Espiritualidade (180)
Corações ao alto: Sursum corda. Os sofrimentos do tempo presente nada são, se comparados à glória futura que se nos há de revelar. À consideração do fruto da vida eterna, caso ainda nos reste algum claro da luz verdadeira, algum sentimento de nobre ambição, diremos com o Apóstolo: Para ganhar o céu, de tudo fiz palha; candidatos à eternidade, imitemos o mercador de pérolas sobre que conta o Evangelho. Encontrara uma pérola que, por si só, era todo um tesouro. Em vez de gastar o tempo em perseguir, e o dinheiro em consumir outras pérolas, comprara aquela outra, vindo a ser o mais rico e feliz dos mercadores.
[N. da P.] O texto seguinte é um trecho de uma carta escrita por nosso amigo, o Pe. José Maria Mestre, ao Rafael Castela Santos, do inteligente Blog "A Casa de Sarto", onde foi originalmente publicada.
... Dou-lhe minha opinião. É a seguinte: de modo geral, penso que deveríamos descartar todo Milenarismo, quer material (condenado pela Igreja como herético) quer espiritual (que a Igreja não permite ensinar e, de todo modo, afirmou não se poder ensinar com segurança). É certo que o Padre Castellani, no que toca o Apocalipse, nos dá uma interpretação muito sólida, pois se baseia em tudo o que de claro disseram os Santos Padres, e gozou de uma singular penetração na compreensão dos acontecimentos modernos para a aplicação das profecias do Apocalipse. Parece-me que poucos autores se poderão consultar que sejam tão luminosos quanto ele. Mas, quando advoga em favor do Milenarismo, devemos tomá-lo com cuidado. E isso por quatro razões:
Quando Deus nos dá a fé, Ele entra em nossa alma e fala ao nosso espírito, não por modo de discurso, mas de inspiração; propondo tão agradavelmente ao entendimento aquilo que é preciso crer, a vontade recebe com isso um grande comprazimento, de tal sorte que ela incita o entendimento a consentir e aquiescer à verdade, sem nenhuma dúvida ou desconfiança, e eis o que é maravilhoso; porque Deus faz a proposta dos mistérios da fé à nossa alma entre obscuridades e trevas, de tal maneira que nós não vemos as verdades, antes só as entrevemos, assim como acontece, às vezes, que a Terra, estando coberta de bruma, não nos permite ver o sol, mas vemos apenas um pouco mais de claridade do lado em que ele está, de modo que, por assim dizer, nós o vemos sem o ver porque, de um lado, não o vemos tanto que possamos propriamente dizer que o vemos e, de outro lado, não o vemos tão pouco que possamos dizer que não o vemos, e é isto que chamamos entrever. E, entretanto, essa obscura claridade da fé, tendo entrado em nosso espírito, não pela força de discurso ou argumentos mas pela simples suavidade de sua presença, se faz crer e obedecer ao entendimento com tanta autoridade, que a certeza que ela nos dá da verdade ultrapassa todas as outras certezas do mundo e sujeita de tal modo a si todo o espírito e todos os discursos deste que eles, em comparação, não têm crédito algum.
E eis que os pastores se apressam, com grande alegria, para ver aquele de quem ouviram falar. E como buscaram com fervoroso amor, mereceram achar rapidamente o Salvador. Assim também os inteligentes pastores dos rebanhos, ou melhor, todos os fiéis que se propõem a procurar a Cristo com o trabalho do espírito, o demonstram por suas palavras e atos.
Comentário de Sto Ambrósio sobre Lc.1,39-47
Costuma ser admitido por todos que para se exigir a fé deve-se apresentar motivos válidos. Assim o anjo, ao anunciar os mistérios escondidos, para motivar a fé, anunciou à Virgem Maria que uma mulher idosa e estéril havia concebido, indicando que Deus pode tudo o que lhe agrada. Quando ouviu isso, não como incrédula diante do oráculo, nem desconfiando do mensageiro, nem duvidando do exemplo, mas alegre pela entrega, religiosa pelo encargo, apressada pelo gozo, parte Maria para a montanha. Para onde parte ligeira, já cheia de Deus, senão para as alturas? A graça do Espírito Santo ignora o peso da lentidão.
São Lourenço foi escolhido como padroeiro secundário da Capela Nossa Senhora da Conceição, por causa de sua presença na fundação da cidade de Niterói, antiga Aldeia de S. Lourenço dos Indios. A primeira igreja construída na cidade ainda hoje é visitada. Construída pelos índios, sob o comando do beato José de Anchieta, que encenou nos seus átrios o Auto de São Lourenço, que citamos a seguir.
Beato José de Anchieta
Auto de São Lourenço, Ato I
Pois teu amor, pelo meu
Tais prodígios consumou,
Que eu, nas brasas onde estou,
Morro de amor pelo teu.
Por Jesus, meu Salvador,
Que morre por meus pecados,
Nestas brasas morro assado
Com fogo do seu amor.
O que pode ser mais eficaz do que o jejum? Por sua observância nos aproximamos de Deus e, resistindo ao diabo, triunfamos da sedução dos vícios. O jejum sempre foi um alimento para a virtude. Da abstinência, enfim, procedem os pensamentos castos, a vontade reta, conselhos saudáveis; e pela mortificação voluntária do corpo, damos morte à concupiscência da carne, renovando o espírito pela prática das virtudes.
Mas como a salvação de nossas almas não é conquistada apenas pelo jejum, completemo-lo pela misericórdia para com os pobres. Seja abundante em generosidade o que retiramos ao prazer; que a abstinência dos que jejuam reverta para o alimento dos pobres. Pensemos na defesa das viúvas, no socorro dos órfãos, na consolação dos que choram, na paz aos revoltosos. Que o peregrino seja recebido, que o oprimido seja ajudado, que o nu seja vestido, que o doente seja curado, a fim de que, todos os que oferecerem o sacrifício de nossa piedade, por estas boas obras, a Deus, autor de todos estes bens, mereçam receber Dele, o prêmio do Reino Celeste.
Sermão acerca da tentação de Nosso Senhor no deserto (S. Mateus 4, 1-11)
INTRODUÇÃO DA REVISTA "A ORDEM"
O sermão que hoje publicamos como precioso alimento para estes dias sacratíssimos da Quaresma em que, na alegria do Espírito Santo esperamos a Páscoa do Senhor, é um dos dezenove sermões do santo Papa que estão colecionados nas edições impressas como “Sermões sobre a Paixão”. Pelas suas primeiras palavras, vê-se que é precedido de um outro. Esta circunstância não prejudica porém a sua unidade, pois forma por si só um todo independente; foi pronunciado numa quarta-feira da Semana Santa e o sermão anterior a que alude, no domingo precedente.
“Viver é Cristo, e o morrer é lucro". Assinalamos a impressionante firmeza com que o santo bispo exorta seus fiéis a terem uma atitude sobrenatural, movida pela fé e pelas demais virtudes infusas, diante dos acontecimentos da vida. Que seja lição para nós, mais do que nunca apegados a um mundo cheio de atrativos e prazeres.
A divisão em capítulos segue o publicado na Patrologia de Migne.