uma vida mais próxima da vontade de Deus, aprendemos práticas de oração e leituras que nos ajudam a manter a vida espiritual durante o resto do ano, nos aconselhamos com um padre sobre como combater contra o defeito dominante, ou como solucionar uma grave situação da nossa vida.

 PETRÓPOLIS (RJ) - 2014 - PARA HOMENS

  DE QUINTA-FEIRA 27 DE FEVEREIRO (18:00)

a

TERÇA-FEIRA 4 DE MARÇO (depois do almoço)

Pregadores: Dom Lourenço Fleichman OSB e Pe. Luiz Cláudio Camargo (FSSPX)

Vejam que haverá necessidade de pedir folga no trabalho na sexta-feira antes do Carnaval. Caso tenha dificuldades com o horário, entre em contato conosco. (capela@capela.org.br - 21-26162504)

Valor : R$ 300,00

INSCRIÇÃO: envie um e-mail para     capela@capela.org.br

indicando Nome completo - data de nascimento - cidade em que mora - telefone celular
Enviaremos em seguida a programação e as indicações práticas

OUTROS RETIROS NO BRASIL

Para Mulheres    - São Paulo

Data: de 28 de fevereiro a 5 de março/2014 (carnaval)

Local: Casa de retiros Nossa Senhora no Cenáculo, em Taboão da Serra (mapa aqui)

Custo: R$ 300

O retiro será pregado pelo Pe. Rodolfo Vieira e pelo Pe. Alejandro Rivero.

Mais informações ou para se inscrever: (11) 4301-8939 ou clique aqui

 

Para Homens   - Santa Maria/RS

Data: de 6 a 11 de janeiro/2014

Local: Priorado de Santa Maria

O retiro será pregado pelo Pe. Luiz Cláudio Camargo e pelo Pe. Alejandro Rivero.

Mais informações: (55) 3028-3896

 

"Assim como passear, caminhar ou correr são exercícios corporais, também se chamam Exercícios Espirituais os diferentes modos da pessoa se preparar e se dispor a tirar de si todas as afeições desordenadas para encontrar a Vontade de Deus, dispondo sua vida para a salvação de sua alma".  (Sto Inácio)

A Imaculada Conceição e o plano de Deus

Pe. José Maria Mestre

 

  

Celebramos hoje a festa da Imaculada Conceição, ou seja, o privilégio que a Virgem Maria recebe, no momento mesmo de sua concepção no seio de sua mãe, Santa Ana, de ver-se livre do pecado original. Este dogma celebra, pois, a primeira vitória total contra o pecado, porque significa isenção de todo o poderio do pecado e do demônio sobre a alma bem-aventurada de Maria; vitória de Cristo, único Salvador do gênero humano, pois a Imaculada Conceição foi concedida a Maria em vista dos méritos de Cristo em sua Paixão e morte.

Gostaria de considerar, por ocasião desta festa, dois pontos: em primeiro lugar, o aspecto combativo e atual deste dogma; em segundo, como, por este dogma, se nos revela o grandioso plano de Deus de redimir o gênero humano por um Homem e uma Mulher.

 

 

1º Aspecto combativo e atual da Imaculada Conceição.

 

Em 1917, a Maçonaria celebrou em Roma seu segundo centenário. Por todas as partes, apareceram bandeiras e cartazes que representavam o Arcanjo São Miguel vencido e derrubado por Lúcifer; e, na mesma praça S. Pedro, podia-se escutar o seguinte slogan: « Satanás reinará no Vaticano, e o Papa tomará parte em seu corpo de guarda! ».

 

O irmão Maximiliano Kolbe, franciscano conventual polaco, era então estudante de teologia na Gregoriana de Roma. Ante essas demonstrações de audácia do inimigo, pergunta-se: « Por que os católicos tem de ser tão pusilânimes na defesa de sua fé, enquanto os inimigos são tão audazes em atacá-la? Não possuímos nós armas mais eficazes que eles, o Céu e a Imaculada?» E meditando nas Sagradas Escrituras e nos Santos Padres, inspirando-se nos escritos dos santos marianos, especialmente São Luís Maria de Montfort; considerando o dogma da Imaculada e as aparições de Nossa Senhora de Lurdes, e a extensão prática de todas estas verdades, chega a esta conclusão: « A Virgem Imaculada, vitoriosa contra todas as heresias, não cederá ante seu inimigo que levanta a cabeça; se encontrar servidores fiéis, dóceis às suas ordens, logrará novas vitórias, muito maiores do que poderíamos imaginar... ».

 

E funda assim, em 16 de outubro de 1917, três dias apenas após o milagre de Fátima, a Milícia da Imaculada. O emblema desta nova milícia será a Medalha Milagrosa. Sua exigência, a consagração total à Imaculada Mãe de Deus, para viver praticamente esta consagração. Seu fim, arrancar as massas das garras de Satanás e pedir à Imaculada a conversão dos inimigos da Igreja, especialmente os mações.

 

Se São Maximiliano Kolbe dá a sua Milícia o nome de Milícia da Imaculada, é também, e é preciso sabê-lo, porque a definição do dogma da Imaculada Conceição, em 1854, por Pio IX, apresenta um aspecto combativo que os inimigos da Igreja souberam discernir em seguida, e que nós não devemos esquecer. Com efeito, em 1854, estão em plena circulação todos os princípios do Contrato Social de Rousseau, que iriam levar ao estabelecimento universal desta grande mentira que é a democracia e os direitos humanos. Qual é o cimento de todas estas fábulas, de todas estas mentiras em que, de tão boa fé, crê o homem moderno? Um só: o dogma da imaculada conceição... do gênero humano. Postula-se que o homem é bom por natureza, que o homem nasce bom e que é a sociedade quem o corrompe. Sem este postulado latente, todo o sistema social revolucionário cai.

 

Ora, Pio IX, com sua definição dogmática, o põe por terra. Pois, ao definir a Imaculada Conceição de Maria, não faz senão assentar o seguinte: a imunidade do pecado original, longe de ser uma lei geral, válida para todos os homens, é, ao contrário, o privilégio único e exclusivo de uma única criatura, que é a Santíssima Virgem Maria. E que, portanto, para os demais homens, segue vigente o pecado original, com todas as conseqüências que ele implica: a necessidade de um Redentor, a que devem submeter-se todos os homens; a necessidade da autoridade, da graça, dos sacramentos, da Igreja, da educação, da família e da necessidade, enfim, da ordem social cristã, concebida e construída especialmente para curar os homens que nascem sob o pecado original... A necessidade, pois, de tudo o que pretendiam negar os revolucionários.

 

2º O plano de Deus na economia da Redenção.

 

Mas, se nos aprofundarmos um pouco, veremos que o dogma da Imaculada Conceição, especialmente comemorado no Advento, no começo da celebração dos mistérios de Cristo, revela o plano de Deus na obra de nossa Redenção. Com efeito, nos mostra, antes de Cristo, o Novo Adão, Maria, em toda a plenitude de sua santidade, como Nova Eva. A cena do Evangelho é, a este propósito, muito sugestiva.

 

Deus quis que o gênero humano fosse propagado segundo a carne por um homem e uma mulher. Também quis que, na ordem sobrenatural, fosse restaurado por um Homem e uma Mulher.

 

Ou seja, a obra da Redenção é concebida ao modo de uma vingança divina, como no-lo ensinam unanimemente os Santos Padres.

 

O plano de Satanás foi o de perder o homem e, como ele, toda sua descendência, através da mulher, escudando-se nela, dissimulando-se por trás dela. Eva teve, assim, na ordem da queda, um papel de introdução, de preparação e de colaboração.

 

O plano de Deus será o de salvar a humanidade através de um Homem, um Novo Adão, mas com a colaboração de uma Mulher, uma Nova Eva. O Novo Adão é Cristo, a Nova Eva, Maria. Maria tem, assim, na ordem da redenção e por vontade divina, um papel de introdução (encarnação), preparação (Caná) e de colaboração (em todos mistérios de Cristo, mas especialmente, no Calvário).

 

Para cumprir de modo conveniente esta missão, que era de luta e vitória contra o diabo, era preciso que Maria não tivesse parte alguma com ele, que fosse Imaculada: Imaculada para ser digna Mãe do Redentor; Imaculada para poder ser a Corredentora do gênero humano; Imaculada para ser, em toda a linha, associada à obra de santificação do Redentor.

   

 

Conclusão.

 

Assim o vemos. O dogma da Imaculada Conceição nos mostra, ainda que em esboço e preparação, a Santíssima Virgem totalmente entretida com a obra da Redenção, da qual Ela mesma é o primeiro fruto, e o mais bem acabado. E, portanto, nos mostra a Santíssima Virgem totalmente entretida com a Igreja Católica, com a nossa própria vida espiritual, com a de nossas famílias e sociedades.

 

Deus guardou o bom vinho para o final. A visão grandiosa do papel de Maria e a intervenção extraordinária da Virgem Santíssima na obra da Redenção, que há de se fazer muito mais visível no final dos tempos, é uma graça que Deus reservou para o fim, para o momento em que a Igreja, como o grão de mostarda, tenha já crescido muitíssimo e, com ela, o conhecimento, o amor, a honra e o serviço à Santíssima Mãe de Deus.

 

Por isso, ofereçamo-nos hoje à Santíssima Virgem, entreguemo-nos totalmente a Ela. Vivemos em tempos muito perigosos, tempos em que o demônio anda totalmente à solta; mas esses tempos também hão de ser, e forçosamente o serão, tempos da Imaculada que esmaga a cabeça do demônio. E também nós somos chamados a tomar parte na inimizade da Mulher contra a Serpente, e de sua vitória contra o demônio: à condição, no entanto, de sermos, plena e voluntariamente, descendência de Maria.

 

 

Na festa da Imaculada Conceição de Maria, 8 de dezembro

 

 

 

A devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês

Parece difícil o rude combate pela fé? Quantos descobrem a verdade, recebem a graça de ver os graves erros de Vaticano II e, depois, não têm coragem ou forças para perseverar no bom combate. O que lhes falta? Eles estudam, passam horas na internet em bate-papos e leituras, mas mesmo assim, fraquejam. Falta-lhes talvez o essencial: vida de oração e fé, no sentido de levar sempre nossos pensamentos e nossas conclusões para as causas sobrenaturais da Revelação e da Santa Igreja. Ora, a Virgem Maria veio nos ensinar o caminho da última batalha pela conquista do céu. A devoção ao Imaculado Coração de Maria é a Cruzada dos últimos tempos. Comecemos logo, e o mais simples de tudo, é a prática da devoção aos 5 primeiros sábados do mês(Nota da Permanência).

 

 

 

Preâmbulo

 

 

Os dois pedidos de 13 de julho de 1917.

 

A 13 de junho de 1917, a Santíssima Virgem disse à Lúcia: “Jesus quer estabelecer no mundo a devoção do meu Imaculado Coração”. Depois os três pastorzinhos viram Nossa Senhora tendo em sua mão direita um coração cercado de espinhos. Compreenderam que era o Coração Imaculado de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que pedia reparação.

 

No dia 13 de julho, a rainha do céu repetiu as mesmas palavras e as esclareceu fazendo dois pedidos concretos e precisos: “Se fizerem o que vou vos dizer, muitas almas serão salvas e haverá paz. [...] Voltarei para pedir a consagração da Rússia ao meu Coração Imaculado e a devoção reparadora dos primeiros sábados (do mês).”

 

De fato, Nossa Senhora realizou perfeitamente sua promessa:

 

- Ela veio pedir expressamente a consagração da Rússia à irmã Lúcia, em Tuy, na Espanha, em 13 de junho de 1929:

 

É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena pelos pecados contra mim cometidos, que venho pedir reparação:  sacrifica-te por esta intenção e ora.

 

- Quanto à devoção reparadora dos primeiros sábados do mês, Nossa Senhora veio explicar à Lúcia, no dia 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra na Espanha, onde a vidente era jovem postulante à vida religiosa, nas irmãs dorotéias. Em dezembro de 1927, irmã Lúcia, por ordem de seu confessor, escreveu um relatório dessa aparição, mas por humildade, escreveu este texto na terceira pessoa:

 

Dia 10 de dezembro de 1925, apareceu-lhe a Santíssima Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A Santíssima Virgem pondo-lhe no ombro a mão, mostrou-lhe ao mesmo tempo um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos. Ao mesmo tempo disse o Menino: “Tem pena do Coração de tua Santíssima Mãe que está coberto de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar”. Em seguida, disse a Santíssima Virgem: Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.”

 

Notemos que se o ato de consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria depende diretamente da boa vontade da autoridade hierárquica da Igreja (papa e bispos), a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês foi pedida a todos os católicos. Desta prática depende a salvação de muitas almas e mesmo a paz do mundo. Daí a importância de todo aquele que é batizado, saber exatamente em que ela consiste.

Mas antes, vejamos como a divina Providência preparou as almas para receber esta devoção.

 

Premissas de uma devoção

 

Nossa Senhora, quando pediu à irmã Lúcia, em 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra, a prática da devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês, não estava inovando: este pedido celeste aparece como o apogeu de um movimento de piedade nascido muito tempo antes e encorajado pela Santa Sé desde de 1889.

 

Sábado, dia consagrado especialmente à Santíssima Virgem

 

Esta tradição  imemorável data, com toda certeza, dos primeiros séculos da Igreja: a presença da Missa de Nossa Senhora nos Sábados,1  no missal romano de São Pio V, de 1570, mostra a antigüidade desta prática que consiste em honrar especialmente a Santa Mãe de Deus nesse dia da semana, depois de ter consagrado o dia da sexta feira para comemorar a paixão de Nosso Senhor e os sofrimentos de seu Sagrado Coração.

 

Foi apoiando-se nesta piedosa tradição que os membros das Confrarias do Rosário habituaram-se a consagrar especialmente à Nossa Senhora, quinze sábados consecutivos de cada ano litúrgico: durante esses quinze sábados, eles se aproximavam dos sacramentos e cumpriam exercícios de piedade particulares em honra dos quinze mistérios do santo rosário. Em 1889, o papa Leão XIII concedeu a todos os fiéis uma indulgência plenária a ser ganha durante um desses quinze sábados.

 

O primeiro sábado do mês

 

Foi com o grande papa São Pio X que a devoção dos primeiros sábados do mês foi aprovada e encorajada por Roma.. Em 10 de julho de 1905, ele indulgenciou pela primeira vez esta devoção:

 

“Todos os fiéis que, no primeiro sábado ou primeiro domingo de doze meses consecutivos, consagrarem algum tempo com a oração vocal ou mental em honra da Virgem Imaculada em sua Conceição ganham, cada um desses dias, uma indulgência plenária. – Condições: confissão, comunhão e oração nas intenções do soberano pontífice”.

 

A devoção reparadora dos primeiros sábados do mês.

 

Em 13 de junho de 1912, São Pio X concedia novas indulgências à devoção dos primeiros sábados do mês, insistindo muito na intenção reparadora com a qual esta devoção devia ser praticada:

 

“A fim de promover a devoção dos fiéis para a gloriosa e imaculada Mãe de Deus, e para favorecer o piedoso desejo de reparação dos fiéis (et ad fovendum pium reparationis desiderium) diante das blasfêmias execráveis proferidas contra o seu augusto nome e as celestes prerrogativas desta mesma bem-aventurada Virgem, Pio X, papa pela divina Providência, dignou-se conceder uma indulgência plenária, aplicável às almas dos defuntos, no primeiro sábado de cada mês, por todos aqueles que, nesse dia, se confessarem, comungarem, cumprirem exercícios particulares de devoção em honra da bem-aventurada Virgem Maria, em espírito de reparação como indicado acima (in spiritu reparationis, ut supra) e rezarem nas intenções do soberano pontífice. 2

 

Notemos a providencial coincidência das datas: 13 de junho de 1912, são cinco anos, dia por dia antes da segunda aparição de Nossa Senhora em Fátima, durante a qual os três pastorinhos testemunharam a primeira grande manifestação do Imaculado Coração de Maria vendo-o “cercado de espinhos que pareciam enterrados nele”. “Compreendemos, escreveu Lúcia sobre isto em 1941, na sua quarta Memória, que era o Imaculado Coração de Maria  ultrajado pelos pecados da humanidade que queria reparação”.

 

Os termos empregados por São Pio X anunciam quase exatamente os termos do pedido de Nossa Senhora em Pontevedra, em 1925: nos dois casos, é sublinhada a extrêma importância da intenção reparadora, única capaz de afastar e apaziguar a cólera de Deus.

 

Em Fátima e em Pontevedra, Nossa Senhora não é, pois, inovadora: ela veio dar a ratificação do Céu e um novo impulso a um movimento de piedade mariano enraizado na mais pura tradição católica, para encorajar a todos nós, a participarmos dele.

 

A intenção reparadora, chave desta devoção.

 

Respondamos, primeiramente, a uma objeção que muitas vezes escutamos da parte de pessoas pouco esclarecidas no domínio da fé. Essas pessoas contestam esta devoção afirmando que ela se opõe à perseverança na vida cristã: com efeito, dizem, bastaria praticar uma só vez na vida a devoção reparadora para ter assegurado sua salvação eterna; depois, as almas poderiam fazer o que quisessem, deixar a prática religiosa e cair nos piores pecados, pois estariam de qualquer maneira salvos para a eternidade! É fácil refutar esta objeção: uma alma que cumprir a devoção reparadora com tal espírito não obteria a graça da perseverança final, ligada por Nossa Senhora a esta prática, já que ela não a faria com reta intenção (condição indispensável a todos nossos atos religiosos e de devoção, para receber as bênçãos e graças de Deus) nem com o cuidado de reparar e consolar o Coração de Maria! Tal prática equivaleria, ao contrário, em abusar gravemente da misericórdia de Deus, utilizando a promessa da salvação eterna feita por Nossa Senhora para legitimar todos os pecados que fossem cometidos em seguida; isto é o pecado de presunção de sua salvação que é um dos sete pecados contra o Espírito Santo!

 

Reparar pelos pecadores.

 

As almas que querem praticar a devoção dos primeiros sábados do mês conforme a vontade do Céu, devem fazê-la na intenção geral de reparar e consolar Nossa Senhora, em substituição dos pobres pecadores que ultrajam e blasfemam contra ela: trata-se, por caridade fraterna, de “implorar o perdão e a misericórdia em favor das almas que blasfemam contra Nossa Senhora porque, a essas almas, a misericórdia divina não perdoa sem reparação”.3 Foi isso que afirmou Nosso Senhor a Lúcia em 29 de maio de 1930, depois de ter revelado as cinco espécies de ofensas e de blasfêmias que se trata de reparar (infra):

 

Eis, minha filha, porque motivo o Imaculado Coração de Maria me inspirou  para pedir esta pequena reparação e em consideração a ela, comover minha misericórdia  para perdoar às almas que tiveram a infelicidade de ofendê-lo. Quanto a ti, procure sem cessar, por tuas orações e teus sacrifícios, comover minha misericórdia em relação às pobres almas.”

 

Esta intenção reparadora, movida pela caridade fraterna, deveria nos dar um grande zelo para cumprir a devoção dos primeiros sábados não apenas cinco vezes em nossa vida, para assegurar a salvação pessoal, mas cada  primeiro sábado, a fim de permitir a salvação  eterna do maior número possível de pecadores. Porque aí está um dos grandes objetivos da devoção reparadora ao Imaculado Coração de Maria: “salvar almas, muitas almas, todas as almas”.4

 

Ora, o conjunto de acontecimentos sobrenaturais de Fátima, Pontevedra e Tuy nos mostra claramente e repetidas vezes, que são muitas as almas condenadas à eternidade:

 

- A 13 de julho de 1917, os três pastorinhos têm a visão do inferno, que está longe de ser um lugar vazio:

Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo [...]. Mergulhado nesse fogo, os demônios e as almas [...] almas flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas, que delas mesmas saíam, com nuvens de fumo caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e de desespero que horroriza e fazia estremecer de pavor. 5

 

- A 19 de agosto de 1917, no fim da aparição, Nossa Senhora diz aos três videntes:

Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores; que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas. 6

 

- A 13 de junho de 1929, na aparição de Tuy, Nossa Senhora concluiu a teofania trinitária com a qual Lúcia foi gratificada, por essas terríveis e surpreendentes palavras:

 

São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra mim cometidos que venho  pedir reparação. Sacrifica-te por esta intenção e reza.

 

Irmã Lúcia sempre afirmou que o número de almas danadas era muito grande. Ela conclui assim sua carta para um jovem, tentado a abandonar o seminário: “Não se surpreenda se falo tanto do inferno. Esta é uma verdade que é necessária lembrar muito nos tempos presentes, porque é esquecida: é um turbilhão de almas que caem no inferno. Então, o senhor não acha que são bem empregados todos os sacrifícios que é preciso fazer para não ir para lá e para impedir que muitos outros caiam lá?”.7 E ao Padre Lombardi que, em outubro de 1953, a interrogou sobre o inferno, ela respondeu: “Padre, numerosos são aqueles que são condenados.[...] Padre, muitos, muitos se perderão.”

 

Obter a conversão de um pecador

 

É também louvável e frutífero praticar esta devoção para obter a conversão desse ou daquele grande pecador de nossas relações. A carta da irmã Lúcia ao bispo titular de Gurza, de 27 de maio de 1943, já citada, esclarece muito bem sobre o poder e eficácia sobrenatural da devoção aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria:

 

Os Santíssimos corações de Jesus e Maria amam e desejam este culto [para com o Coração de Maria] porque dele se servem para atrair todas as almas a eles e isto é tudo o que desejam: salvar as almas, muitas almas, todas as almas”. Nosso Senhor me dizia, há alguns dias: “Desejo ardentemente a propagação do culto e da devoção ao Coração de Maria porque este Coração é o ímã que atrai as almas para mim, a fornalha que irradia na terra os raios de minha luz e de meu amor, fonte inesgotável de onde brota na terra a água viva de minha misericórdia”.

 

Pondo toda sua confiança no Imaculado Coração de Maria, muitos católicos portugueses praticaram a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados em favor de um próximo, grande pecador e bem afastado da vida cristã. Entre outros, este belo testemunho de uma senhora de Guimarães (norte de Portugal), publicado no boletim de agosto de 2001 da Cruzada Eucarística das crianças de Portugal: esta mulher conta que ela tinha um irmão repatriado de Moçambique, que era um revoltado e um blasfemador. Tinha abandonado a esposa legítima para viver com outra mulher, da qual tinha dois filhos. Para obter do Imaculado Coração de Maria a sua conversão, sua irmã fez por ele e em seu lugar, a devoção dos cinco primeiros sábados do mês:

No começo de agosto de 1981, meu irmão estava muito mal. Quando lhe perguntaram se queria ver um padre, proferiu blasfêmias contra os padres. Como a doença se agravava, deu entrada em um hospital de Braga. Os outros doentes diziam que ele não tinha um momento de repouso, nem de dia, nem de noite e que não deixava ninguém em paz. Para grande estupefação de todos, em 18 de agosto de 1981, pediu várias vezes um padre. Dois padres vieram administrar os últimos sacramentos. Imediatamente depois que eles saíram inclinou a cabeça para o lado e morreu. Sem dúvida, foi o Coração Imaculado de Maria que salvou meu pobre irmão, que fora tão pecador. Não queria olhar para ele depois de morto, temendo ver seu rosto deformado como o tinha durante sua doença. Mas não pude resistir e me aproximei durante a missa, que teve lugar na capela do hospital. Ele não parecia o mesmo homem! Estava tão bonito, sorridente. Parecia que sua amargura se transformara em alegria”.

 

O que é preciso fazer

 

Uma alma cristã que deseje realizar perfeitamente a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês deve fazer, durante cinco primeiros sábados consecutivos, na intenção geral de reparar seus próprios pecados e os de toda a humanidade, junto ao Coração Imaculado de Maria, quatro atos diferentes de piedade:

 

1 -  A confissão, que pode ser antecipada, até mesmo mais de oito dias, se for impossível ou muito difícil se confessar no primeiro sábado. O mais importante é ter a intenção, se confessando, de reparar o Coração Imaculado de Maria. (É preciso também, naturalmente,  estar em estado de graça no primeiro sábado do mês a fim de fazer uma boa e frutífera comunhão.) A intenção reparadora deve ser dita ao confessor? Irmã Lúcia nunca mencionou se é preciso dizer alguma coisa ao padre. Uma formulação interior, puramente mental, é suficiente. Nosso Senhor até mesmo acrescentou que aqueles que esquecessem de formular a intenção reparadora “poderão formulá-la na confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem para se confessar.” 8

 

2 – Recitação do terço: Nossa Senhora, em Fátima, insistiu muito na recitação quotidiana do terço. Foi esse o único pedido que ela repetiu para as crianças em todas as seis aparições, de 13 de maio a 13 de outubro de 1917: nesse dia revelou aos pastorinhos sua identidade: “Sou Nossa Senhora do Rosário”. Não é, pois, de espantar que a recitação do rosário seja encontrada na devoção reparadora dos primeiros sábados . Além disso, como não existe oração vocal mais mariana do que o terço, convém que este seja integrado a essa devoção já que se trata de reparar as ofensas feitas à Nossa Senhora e a seu Coração Imaculado.

 

3 – Os 15 minutos de meditação sobre os 15 mistérios do rosário: Trata-se de “fazer companhia a Nossa Senhora durante15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do rosário, em espírito de reparação”. Isto não quer dizer que se deva meditar todo primeiro sábado sobre os 15 mistérios em sua totalidade, passando um minuto em cada mistério. Ao contrário, cada alma está livre para organizar seu quarto de hora de meditação como entender, desde que o objeto da meditação seja os mistérios do rosário. Algumas almas preferirão meditar o mesmo mistério durante vários primeiros sábados, outras um mistério diferente cada primeiro sábado, outras ainda três mistérios cada primeiro sábado (cinco minutos por mistério), etc. Sendo as almas diferentes umas das outras, é normal que tenham gostos e necessidades espirituais diferentes; é por isso que a Igreja sempre teve o cuidado de deixar aos fiéis uma grande amplidão para cada um organizar sua vida espiritual.

 

4 – A comunhão, que é o ato essencial da devoção reparadora. Para compreender bem toda sua importância, convém colocá-la em paralelo com a comunhão das nove primeiras sextas-feiras do mês, pedidas pelo Sagrado Coração em Paray-le-Monial e com a comunhão milagrosa dos três pastorinhos de Fátima, no outono de 1916: o Anjo da Guarda de Portugal deu então a esta comunhão um espírito eminentemente reparador, repetindo seis vezes com as crianças (três vezes antes da comunhão e três vezes depois) as palavras que são chamadas a segunda oração do Anjo:

 

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”

No contexto da atual crise da Igreja é certo que esta intenção reparadora toma uma nova dimensão: quantas irreverências, sacrilégios são causadas pela reforma litúrgica de Paulo VI: não apenas pela comunhão dada na mão, como também distribuída a todos os assistentes sem nunca lembrar a necessidade do estado de graça; pela supressão das marcas de adoração ao Santíssimo  Sacramento, etc. Hoje, a comunhão dos primeiros sábados deve ser feita para reparar todas essas profanações.

 

Um último ponto importante: a prática da devoção reparadora em seu conjunto “será aceita no domingo que segue o primeiro sábado, quando meus padres, por motivos justos, o permitirem às almas.”9

 

É pois, aos padres, e não à consciência individual de cada um, que Jesus confia o cuidado de conceder esta facilidade suplementar, tão misericordiosa. Por essa concessão, talvez Nosso Senhor fizesse alusão a estes tempos em que estamos, onde não é sempre fácil aos fiéis assistir à verdadeira missa no sábado. Em todo caso, esta disposição torna mais fácil a prática da comunhão reparadora para os católicos fiéis de hoje.

 

Disposições requeridas

 

É muito simples praticar a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês. Está ao alcance de toda alma que põe um mínimo de generosidade na base de sua vida cristã, ainda mais que o Céu deu uma grande amplidão para a confissão e a comunhão. Infelizmente, muitas vezes, a ignorância, a moleza espiritual e a negligência se conjugam para afastar as almas, mesmo as mais fiéis, desta prática que, no entanto, é tão salutar, já que Nossa Senhora a ligou à perseverança final e à salvação eterna: “Prometo assisti-las na hora da morte com todas as graças necessárias à sua salvação.” 10

 

A desproporção entre a pequena devoção pedida (os primeiros sábados de cinco meses  consecutivos, uma só vez na vida!) e a graça prometida (a salvação eterna de sua alma) ilustra de maneira estrondosa o grande poder de intercessão concedido à Virgem Maria para a salvação de nossas almas: Nossa Senhora é verdadeiramente, em virtude de sua maternidade divina, nossa advogada e nossa medianeira junto ao coração de Deus. Padre Alonso,  claretiano espanhol que foi o grande especialista de Fátima até sua morte em 1982, escreveu sobre este assunto:

 

A grande promessa [da salvação eterna] não é nada mais do que uma nova manifestação deste amor de complacência da Santíssima Trindade para com a Virgem Maria. Para aquele que compreende isto é fácil admitir que a humildes práticas estejam ligadas maravilhosas promessas. Ele se entrega então filialmente à elas com um coração simples e confiante na Virgem Maria.” 11

Em algumas linhas o Padre Alonso nos desvenda algumas boas disposições necessárias para fazer bem esta devoção:

 

- uma grande simplicidade e humildade de coração;

- uma devoção marial inteiramente filial e cheia de confiança.

 

O Menino Jesus, aparecendo à irmã Lúcia em 15 de fevereiro de 1926, nos dá a terceira disposição necessária:

 

- um fervor profundo.

 

Com efeito, nesse dia, irmã Lúcia dirigiu estas palavras ao Menino Jesus:

 

Mas meu confessor dizia em sua carta que esta devoção não fazia falta ao mundo porque já havia muitas almas que  vos recebia  todo primeiro sábado, em honra de Nossa Senhora e dos quinze mistérios do rosário”.

 

O Menino Jesus lhe respondeu:

 

É verdade, minha filha, que muitas almas começam, mas poucas vão até o fim; e aquelas que perseveram, não fazem para receber as graças que estão prometidas. As almas que fazem os cinco primeiros sábados com fervor e com o fim de reparar o Coração de tua Mãe do Céu me agradam mais do que aquelas que fazem quinze, sem ardor e indiferentes”.

 

Para falar agora da quarta disposição requerida para esta prática é preciso lembrar que o Céu nos pede cinco primeiros sábados de cinco meses consecutivos, e não nove, doze ou quinze. Porque este número? Lúcia perguntou a Nosso Senhor durante uma Hora Santa, em 29 de maio de 1930, em Tuy, e lhe foi respondido:

Minha filha, o motivo é simples. Há cinco espécies de ofensas e de blasfêmias proferidas contra o Coração Imaculado de Maria:

 

1 – as blasfêmias contra a imaculada conceição da Virgem Maria;

2 – as blasfêmias contra sua virgindade;

3 – as blasfêmias contra sua maternidade divina, recusando ao mesmo tempo reconhecê-la como mãe dos homens;

4 – as blasfêmias daqueles que procuram publicamente por no coração das crianças a indiferença ou o desprezo, ou mesmo o ódio em relação a esta Mãe imaculada;

5 – as ofensas dos que a ultrajem diretamente nas suas santas imagens.

Ai está, minha filha, o motivo pelo qual o Coração Imaculado de Maria me inspirou para pedir esta pequena reparação”.

 

Como, hoje em dia, não pensar nos ataques à dignidade, aos privilégios, às honras devidas à Virgem Maria, perpetradas pelos próprios homens da Igreja? Lembremos o que se passou no concilio Vaticano II, onde, longe de definir a mediação universal e a corredenção de Nossa Senhora, como muitos pediam, os bispos progressistas conseguiram fazer rejeitar o esquema sobre a Virgem Maria para pô-lo como simples anexo no esquema sobre a Igreja e isto para agradar aos protestantes; triste concílio, onde nem mesmo um só texto cita o terço como devoção a ser encorajado junto aos fiéis. Seguiu-se uma diminuição considerável do culto mariano em toda a Igreja. A impiedade da nova religião para com Nossa Senhora é certamente para ser incluída na intenção reparadora daqueles que praticam a devoção dos primeiros sábados.

 

Notemos que as três primeiras espécies de blasfêmias que se trata de reparar vão contra três dogmas de fé definidos. Pode-se então acrescentar uma quarta disposição às três já citadas:

 

- convém fazer esta devoção reparadora com espírito de fé e para pedir a Nossa Senhora a insigne graça de conservar a verdadeira fé católica em nossas almas, até a hora da nossa morte, no meio da apostasia geral do mundo que nos cerca, nutrido por utopias malsãs, de revoltas e de impiedade.

                                                                      

Tomemos a peito reparar a honra de Nossa Senhora, tão ultrajada pela ingratidão dos homens e para isso utilizemos a devoção que ela mesmo veio nos indicar, pedindo-lhe com insistência e perseverança as boas disposições de alma para bem praticá-la.

 

 Revista Le Sel de la Terre, nº 53

  1. 1. De Beata Maria Virgine in sabbato
  2. 2. AAS, t. 4, 1912, p 623.
  3. 3. Carta de irmã Lúcia de 31 de março de 1929.
  4. 4. Carta de irmã Lúcia em 27 de maio de 1943 ao bispo titular de Gurza
  5. 5. Terceira  Memória de irmã Lúcia, 31 de agosto de 1941
  6. 6. Quarta memória, 8 de dezembro de 1941.
  7. 7. Citado por A.  M. MARTINS, Cartas da Irmã Lúcia,  Porto. 1979, p.122.
  8. 8. Aparição de Nosso Senhor a irmã Lúcia em 15 de fevereiro de 1926
  9. 9. Aparição de Nosso Senhora a irmã Lúcia , na noite de 29 para 30 de maio de 1930.
  10. 10. De Nossa Senhora à irmã Lúcia em 10 de dezembro de 1925.
  11. 11. Padre Joaquim Maria ALONSO, La gran promesa Del corazon de Maria en Potevedra, Madri, Centro Mariano, 1977, p.45.

A vida mística de Francisco e Jacinta de Fátima

Lúcia, Jacinta e Francisco eram, antes de 1916, crianças católicas do vilarejo de Aljustrel, na diocese de Leiria, Portugal. Brincavam como todas as crianças, gostavam de jogos e de dançar animados, enquanto pastoreavam as ovelhas da família. Viviam um catolicismo verdadeiro, porém como muitas crianças, limitavam-se ao mínimo necessário. Lúcia conta que às vezes, para que o terço passasse mais depressa, em vez de rezar as orações completas, limitavam-se a dizer: Pai Nosso, Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria.... Ora, para que estas alminhas, inocentes e comuns, pudessem ter a honra de ver Nossa Senhora, um anjo lhes aparecerá por três vezes, fazendo dessas crianças verdadeiras almas de oração.

 

Vamos acompanhar a transformação.

 

Estamos em 1916.

 

Na primavera deste ano (março ou abril), Lúcia, Jacinta e Francisco estavam na Loca do Cabeço pastoreando as ovelhas quando viram um ser luminoso vindo em sua direção. Ele tinha os traços de um rapaz de 14 a 15 anos. O anjo lhes disse:

 

«Não tenham medo. Rezem comigo».

 

E num gesto de grande familiaridade e simplicidade, pôs-se ao lado das crianças e prostrando-se com o rosto por terra disse esta oração:

 

«Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-Vos; peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.

 

Orai assim; os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas» (2ª Memória).

 

E o anjo desapareceu.

 

Esta primeira aparição do anjo foi como uma aproximação do sobrenatural na vida das crianças. Servirá para familiariza-las com os seres e os costumes do céu: a adoração, os atos de fé, esperança e caridade, a reparação e o nome de Deus, deste Deus atento às suas súplicas. A própria Lúcia, na 4ª Memória, dirá que «Levados por um movimento sobrenatural, imitamo-lo e repetimos as palavras que o ouvimos pronunciar».

 

Nossos pastorinhos, doravante alunos do céu, sentirão imediatamente o peso da presença da vida sobrenatural. Passarão vários dias num estado de abatimento físico, de recolhimento, de um silêncio difícil de ser rompido e principalmente de paz interior.

 

«Acontece, porém, ainda depois de passado, ficar a vontade tão embebida e o entendimento tão absorto, que assim permanecem o dia todo e até vários dias...Quando volta a si, está com tão imensos lucros e tem em tão pouco as coisas da terra que todas lhe parecem cisco em comparação do que viu. Daí em diante vive muito penada, e tudo o que lhe costumava causar prazer não lhe infunde a menor consolação.» - Sta Tereza d'Avila, Castelo Interior, Sextas Moradas, cap. IV e V

 

Tinham dificuldade de brincar, de falar e até mesmo de se mover. Daí em diante eles passarão várias horas em oração, prostrados como o amigo do céu, repetindo: Meu Deus eu creio, adoro, espero e vos amo.... Só muitos dias depois que este estado de alma diminuirá pouco a pouco.

 

Eis como nos conta Lúcia, na 4ª Memória:

 

«A atmosfera do sobrenatural, que nos envolveu era tão intensa que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima, que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera, que só muito lentamente foi desaparecendo. Nesta aparição, nenhum pensou em falar, nem em recomendar segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima, que não era fácil pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos talvez também maior impressão por ser a primeira assim manifesta».

 

A segunda aparição foi no verão deste mesmo ano (julho ou agosto). Será a segunda lição de vida sobrenatural, centrada sobre o espírito de sacrifício. Após lhes dizer para rezar muito, o anjo acrescenta:

 

– Os Corações Santíssimos de Jesus  e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. E acrescenta: Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.

 

– Como nos havemos de sacrificar? pergunta Lucia.

 

– De tudo o que puderes oferecei a Deus sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a Paz....sobretudo aceitai e suportai com submissão os sofrimento que o Senhor vos enviar. (2ª Memória)

 

Eis, então, que Deus pede a Lúcia e seus companheiros muito mais do que na primeira vez. É normal que eles tenham perguntado ao anjo como se sacrificar. Para crianças daquela idade a palavra sacrifício tem um sentido limitado, infantil. Deus queria que eles fossem além. Por isso o anjo lhes ensina a se sacrificar, e traz para eles algumas noções até então ignoradas: ato de reparação pelos pecados, súplica pela conversão dos pecadores, aceitação das cruzes que Deus nos envia.

 

Que impressão causou esta nova lição do anjo, em suas almas? Lúcia nos conta:

 

«Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus; como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, e como ele lhe era agradável; como, por atenção a ele, convertia os pecadores. Por isso, desde esse momento começamos a oferecer ao Senhor tudo o que nos mortificava, mas sem discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, exceto a de passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos tinha ensinado». (4ª Memória)

 

Vemos neste texto a origem da grande mortificação das três crianças. Ela não nasceu de uma vontade mórbida qualquer, de um fanatismo fabricado pela imaginação; ela não lhes foi inspirada por nenhum sacerdote exagerado. A luz divina que invadiu suas almas as levou com mansidão e naturalidade a um conhecimento tal da vida divina, do olhar de Deus sobre nós, que eles não conseguiriam mais viver sem este espírito e prática do sacrifício reparador.

 

É de se notar que os efeitos da primeira aparição limitam-se a um estado de alma por certa presença do sobrenatural. Nesta, trata-se de um verdadeiro conhecimento de Deus e de seu relacionamento com suas almas.

 

Por aí se vê que é impossível proceder da imaginação. Também não pode ser obra do demônio, pois não tem ele poder para apresentar coisas que tanta operação e paz e sossego e aproveitamento produzem na alma. Especialmente três são os frutos que deixa em subido grau.

Primeiro: conhecimento da grandeza de Deus, a qual se nos dá a entender na medida das luzes maiores que temos sobre Ele.

Segundo:  conhecimento próprio e humildade, ao ver como criatura tão baixa em comparação do Criador de tantas grandezas, ousou ofendê-lo; até mesmo não sabe como se atreve a por nele os olhos.

Terceiro: baixo apreço de todas as coisas da terra, com exceção das que lhe podem ser úteis para serviço de tão grande Deus. - Sta Tereza d'Avila, Castelo Interior, Sextas Moradas, cap. V

 

A terceira aparição do Anjo levará a formação espiritual das crianças a um ponto altíssimo, onde a própria comunhão eucarística marcará a Caridade que Deus lhes comunica.

 

Estavam eles numa gruta de difícil acesso, para rezar escondidos. Estavam assim, prostrados, repetindo a oração do Anjo: "Meu Deus eu creio, adoro...etc."

 

«Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós bilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo, tendo na mão esquerda um cálice, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de sangue dentro do cálice. O Anjo deixa suspenso no ar o cálice, ajoelha junto de nós e faz-nos repetir três vezes:

 

         Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

 

Depois levanta-se, toma em suas mãos o cálice e a Hóstia. Dá-me a Sagrada Hóstia a mim, e o Sangue do cálice dividiu-O pela Jacinta e o Francisco, dizendo ao mesmo tempo: – Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus. E prostrando-se de novo em terra, repetiu conosco outras três vezes a mesma oração e desapareceu. Nós permanecemos  na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras, e quando nos erguemos vimos que era noite, e por isso horas de virmos para casa» (2ª Memória)

 

Na quarta Memória, Lúcia dá detalhes sobre as conseqüências desta última aparição do Anjo:

 

«A força da presença de Deus era tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. Nesses dias, fazíamos as ações materiais como que levados por  esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico que nos prostrava também era grande».

 

Um pouco antes ela escrevia: «Na terceira aparição a presença do sobrenatural foi ainda muitíssimo mais intensa. Por vários dias nem mesmo o Francisco se atrevia a falar. Depois dizia: Gosto muito de ver o Anjo; mas o pior é que depois não somos capazes de nada! Eu nem andar podia! Não sei o que tinha».

 

Era tanto o abatimento espiritual e corporal, era tal o  êxtase dessas crianças, que nem viram a noite chegar: «Apesar de tudo, foi ele (Francisco) que se deu conta das proximidades da noite. Foi quem disso nos advertiu e quem pensou em conduzir o rebanho para casa».

 

Procurei citar toda a passagem das Memórias de Lúcia devido ao seu caráter eminentemente sobrenatural. É muito difícil ler estas palavras e dizer que tudo foi invenção. Os detalhes de vida espiritual são muito fortes. Já estavam as crianças levadas espiritualmente à oração constante e mortificada. O Anjo lhes ensina uma oração nova, onde destacamos:

-          a adoração à Santíssima Trindade
-          o oferecimento de Jesus na Sagrada Hóstia como reparação
-          o Imaculado Coração de Maria medianeira de todas as graças, participando dos méritos do Sagrado Coração.

 

Lúcia conta que recebeu uma verdadeira hóstia. Jacinta recebe o Preciosíssimo Sangue sabendo que é a comunhão. Já Francisco não percebe de imediato que está comungando.

 

Só passados alguns dias, quando conseguem falar novamente, é que o menino pergunta:

 

«O Anjo, a ti deu-te a Sagrada Comunhão; mas a mim e à Jacinta, que foi o que ele nos deu?!

 

 Foi também a Sagrada Comunhão! respondeu a Jacinta numa alegria indizível. Não vês que era o Sangue que caía da Hóstia?!

 

E Francisco diz então estas palavras, que são a prova da veracidade das graças com as quais Deus enchia estas almas infantis:

 

«–Eu sentia que Deus estava em mim, mas não sabia como era!

 

E prostrando-se por terra, permaneceu por largo tempo, com sua irmã, repetindo a oração do Anjo: Santíssima Trindade...etc.».

 

Aqui se lhe comunicam todas três Pessoas, e lhe falam, e lhe dão a compreender aquelas palavras do Senhor no Evangelho, quando disse que viria Ele com o Pai e o Espírito Santo a morarem na alma que o ama e guarda os seus mandamentos... E cada dia se admira mais esta alma, porque lhe parece que as Pessoas Divinas nunca mais se apartaram dela; antes, notoriamente vê que, do modo sobredito, as tem em seu interior, no mais íntimo, num abismo muito fundo; e não sabe dizer como é, porque não tem letras, mas sente em si esta divina companhia.  - Sta Tereza d'Avila, Castelo Interior, Sétimas Moradas, cap. I

 

É no exemplo vivo desta criança que aprendemos o que muitos espirituais nos ensinam com palavras humanas e que nos torna difícil a compreensão do que seja a Santa Comunhão. Que extraordinária ação de graças fazem estas crianças, dias depois de receberem a comunhão, milagrosamente, das mãos de um Anjo, elevadas a um júbilo sobrenatural ao compreenderem que era Jesus escondido que os visitara.

 

A lição estava dada, a formação espiritual alcançara um grau em que já era possível que elas entendessem profundamente as graças que a Mãe do Céu viria lhes dar.

 

A história da vida de oração, da vida interior deles, apenas começava. E se foi com razão que disseram que o grande milagre de Lourdes foi a alma de Santa Bernadete, podemos dizer o mesmo destas três crianças, ou pelo menos das duas menores, visto que Lúcia ainda vive.

 

As aparições de Nossa Senhora

 

Chegamos ao dia 13 de maio de 1917.

 

Comecemos pela descrição que Lúcia nos faz na sua 4ª Memória. Transcrevo-a toda para os que nunca a leram. As crianças viram um reflexo de luz no céu, como um relâmpago, e com medo de uma chuva, vão tocando as ovelhas em direção à casa, quando vêem um segundo clarão e, logo depois, uma senhora sobre uma carrasqueira «Vestida de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio d'água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente...estávamos tão perto que ficávamos dento da luz que a cercava ou que ela espargia. Talvez a metro e meio de distância, mais ou menos». Esta proximidade com a luz  que dela saía tem sua importância pelo que virá.

 

«– Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.
– De onde é vossemecê? perguntei.
– Sou do Céu.
– E o que é que Vossemecê me quer?
– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.
– E eu também vou para o Céu? – Sim, vais.
– E a Jacinta?  – Também.
– E o Francisco? – Também, mas tem que rezar muitos Terços.»

 

Depois desta introdução, que segue com perguntas sobre as amigas de Lúcia já falecidas, Nossa Senhora dirá o que realmente quer das crianças, dizendo coisas parecidas com as palavras do Anjo, já conhecidas dos três. Não vemos aqui Nossa Senhora ensinando-os a rezar ou as crianças perguntando do que se trata. Tudo é claro e rápido:

 

– «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos.
– Ide pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

 

Dentro do nosso estudo das graças místicas das três crianças, temos os seguintes elementos nesta primeira aparição:

 
-          elas se encontram dentro da luz que emana da Virgem.
-          Nossa Senhora lhes pede sofrimentos e eles aceitam já sabendo do que se trata.
-          Ela confirma que sofrerão muito e terão o socorro especial da graça de Deus.

 

O que segue, é a conseqüência disso:

 

«Foi ao pronunciar as últimas palavras que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que nos penetrava no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos.»

 

Estando dentro da luz que emana de Nossa Senhora elas vêem, das palmas das mãos da Senhora, brotar mais luz ainda. E essa nova luz penetra no íntimo de suas almas, dando-lhes  um conhecimento que uma simples criança não poderia ter: conhecimento de si mesmos em Deus que era aquela luz. Ora, isso é o que acontecerá conosco no céu. Durante alguns instantes, que não foram demorados, mas também não foram muito rápido, elas estiveram no céu. O que mais impressiona é que elas não tenham morrido de amor, passando do êxtase para a glória. O fato é que a terra, naquele momento desapareceu para eles:

 

«Então, por um impulso íntimo, também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: "Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento". Passados os primeiros momentos Nossa Senhora acrescentou: Rezem o Terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra».

 

Nossa Senhora não repetiu para eles a oração. Ela brota da iluminação em que estão mergulhados. A Santíssima Trindade já era deles conhecida pela oração do Anjo, assim como o amor por Jesus escondido no Santíssimo Sacramento. Ambos lhes foram comunicados na terceira aparição do Anjo, quando as crianças comungam de suas mãos.

 

É preciso compreender que o que há de mais rico e elevado nesta aparição de Nossa Senhora está escondido no coração das crianças: «Omnis glóriae filiae Regis ab intus – toda a glória da filha do Rei vem do interior» (Sl.44). E a Virgem Maria permanece ali, no silêncio das colinas de Fátima, rodeada por três inocentes criancinhas, mergulhadas num êxtase de amor. Quanto tempo ficou ali a Mãe de Deus? Ninguém sabe.

 

Na verdade, o que Nossa Senhora comunicou às almas das crianças naquele momento foi algo diferente das aparições do Anjo: «A aparição de Nossa Senhora veio de novo a concentrar-nos no sobrenatural, mas mais suavemente. Em vez daquele aniquilamento na Divina presença, que prostrava mesmo fisicamente, deixou-nos uma paz e alegria expansiva que nos não impedia falar, em seguida, de quanto se tinha passado.» (4ª Memória).

 

E, de fato, os três falavam entre si com facilidade sobre o grande acontecimento. Jacinta será mesmo indiscreta, contando em casa o acontecido, o que será motivo de muito sofrimento e humilhações para os três.

 

«...foi ela que, não podendo conter em si tanto gozo, quebrou o nosso contrato de não dizer nada a ninguém. Quando, nesta mesma tarde, absorvidos pela surpresa, permanecíamos pensativos, a Jacinta, de vez em quando, exclamava com entusiasmo: Ai! que Senhora tão bonita!» (1ª Memória)

 

E Francisco também expansivo:

 

«Oh! Minha Nossa Senhora, terços rezo todos quantos Vós quiserdes!» E ainda: «Gostei muito de ver o Anjo; mas gostei ainda mais de Nossa Senhora. Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus! Mas Ele está tão triste por causa de tantos pecados. Nós nunca havemos de fazer nenhum.»

 

A vida dos pastores se transforma e seria muito longo nós comentarmos todas as impressionantes mortificações que eles farão, pela conversão dos pecadores, para que as almas não se percam no inferno, para consolar o Bom Deus já tão ofendido.

 

No entanto devemos marcar a vocação própria dos dois menores: Jacinta fica muito impressionada com o inferno, antes mesmo de terem a visão da terceira aparição; a pequenina pensa com freqüência nos pobres pecadores que sofrerão para sempre ali.

 

Francisco, o mais interior dos três, isola-se em oração, rezando o Terço, pensando sempre em consolar a Deus.

Mas as graças não param na primeira aparição. Suas almas ainda têm mais a aprender sobre Deus e sobre elas mesmas. E a lição de vida mística continuará na segunda aparição.

 

A Segunda Aparição: 13 de junho de 1917.

 

Tanto pelas palavras de Nossa Senhora quanto pela visão da luz que se irradia novamente de suas mãos, esta segunda aparição nos mostra a missão de cada uma delas e a  importantíssima revelação da devoção ao Imaculado Coração de Maria:

Queria pedir-lhe para nos levar para o Céu.
  Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá m ais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração.
  Fico cá sozinha? perguntei com pena.
  Não filha. E tu sofres muito?! Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio, e o caminho que te conduzirá até Deus.

 

Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o Céu, e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.» (4ª Memória)

 

Esta visão sublime e tão importante foi como um segredo que eles conseguiram guardar, pois tratava-se da vida deles. Só em 1941, ao redigir estas Quartas Memórias, é que irmã Lúcia revelará ao mundo esta luz.

 

Porém, o modo como Deus se serviu de seus inocentes amiguinhos para revelar ao mundo o Imaculado Coração de sua Mãe Santíssima é outra marca da grandeza dos acontecimentos de Fátima.

 

«Parece-me que neste dia, este reflexo teve por fim principal infundir em nós um conhecimento e amor especial para com o Coração Imaculado de Maria, assim como das outras duas vezes o teve, me parece, a respeito de Deus e do mistério da Santíssima Trindade.» (3ª Memória).

 

Vemos assim que não foi por causa da visão do Coração na palma da mão que os corações das crianças passaram a ter grande amor pelo Imaculado Coração, mas sim pela luz divina que lhes foi comunicada, com o conhecimento infuso da realidade de fé que se escondia por detrás daquela visão extraordinária. Devoção real, sólida, profunda, sem nada de sentimental. «Desde esse dia sentimos no coração um amor mais ardente pelo Coração Imaculado de Maria.A Jacinta dizia-me de vez em quando: "Aquela Senhora disse que o Seu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus. Não gostas tanto? Eu gosto tanto do seu Coração. É tão bom!» E antes de ir para o hospital ela insistia com Lúcia para não ter medo de, chegada a hora, dizer ao mundo que Deus queria a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

 

Não sei se as longas citações das Memórias de Irmã Lúcia nos desvia das considerações de ordem espiritual, no sentido da vida mística das crianças. Mas tudo o que foi citado mostra as principais etapas e acontecimentos que foram formando e elevando as suas almas.

 

Assim é que, entre a segunda e a terceira aparição aconteceu um fato de grande importância para o que estamos a tratar. Lúcia passa por uma grande noite da Fé. Ela, cheia de dúvidas, achando que tudo aquilo pode ser do demônio, e os seus priminhos chorando e sofrendo por ver a prima naquele estado. Grandes purificações para grandes almas. Todos os esforços foram vãos para convencer a mais velha, que só foi ao encontro por ter sido arrancada de sua casa por um impulso mais forte do que ela, indo encontrar os dois pequenos chorando de joelhos em sua casa. E Francisco dirá depois como se comporta os santos diante das grandes decisões: «Credo! Aquela noite não dormi nada; passei-a toda a chorar e a rezar para que Nossa Senhora te fizesse ir!» (4ª Memória)

 

Eles estavam, enfim, prontos para a grande revelação que Nossa Senhora queria lhes fazer.

 

A Terceira Aparição: 13 de julho de 1917.

 

A narrativa da terceira aparição nos afastaria do nosso assunto. Lembremos apenas que ela é o centro do conjunto de aparições e de fatos sobrenaturais que as três crianças assistiram:

- a visão do inferno para onde vão as almas dos pecadores
- o Imaculado Coração de Maria como remédio para salvar a humanidade desse inferno
- a Rússia, castigo para esse mundo pecador
- a terceira parte do segredo, que segundo testemunho de altas personalidades da Igreja, que a leram, fala da terrível crise de fé que assola o mundo e a Igreja desde o último Concílio.

 

O que mais nos interessa aqui é a impressão que lhes ficou da visão do inferno e das profecias ditas por Nossa Senhora: «Na terceira aparição, o Francisco pareceu ser o que menos se impressionou com a vista do Inferno, embora lhe causasse também uma sensação bastante grande. O que mais o impressionava ou absorvia era Deus, a Santíssima Trindade, nessa luz imensa que nos penetrava no mais íntimo da alma. Depois dizia: "Nós estávamos a arder naquela luz, que é Deus e não nos queimávamos! Como é Deus!...não se pode dizer! Isto sim, que a gente nunca pode dizer! Mas que pena Ele estar tão triste! Se eu O pudesse consolar!...» (4ª Memória)

 

Esta elevada e bela afirmação vem se juntar a todas as outras que já fizemos da vida de Francisco Marto, onde sua alma de criança e de santo se desenha com tanta clareza, inundada desta graça de vida mística, de vida perdida em Deus.

 

Jacinta, ela, viverá até o fim com esta visão do inferno diante de si, como um aguilhão que lhe dará sempre mais forças para sofrer: «A vista do Inferno tinha-a horrorizado  a tal ponto que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas... Algumas pessoas, mesmo piedosas, não querem falar às crianças do Inferno, para não as assustar; mas Deus não hesitou em mostrá-lo a três e uma de seis anos apenas, e que Ele sabia se havia de horrorizar a ponto de, quase me atrevia a dizer, de susto se definhar.

 

Com freqüência se sentava no chão ou nalguma pedra e pensativa começava a dizer: "O inferno, o inferno! Que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! E as pessoas lá, vivas, a arder como a lenha no fogo! E meio trêmula ajoelhava, de mãos postas, a rezar a oração que Nossa Senhora nos havia ensinado: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem".» (3ª Memória)

 

Muitas graças extraordinárias são descritas por Lúcia sobre seus primos. A visão que Francisco tem de um demônio, como o que eles viram na visão do inferno, a visão que Jacinta tem do Papa, bi-locação, as profecias sobre as modas que ofenderão a Deus. Um pouco antes de sua morte, Nossa Senhora aparece para ela e lhe pergunta se ela aceita continuar a salvar as almas do inferno. Todas elas são confirmações, conseqüências da elevação a um alto grau de santidade operada pelo aprendizado do Céu, desde as aparições do Anjo até a morte das duas crianças. Mas voltemos ao dia 13 de julho:

 

Quando Nossa Senhora chega sobre a azinheira, Lúcia fica muda, em êxtase, diante dessa luz intensa, da qual ela tinha duvidado. Foi Jacinta que a alertou: fale pois ela já está falando com você. Lúcia, sempre discreta sobre as graças recebidas por ela própria ficará sempre com saudades do céu, e quando ela manifestava isso a eles, Jacinta lhe lembrava que o Imaculado Coração de Maria seria o seu refúgio. Sua missão quase profética de anunciar a revelação do Imaculado Coração de Maria parece, aliás, ter começado ainda no dia da última aparição. Eis o que nos conta o Dr. Carlos Mendes:

 

«Quando o sol voltou ao normal, tomei Lúcia nos meus braços para leva-la até o caminho. Meus ombros foram assim o primeiro púlpito de onde ela pregou a mensagem que acabara de lhe confiar Nossa Senhora do Rosário. Com grande entusiasmo e Fé ela gritava: "Façam penitência, façam penitência! Nossa Senhora quer que façais penitência. Se fizerdes penitência a guerra acabará". Ela parecia inspirada. Era impressionante ouvi-la. Sua voz tinha entoações como a voz de um grande profeta

 

A Continuação

 

Depois da morte de Francisco e Jacinta, Lúcia continuará recebendo muitas graças e procurando desempenhar seu papel de testemunha da vontade de Nossa Senhora. No dia 10 de dezembro de 1925, apareceu-lhe a Santíssima Virgem e ao lado, suspenso numa nuvem luminosa, um Menino. Nossa Senhora pôs sua mão no ombro da religiosa e mostrou-lhe na palma da outra mão, seu Coração cercado de espinhos. Disse o Menino: "Tem pena do coração de tua Santíssima Mãe, que está coberto de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar."

 

E Nossa Senhora pede, então, que irmã Lúcia espalhe pelo mundo a devoção dos 5 Primeiros sábados do mês. A todos os que se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de desagravar ao Imaculado Coração de Maria, a boa Mãe do Céu promete assistir na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação. E mais tarde Nossa Senhora explicará porque pediu 5 sábados: porque são cinco as espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria:

-          blasfêmias contra a Imaculada Conceição
-          contra sua Virgindade
-          contra a Maternidade divina, e recusa de recebe-la como Mãe
-          os que procuram infundir nos corações das crianças a indiferença, o desprezo e até  o ódio para com esta Imaculada Mãe.
-          os que a ultrajam em suas sagradas imagens.

 

Os grandes mistérios revelados e vividos pelas criancinhas de Fátima continuam, portanto, diante de nós, diante do mundo indiferente. Cabe a cada um de nós tomar a iniciativa de se entregar ao amor desta incomparável Mãe, que trouxe o Céu até a terra, nas terras de Portugal, para a nossa salvação. Que os bem-aventurados Francisco e Jacinta de Fátima intercedam por nós, para que nós estejamos à altura deste amor Maternal que Nossa Senhora quer nos comunicar. Rezemos o Terço todos os dias.

 

 

 

 

 

 

O desemprego e a Cruz

E vem essa CNBB dos bispos do Brasil nos falar de desemprego, na linguagem marxista e materialista que lhe é costumeira. Quanta cegueira! O desemprego tem suas raízes numa crise que nem de longe é econômica: é a crise nascida no séc. XIV, que deu origem ao chamado Nominalismo, que levou os homens a abandonarem a "direita via", vivendo já no Humanismo que punha o próprio homem no centro dos seus interesses. Querem saber o próximo passo? É a quebra da Europa católica pelo protestantismo, é a Renascença, com seu pensamento e sua arte carregada de paganismo beato.

Nesta altura da vida da humanidade, o cristianismo medieval já tinha ficado para trás há séculos. E com ele, perdeu-se a noção de uma sociedade católica, onde os homens buscavam primeiro o Reino de Deus e sua Justiça, viviam pobremente, contentavam-se com pouco, mas eram felizes e alegres.

Estava eu neste pensamento quando tocou o telefone:

Dom Lourenço, a companhia onde eu trabalho está mandando dezenas de funcionários embora. Talvez eu perca o emprego!

O contágio!

É a única explicação. Estamos vivendo uma espécie de contágio que não atinge o corpo, mas as forças espirituais da alma. Na antiguidade, os homens iam acompanhando passo a passo o caminho da peste. Hoje levou um pai, amanhã, será a vez do vizinho, do pároco, do amigo.

Eram felizes, os antigos, porque morriam no flagelo. A nós está reservado sofrer uma terrível doença que penetra no fundo de nossas almas, que arrasta pouco a pouco, espalhando-se como um câncer, sem escolha, sem marcar dia nem hora. E o tormento perdura pelos anos a fio:

«E naqueles dias os homens buscarão a morte e não a encontrarão; desejarão morrer, e a morte fugirá deles» (Apoc. 9, 6)

Esta doença tem mais de uma característica. Ela começa pela cegueira espiritual, que leva as melhores pessoas a não verem que o mal está dentro de suas casas, dentro de suas vidas. E todos vão se divertir, e adotam os prazeres do mundo e suas riquezas, seu orgulho idiota contra a santidade da Igreja. Mal sabem eles que são peças de um jogo, escravos de uma ordem mundial, acéfala e monstruosa, saída direto das trevas do Inferno para o derradeiro combate contra o Rei do Céu e da Terra.

Depois de se entregarem a esta cegueira, entram na lógica do erro e, já sem forças, se vêem obrigados a amar as riquezas, as posições de destaque, as maravilhas do mundo:

– Faço sucesso, ganho muito dinheiro, sou bem sucedido, isso é meu direito!

– Já no meu caso, como não faço sucesso, como perdi meu emprego, tenho o direito de reclamar! Vou entrar na justiça!

É um vício. Se adquire pela prática constante dos mesmos atos, e pela adoção da espiritualidade moderna, que nada mais é do que escravidão aos desígnios do diabo.

Mas eles não enchergam e, pior, desejam viver assim.

Dentro deste contexto aparece o flagelo terrível que atinge a todos indiscriminadamente, bons e maus, ricos e pobres, brancos e pretos: o desemprego, que é filho do excesso de emprego.

Já ouço o clamor público, mas estou longe dele. Saí deste mundo e é do alto que procuro analisá-lo. Sem um certo recuo fica difícil conhecer a verdade dos fatos, como a beleza de um quadro.

Digo que é o excesso de emprego que gera o desemprego. Primeiro devido ao mundo materialista mergulhado no vício de possuir e gozar que descrevi acima. Depois, devido ao abandono da verdadeira noção de família, do papel de cada um na vida da sociedade. A mãe já não é mais mãe, a mulher já não é mais esposa. Não vou discutir isso agora, e peço às senhoras que não se levantem para essa discussão. Remeto-vos ao texto de Gustavo Corção que se encontra no cap. VI do livro As Fronteiras da Técnica, e que está editado aqui mesmo em A Vocação da Mulher. A verdade é que eles buscaram esta situação, derrubando os padrões da sociedade católica, ou pelo menos da moral católica, que ainda vigorava no início dos anos sessenta. Agora choram, choramingam, sem saber o que vai acontecer; lavam-se, escovam-se, como que querendo desgrudar do corpo essa lepra, mas ela não atinge o corpo e sim a alma.

«...e todo servo e livre se esconderam nas cavernas e entre os penhascos dos montes; e diziam aos montes e aos rochedos: caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que está sentado sobre o trono e da ira do Cordeiro; porque chegou o grande dia da ira de ambos, e quem poderá subsistir». (Apocalipse, VI, 16)

Remédio para o corpo, medicina, de nada vale.

Remédio para a alma. É o que é preciso. Mas o demônio, na sua esperteza, minou as forças da alma, ao longo dos anos, levando os homens a viver nesta miragem do mundo belo, cheio de prazeres e coisas lindas e gostosas. Viciou o homem, de modo que o remédio espiritual tem para ele, hoje, um amargor insuportável. E ele foge. E fugindo, perde a única tábua de salvação, que é o retorno aos parâmetros essenciais da vida humana: Deus e a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O que vou lhes dizer agora são pensamentos que me foram vindo diante de um mundo que beira a caduquice, a barbárie mais abjeta, a loucura coletiva. Não sou profeta do Apocalipse, apenas olho para o mundo que temos diante de nós com os olhos da objetividade, da clareza de um pensamento assentado em bases filosóficas e doutrinárias ensinadas ao longo de dois mil anos de catolicismo.

E pergunto: vocês vêem na atitude dos homens comuns, dos magistrados e governantes, dos padres, algo que lhes inspire confiança quanto ao futuro? Não digo certeza, digo inspirar uma certa e tênue esperança de que o caminho esteja certo.

Não tenho nada de pessimista, e devo lhes dizer que esta palavra nada significa quando nos deparamos com um mundo enlouquecido como está o nosso.

Eis o que vejo.

Nosso Senhor, na sua grande misericórdia, tem nos dado sinais de que está separando o joio do trigo. Ele ceifa neste momento e recolherá ao seu celeiro o grão bom, deitando fogo na palha e na erva daninha. E que sinais são esses?

O primeiro sinal é o flagelo da Aids que castiga os maus e purifica os bons no que toca a concupiscência da carne. Eis o que nos ensina S. Paulo: «Porque as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em outro uso, que é contra a natureza. E, do mesmo modo, também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam nos desejos, mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu desregramento.»

Com este flagelo, Deus nos alerta para que pratiquemos a virtude da castidade, cada um segundo o seu estado, fugindo com força e gana dos pecados e dos prazeres ilícitos de uma sociedade liberada dos antigos tabus, ou seja, da lei de Deus. Que os casais usem corretamente dos direitos matrimoniais, que os adolescentes fujam sem medo das intimidades ilícitas dos namoros sexuais, que as crianças sejam afastadas da televisão que lhes ensinam que tudo é lindo num mundo alegre e feliz onde reina a liberdade total, sem Deus, sem os ultrapassados 10 mandamentos, sem pais.

O segundo flagelo é o que nos ocupa mais particularmente aqui. Ele atinge em cheio a concupiscência dos olhos, castigando os homens que só pensam em riquezas, em bem estar, em dinheiro, em ser dono disso, em comprar aquilo. É a atitude que vem se agravando desde o século XIV, de resumir a vida no dinheiro, o que acarreta em estabelecer parâmetros de classificação dos homens pela produtividade. Não interessa mais se ele é virtuoso e honesto ou se, ao contrário, desonesto e vicioso. O que conta é a relação custo/benefício. E a massificação realizada pela mídia, hoje agravada pela Internet, iguala todos os homens no que toca a procura. Todos querem porque todos assistem aos mesmos programas de televisão. Basta perceber o que ocorre na época do Natal. De Ipanema a Madureira, de São Gonçalo a Tijuca, nos prédios, nos condomínios ou nas favelas, todas as crianças brincam com os mesmos brinquedos.

E nós, como escaparemos disso, como receberemos este flagelo do desemprego (ou do excesso de necessidade de emprego) de modo a purificar a concupiscência dos olhos? Creio que só há um caminho, para isso. É a virtude da pobreza, que brota da gruta de Belém e se derrama sobre nós da Cruz do Gólgota. Com dinheiro ou sem dinheiro, o pobre Jesus exige de nós a comunhão na sua Santa Pobreza. Possuir como se não possuísse, viver no mundo como se não vivesse. Renunciar aos bens materiais, ao supérfluo, por amor de Deus, porque a Ele pertencem, como tudo o mais. Estarmos submissos à sua Santa Vontade, como Jó, simplex et rectus, que dizia no meio de sua amargura: «Nu saí do ventre de minha mãe e nu me tornarei para lá; o Senhor o deu, o Senhor o tirou, como foi do agrado do Senhor, assim sucedeu; bendito seja o Nome do Senhor». (Jó, 1,20). Me parece que Nosso Senhor pede que sejamos mais modestos no uso dos bens materiais.

A grande confusão que paira sobre a humanidade, seguindo esta linha de raciocínio, é que faltaria um flagelo para o castigo dos maus e purificação dos eleitos. Este último flagelo agiria sobre a última e mais terrível das concupiscências, a soberba da vida. A carne, as riquezas, o poder, assim se dividem os pecados dos homens.

Não há dúvida que já vivemos dentro de um ambiente de orgulho total, de ódio ao próximo, de busca desenfreada de poder. Não apenas por governantes estúpidos e corruptos. São todos que assim agem. Este ambiente é o que mais se assemelha ao inferno, por isso é o pior e mais terrível flagelo que poderia cair sobre os homens. Esse ambiente de soberba universal já existe e exerce sua influência em tudo o que se realiza hoje sobre a terra. Mas não me parece que já seja um flagelo, pois ainda não é imposto individualmente a cada um, sem escolha, sem dia nem hora marcada. Já respiramos o seu ar, mas talvez ainda não estejamos vendo o seu rosto demoníaco. A não ser que, pela soberba atingir essencialmente à alma e não ao corpo, já estejamos vivendo este derradeiro flagelo, sem no entanto percebe-lo. Contra ele, o único remédio é a virtude da obediência, pela qual nos submetemos de bom grado aos mandamentos de Deus, à orientação segura da Igreja Católica, fiéis ao que Ela sempre ensinou, cheios de profunda humildade, desconfiando e desprezando nossas próprias opiniões.

Desde já estejamos no combate contra este flagelo horrível, contra os três flagelos dos fins dos tempos. Dentro de nossas casas, em nossas vidas, participemos das coisas do mundo com cuidado, desconfiando das nossas próprias forças para resistir a tamanho mal, pedindo socorro numa oração constante para que Deus tenha pena de nós. Os remédios que apresentei estão no Evangelho: são os três conselhos de perfeição que Jesus nos ensina.

Tenhamos uma certeza, porém: existe um lugar, um único lugar, onde estaremos ao abrigo de forças tão destruidoras da nossa alma. Junto à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. É lá, com Maria, nossa boa Mãe, de pé diante de seu Filho crucificado que receberemos as luzes necessárias para escapar da morte eterna. É lá, neste Calvário eterno que é a Santa Igreja, junto à Cruz da Santa Tradição, que receberemos a vida de Jesus ressuscitado, que permanece conosco na Sagrada Hóstia até a consumação dos séculos. Com esta vida, viveremos. «Nós devemos gloriar-nos na Cruz de N. S. Jesus Cristo, em quem está, para nós, a salvação, vida e ressurreição; por Ele fomos salvos e nos tornamos livres» (Gálatas, 6,14).

Temos pela frente três dias Santos para acompanhar a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor, na Semana Santa. Depois de nos termos preparado, pela Quaresma, ressuscitemos com Ele, cantemos o nosso Alleluia, cheios da única esperança verdadeira. A vida da graça, semente de glória, que nos é dada hoje para a vida eterna.  

Não pecarás contra a castidade

Na volta às aulas deste ano de 1999, ficou patente o quanto estamos à mercê de um poder que nos escraviza. Já há muito que as aulas de ciências servem para corromper a inocência das crianças, desde as primeiras séries. Vestindo a máscara do assunto "científico", livros para crianças de 8 anos descrevem a reprodução humana sem o menor cuidado com as alminhas delicadas de crianças inocentes, mas que carregam a inclinação da concupiscência e as levam a ter curiosidades perigosas.

A cada ano aquele assunto voltará, sob diversos aspectos, mantendo a atenção da criança na fonte de pecados contra a pureza do corpo.

Mas o que vimos este ano ultrapassou todos os limites. Leia mais

Depois de ter estudado todos esses anos este assunto, depois de terem suas forças minadas, ouvindo os professores falarem (científicamente!) sempre sobre isso, as crianças de 12-13 anos que ingressaram na 7ª série tiveram que comprar livros de ciências sobre o corpo humano. Mais uma vez vão falar do assunto. Porém, desta vez, aquilo que era ciência passou a ser Moral. Dentro do livro, em páginas de coloração diferente, bem destacado, introduziu-se uma verdadeira aula sobre pecados diversos contra o 6º mandamento da lei de Deus: não pecar contra a Castidade. Com ilustrações e desenhos de alta qualidade, o autor ultrapassa todas as barreiras da ética profissional, invade o campo alheio para deixar de lado a ciência do corpo e querer falar sobre a ciência da alma! Que autoridade tem esse autor, ou o diretor da escola que adota este livro, ou um professor que ouse falar destas coisas para meninas de 12 anos, que autoridade, repito, têm eles para falar sobre relacionamento sexual e ensinar as crianças a pecar?

Mas eles são materialistas, não acreditam em nada que não seja palpável e mensurável, não acreditam mais na alma, criada à imagem e à semelhança de Deus, ou seja, espiritual, inteligente e livre. Como pode um cérebro, um mecanismo, um corpo animal, conhecer como nós conhecemos, e amar livremente (conscientemente) como nós amamos, isso eles não explicam e nem podem explicar. Mentem! Inventam mágicas inexplicáveis cientificamente segundo as quais o cérebro foi evoluindo, evoluindo e, aos poucos começou a pensar.....

Logo, nada mais somos do que animais evoluídos e por isso, devemos usar do sexo como animais!Claro! Não existe a alma racional para impor aos sentidos uma razão elevada, uma finalidade sobrenatural. A dúvida é que eles não explicam porque, sendo tão evoluídos, eles ensinam aos homens um comportamento sexual tão degradante e baixo, inexistente no mundo animal. Se os homens seguissem o exemplo da natureza dos animais, que respeitam totalmente as finalidades criadas por Deus, não pecariam tanto!

Mas voltemos à escola pervertedora de crianças.

Falta ainda analisar a atitude dos pais diante desta monstruosidade.

Não existe nada que me faça entender que um pai, ou uma mãe, deva assistir ao envenenamento de seus filhos sem nada fazer. Eu bem sei que as crianças não aprendem estas coisas somente nestes livros, que é preciso acompanhar passo a passo as descobertas que elas fazem, e ir conversando, instruindo de modo católico, dando-lhes a consciência do pecado e a simplicidade da confissão, quando caírem. Quantas vezes eu mesmo ensinei assim.

Mas existem limites.

Uma coisa é a escola ensinar antes da hora, um aspecto natural do nosso organismo que, em si, nada tem de errado. Por ser ensinado antes da hora pode provocar curiosidades e mesmo pecados. Neste caso, pode acontecer que a única saída seja conversas e explicações para defender os filhos.

Outra coisa inteiramente diferente é a escola ensinar a pecar, pura e simplesmente. Neste caso, só existe uma atitude possível. Puxar a espada! Qualquer outra atitude seria uma fraqueza pecaminosa da parte dos pais.

Creio que a diferença entre as duas atitudes postas em negrito é bastante clara. Essa diferença estabelece o tipo de ação, assim como a responsabilidade dos pais em reagir à altura da gravidade da contaminação.

Daí vem a orientação que dei aos pais de rasgarem estas páginas dos livros antes das crianças lerem, e de se organizarem para que seus filhos não assistam às aulas que os professores derem sobre isso. Mais uma vez: eles não têm autoridade para ensinar a Moral, para ensinar quando um ato humano é bom e quando ele é mau. A moralidade dos nossos atos vem de Deus, de sua Lei Santa, da natureza criada e dirigida por Ele só. Por isso, só a Igreja Católica, única religião Revelada por Deus, pode nos dizer o que é certo e o que é errado. E os pais têm obrigação de ensinar assim aos filhos.

Ainda existe, na alma católica, verdadeira oração? Sermão do primeiro Domingo da Paixão

Após ter feito o sermão do 1º Domingo da Paixão, deste ano de 2006, pareceu-me importante transmitir aos nossos leitores alguns dos dados apresentados naquela ocasião aos paroquianos da Capela Nossa Senhora da Conceição, em Niterói, e da Capela São Miguel, no Rio. Estamos vivendo tempos estranhos e é preciso vigilância e atenção para não sermos levados de roldão pelo mundo.

Quando entramos na igreja no Primeiro Domingo da Paixão, e sentimos um certo choque com a austeridade penitencial do velamento das imagens, vem imediatamente à alma a questão: qual o objetivo da Santa Igreja ao cobrir as imagens, tirá-las de diante dos nossos olhos, justamente no momento em que ela levanta bem alto o estandarte da Santa Cruz?

Pois o que a Igreja busca com esta situação nova e tão desconfortável para nós é levar nossa oração a uma fé mais profunda, para que o tempo da Cruz não nos pareça apenas uma comemoração, um aniversário, mas esteja presente com sua carga de dor, de confusão e obscuridade.

O que vem a ser Rezar ?

Mas se é para medir e regular nossa oração, caberia a cada um de nós perguntarmos: e eu rezo? O tempo da Quaresma serviu para melhorar minha oração?

Para responder a esta pergunta é necessário saber o que seja rezar. Ora, tanto o Catecismo como os santos doutores nos falam sobre a boa oração. Diz lá, então, a doutrina perene:

- Rezar é elevar a alma a Deus.

Santo Agostinho nos dará uma compreensão melhor ao afirmar:

- Rezar é ter uma intenção afetiva do espírito para Deus.

Outros santos dirão:

- Rezar é ter uma conversa íntima com Deus.

Ora, estas definições ou explicações se completam maravilhosamente e nos ajudarão a medir o nosso grau de oração, a sabermos se, de fato, rezamos de verdade ou não.

Ainda se encontra quem reze?

Mas a experiência de qualquer sacerdote, nos dias de hoje, deixa-nos assustados, a ponto de podermos interrogar: - O que está acontecendo conosco? Onde estão as almas que rezam de verdade? E se muitos adultos ainda guardam o costume salutar de recolher-se, todos os dias, diante de Deus, já os adolescentes, os jovens, deixando a idade da infância, porque abandonam tão facilmente a prática da oração que nos dá o céu? Onde encontraremos oração que seja elevação da alma, intenção afetiva, ou conversa íntima com Deus?

Não! Não! O que vemos hoje nestas almas é uma oração pesada, um coração irritado, uma oração rápida e mecânica.

Mas se é pesada por causa da contrariedade que se sente em rezar, então não se eleva.


Se vem carregada com irritação, nunca será uma intenção afetiva.

Se é mecânica, não se pode pensar em conversa íntima com Deus.

Que quadro desolador o que encontramos nas almas. Passaram-se quatro semanas da Quaresma e nada! O mundo segue seu curso e as almas não se converteram!

Pergunto então, assustado e solene: O que falta à oração da grande maioria dos homens?

O que falta é o AMOR! Falta o Amor do espírito que busca o Espírito do Amor, o Deus que é Caritas, que é Caridade!

Todo amor é um apetite. Se nosso amor vai em busca das coisas sensíveis, será um amor baixo, sensível, humano, animal. Estaremos de corpo e alma entregues às coisas deste mundo, e este amor toma conta do nosso coração, elimina a Presença de Deus, e causa o pecado.

Mas se inclinarmos nosso corpo e nossa alma para o bem, para agradar a Deus em tudo, mesmo quando estamos fazendo algo de humano, estaremos intencionalizando nossos atos na direção de Deus, dando uma intenção nova, elevada, vivificante. Nestes atos de amor espiritual encontraremos a união com Deus, a Presença de Deus em tudo que fazemos, mesmo se não estivermos, naquela hora, pensando Nele.

Por que não se consegue mais rezar?

Devemos então nos perguntar, levando adiante esta pesquisa dos nossos corações:

Porque não se consegue mais rezar direito, segundo a elevação da alma, as intenções santas e a intimidade de Deus?

Porque somos constantemente SEDUZIDOS.

Os nossos três inimigos , o demônio, o mundo e a carne armaram uma guerra sutil e subterrânea que invade nosso coração, nosso corpo, nossas intenções, com todo tipo de sedução. Atraem nossa atenção para afastar-nos do gosto pelas coisas santas, pela vida de Deus.

Como somos seduzidos?

Pelos VÍCIOS. Somos seduzidos todos os dias por vícios antigos e por vícios modernos.

Os vícios antigos são aqueles conhecidos de todos: excesso de bebida, gula, sensualidade, preguiça e todo tipo de vícios capitais.


Os vícios modernos são: a televisão, os video-games, o uso de Messengers, orkut e Internet, telefone celular e todo tipo de modernidade que provoca atitudes compulsivas. Todas estas coisas desviam as almas de seus compromissos, tornando-as agressivas, estressadas, desobedientes, preguiçosas e "burrificadas".

Formaram uma vida em torno de nós que nos prende, ligados 24 horas por dia: trabalho, dinheiro, saúde, esportes, e os novos vícios, tirando todo o tempo que poderíamos ter para rezar, ler bons livros, pensarmos na nossa salvação eterna. Como rezar bem numa vida assim?

Então passamos quatro semanas da Quaresma onde se constata que, se alguns fizeram algum esforço de penitência e oração, a grande maioria nem se lembra de que os católicos são chamados com toda urgência a se converterem. Continuam no churrasquinho da sexta-feira, nas festas, em muitos pecados. Até quando vamos viver como se a vida da Igreja fosse uma OPÇÃO? Quando muito um dever secundário que realizamos com aquele espírito de revolta de que falamos acima. Como rezar se não combatemos a sedução?

É preciso rezar sempre

Eis o que ensina Nosso Senhor: "Oportet semper orare - É preciso rezar sempre". E os santos doutores concluirão: "Quem reza se salva, quem não reza fecha as portas do Paraíso".

Então, católico, levante as armas capazes de vencer o sedutor das almas, capaz de dobrar tua cerviz dura e revoltada. Falta-te o Espírito de Fé!
Não se trata exatamente da fé. A Fé pode ser considerada como o conjunto de verdades reveladas por Deus; é o que os teólogos chamam o Objeto da Fé. Dentro de nós, se produz pela graça divina os Atos de Fé, que são as marcas da nossa adesão ao Objeto da fé, a tudo que Deus nos revelou e a Igreja ensina.

Mas a arma poderosa para combater a sedução dos vícios anti-oração é o Espírito de Fé, que consiste em tomar a fé que está, como um dom divino, colocada em nossas almas, e aplicá-la a todos os momentos, situações, encontros, diversões que fazemos ao longo do dia e da vida. Pelo Espírito de fé fica estabelecida em nossas vidas a Presença de Deus. Esta presença de Deus é que nos aproxima Dele, tornando nosso coração mais próximo, mais íntimo, preparando-o para as conversas sublimes, para a afeição amorosa e para a elevação de nossas almas na verdadeira e pura oração.

É preciso, portanto, intencionalizar todos os nossos atos, transformá-los em armas de combate contra os vícios que nos devoram. É preciso forçar o desejo do nosso coração e todos os sentimentos dele para que não impeçam o momento da oração, da meditação, da leitura espiritual que abre nossas mentes para as coisas divinas.

É preciso acreditar que, perdendo tempo com Deus, o trabalho renderá muito mais  e compensará ao cêntuplo o tempo perdido. Ao contrário, quando não rezamos, acabamos presas fáceis para os vícios modernos e perdemos mais tempo do que seria o da oração.

Meditação sobre a morte

Se ainda agora, depois de pensar nestas coisas, neste diagnóstico terrível que mostra o céu fechado, ainda assim não conseguir se desvencilhar da malha viciosa, então, vamos pensar na morte. Por que não? Afinal de contas, estamos no tempo da Paixão, de luto pela morte de Nosso Salvador. Imaginemos, então, que estamos perto da morte, ou que um ente querido, um filho, um esposo, a mulher, tenha acabado de falecer. Parece duro, pensar nestas coisas? Pior é continuar vivendo sem rezar! O terrível peso que a alma sente pela perda joga por terra todos aqueles vícios horríveis que prendiam a alma. Então, de repente, ela percebe o quanto era fraca, envenenada, ridícula, por não conseguir se dominar e produzir algo de sólido e elevado. A morte nos atrai para o essencial, e é exatamente isso que a Igreja deseja quando vela as imagens no Tempo da Paixão. O Essencial é Cristo, sua Paixão, sua morte na Cruz para nos salvar. O essencial é vivermos unidos todo tempo a Jesus, e dizer com o Apóstolo: "Já não sou  eu que vivo, é Cristo que vive em mim".

Cabe a cada um de nós mostrarmos aos nossos adolescentes, aos nossos filhos, que é bom rezar. É bom querer rezar. E, mais do que tudo, é muito bom amarmos a oração porque por ela aprendemos a amar a Deus em sua própria intimidade.

A psicologia do amor

No mundo em que vivemos é moeda corrente as pessoas só quererem fazer o que lhes agrada. Que seja por prazer do corpo, ou pelo prazer de ter dinheiro, ou pelo prazer de se sentir influente, livre e independente, somos formados, à nossa revelia, a detestar as coisas árduas, maçantes, rotineiras, obrigatórias. Que elas tenham um quê de dificuldade ninguém discute. Que a nossa tendência seja a de diminuir a dureza das suas realizações, é compreensível. O que não pode ser é a revolta tomar conta do nosso coração sempre que temos alguma coisa obrigatória a fazer. No fim das contas, tudo o que é de nosso dever é feito com pressa, de qualquer maneira, sem a atenção necessária ou pelo dinheiro que vamos receber. A revolta a que me refiro não é necessariamente uma revolta barulhenta e explosiva. Pode ser apenas o sentimento surdo e escondido de um ódio acumulado.

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