Skip to content

Category: Alain SandersConteúdo sindicalizado

México, da Independência aos Cristeros

Alain Sanders

 

Introdução

A guerra dos Cristeros (ou seja, dos “partidários do Cristo”) opôs, de 1926 a 1929, os peones mexicanos, mobilizados em peso contra um Estado ditatorial maçom e ferozmente anti-católico.

De início, a revolta dos camponeses, que reclamavam somente a liberdade de culto, foi pacífica. A resposta, porém, foi sangrenta. A partir de janeiro de 1927, não tiveram outra escolha a não ser pegar em armas. Grão-Mestre da maçonaria (grau 33), o presidente da época, Elías Calles, multiplica as perseguições: padres assassinados, moços católicos torturados até a morte, moças sequestradas ao sair da missa e abandonadas à soldadesca, aldeias metralhadas (notadamente, as dos Índios Yaquis, aliados dos Cristeros), criação de Colunas móveis, em tudo comparáveis às Colunas infernais lançadas contra a Vendeia católica etc.

Bem menos armados que os Federais (que dispunham de dezenas de aviões de combate e armamento pesado), os Cristeros fizeram, contudo, mais do que resistir: em Puerto Obispo, fizeram em pedaços as tropas do anticristo.

Em janeiro de 1929, os Cristeros (que se batizaram “Guarda Nacional”) ocupam a cidade de Manzanillo. Em abril, enviam ad patres oitocentos Federais. Por toda parte, lutam de igual para igual, quando não superam as tropas de um Estado em decomposição. No dia 19 de abril, os soldados de Cristo, conduzidos por generais que se tornaram legendários, Jésus Degollado, Victoriano Ramirez, José Reyes Vega, etc., ocupam a cidade de Tepatitlàn. Sentindo as mãos dos Cristeros pairando sobre seus pescoços, os maçons no poder viram-se obrigados a negociar (o que teve início em 1927, sob a iniciativa, nem sempre realista, do embaixador americano Dwight W. Morrow). Em 27 de junho de 1929, um acordo (arreglos) foi assinado. O culto católico foi novamente autorizado e a anistia concedida aos “rebeldes”. Um engodo: mais de seis mil combatentes serão assassinados em condições atrozes, e os que tentarem se defender, ameaçados de excomunhão pela Igreja!

Uma palavra justamente sobre a Igreja... Oficialmente, a Igreja mexicana (e não digo nada do Vaticano) jamais apoiou a rebelião. A imensa maioria dos 38 bispos mexicanos recusaram a resistência armada, pregando até “o respeito devido às autoridades”! Apenas três bispos clamaram pelo levante: dentre os quais Dom Gonzalez y Valencia (arcebispo de Durango) e Dom José Francisco Orozco y Jiménez (bispo de Guadalajara).

Não consigo ler sem serrar os punhos a declaração desesperada do comandante-em-chefe dos Cristeros, Jésus Degollado, a seus homens, renegados pelo episcopado quando estavam a dois passos da vitória:

“Sua Santidade o papa (...)  decidiu, por razões que nos são desconhecidas, mas que, como católicos, aceitamos, que o culto recomece sem que as leis sejam alteradas... Este arranjo (...) tirou de nós o que há de mais nobre, de mais santo em nossas bandeiras, no momento em que a Igreja declarou se resignar com o que obteve (...) Enquanto homens, sentimos uma satisfação que jamais nos poderão tirar: a Guarda Nacional não acaba vencida por seus inimigos, mas abandonada por aqueles mesmos que seriam os primeiros a receber os frutos de nossos sacrifícios e de nossa abnegação! Ave Cristo! Os que em vosso nome caminham para a humilhação, para o exílio e, talvez, para uma morte inglória (...), com amor fervente vos saúdam e aclamam, mais uma vez, Rei de nossa pátria!”

Sim, reconheço, é de chorar... e as beatificações e canonizações de 34 padres e leigos pronunciadas por João Paulo II tempos depois não me consolam.

Porém, para compreender este ódio anti-católico, é preciso remeter-se a bem antes. Mais exatamente, à declaração de independência do México, em 1821.

 

A Independência, Benito Juárez e a intervenção francesa (1821-1867)

“À frente de um exército valente, proclamei a independência da América Setentrional. Já é livre, mestra de si mesma, não reconhece nem depende da Espanha ou de qualquer outra nação.”

Assim foi, em 2 de março de 1821, a proclamação de Iturbide, soldado, nacionalista e libertador do México.

A história demonstrará que jamais uma proclamação tão resoluta fora tão falsa... Mas, antes de dizer o porquê, convém refrescar um pouco nossas memórias.

Nos tempos da proclamação de Iturbide, o México ocupava toda a América Central e subia até ao norte do que são hoje os Estados Unidos.

Os norte-americanos de então se alarmaram — eram 9.500.000 de habitantes contra 6.540.000 mexicanos, num território de 5.185.000 km² contra 5.118.000 km² para o México. Porém, foi a maçonaria quem mais se alarmou. País gigante, profundamente católico, o México, sob o motor da Igreja, que fomentava hospitais, escolas, obras sociais, era chamado a se tornar uma potência de primeira grandeza. Nele, a integração entre europeus e indígenas se fizera, sem maiores choques, sob a ação unificadora do catolicismo, e produzira um povo: o mexicano; e uma nação: o México.

A fim de tentar desmembrar esta nação católica, os norte-americanos empreenderam inicialmente uma série de operações assassinas. Elas foram vitoriosas. Principalmente, porque as tropas mexicanas eram comandadas por generais maçons.

Exemplos? São abundantes. O general Santa Anna que, feito prisioneiro pelos norte-americanos em 1838, foi devolvido por um navio da US Navy (Marinha dos EUA) e retomou a frente de seus soldados engajados contra os norte-americanos... O general Juan Álvarez, que bloqueou os reforços mexicanos esperados na Alta Califórnia1  e permitiu serem massacrados os Cadetes de Chapultepec, sem jamais intervir com sua cavalaria. O general Ampudia que, em plena batalha de Monterrey (1846), presenteou os agressores norte-americanos com 35 canhões...

Ao longo dos anos, as manobras maçônicas contra o México acentuam-se. Em 1861, o governo mexicano caiu graças ao apoio dado pelos norte-americanos ao partido liberal, sob as mãos de Benito Juárez, virulento maçom. O México saía então de uma guerra civil que visava à derrota do partido conservador e do general católico Miramón, que, aos 15 anos, sobrevivera ao massacre dos Cadetes de Chapultepec — de que acabamos de falar.

Com o país arruinado, Benito Juárez declarou estar impossibilitado de pagar os juros da dívida mexicana à Espanha, à Inglaterra e à França. No dia 8 de dezembro de 1861, esquadras navais destes três países — seis mil espanhóis, três mil franceses, oitocentos britânicos — deitam ferro em Veracruz 2. Rendendo-se às razões de Juárez, ingleses e espanhóis decidem retornar. Mas não os franceses.

É que Napoleão III, de volta após uma juventude bastante errante, julgava que os Estados Unidos da América um dia haveriam de se opor à Europa. Para tentar impedi-lo, o Imperador precisava:

1. De um México católico, amigo da França, territorialmente tão grande quanto os Estados Unidos.

2. Da vitória dos sulistas engajados numa guerra territorial contra o norte ianque.

Para poder ajudar os sulistas — estando todos os portos sulistas submetidos a um rigoroso bloqueio nortista — e possuir um governo mexicano pró-francês, era preciso primeiro tirar do poder o homem dos ianques, Benito Juárez.

Valendo-se da presença da esquadra naval francesa em Veracruz, os emissários de Napoleão III estabeleceram contato com os responsáveis do partido conservador exilado em Cuba, e lhes propuseram intervir com as tropas francesas. Politicamente, isto foi um grave erro, na medida em que permitiu a Juárez — que se beneficiava de uma enorme ajuda material norte-americana (armas, dinheiro) — apresentar-se como o campeão da soberania nacional.

Em todo caso, seis mil soldados franceses — e cem cantineiras — foram logo colocados sob as ordens do general mexicano Lorencez. Direção: Puebla, onde deveriam lançar-se contra 12 mil soldados de Juarez que não paravam de avançar.

Um obstáculo que não dobra Napoleão III, o qual, justificando sua política, declara:

“Não temos qualquer interesse em que os Estados Unidos se apropriem do Golfo do México e possuam o monopólio dos produtos do Novo Mundo. Ao contrário, se um governo durável se organizar no México com a ajuda da França, nós faremos a raça latina recuperar seu prestígio e iremos garantir a segurança de nossas colônias nas Antilhas e das de Espanha.”

Em 17 de outubro de 1862, o Corpo Expedicionário Francês, sob o comando do marechal Forey, e contando com 17.347 homens, ocupa Puebla e, depois, Zaragoza. Em Puebla, os soldados franceses, aclamados por imensa multidão, são recebidos como libertadores.

Benito Juárez acaba tendo de fugir e a junta de governo conservadora decide que o México será doravante uma monarquia moderada tendo, à sua frente, um príncipe católico. A escolha recai sobre Maximiliano da Áustria3.

A idéia parece hoje estapafúrdia, mas não era assim na época. Sobretudo porque muitos países, e não dos menores — Bulgária, Suécia, Grécia, Portugal, Romênia... — formaram sua casa real com príncipes estrangeiros.

Enquanto, por seu lado, Benito Juárez solicitava a intervenção militar dos Estados Unidos, a França seria traída por um maçom ativo, o seguinte chefe do Corpo Expedicionário Francês, o Marechal Bazaine.

Após entendimentos com Juárez, por intermédio das lojas maçônicas, Bazaine obrigou assim, no dia 15 de outubro de 1863, o Arcebispo Antonio de Labastida a vender os bens da Igreja para enfraquecer o catolicismo mexicano.

Quando em maio de 1864 Maximiliano e Carlota se instalaram no trono do México, o embaixador dos Estados Unidos na Áustria-Hungria informou aos Habsburgo: “Que Maximiliano não conte nem com a simpatia nem com o apoio dos Estados Unidos”. E expediram ao novo Imperador três lojas maçônicas: uma francesa, “Êmulos de Hiram”; uma alemã, “Eintrach”; e uma espanhola, “União fraternal”. Ingênuo e fraco — e certamente mantido ignorante dos verdadeiros fins da maçonaria — Maximiliano torna-se maçom.

Aconselham-no a vender a Baixa Califórnia aos Estados Unidos por 12 milhões de dólares. Ingênuo, mas não inteiramente idiota, Maximiliano recusa violentamente o ardil. Mas, quando lhe aconselham a montar um governo de coalização repleto de liberais e maçons, não soube se opor. E aceita até mesmo separar-se de seus dois mais fiéis defensores, os generais católicos Miramón e Márquez. Tampouco soube resistir (e com isto perdeu a simpatia dos conservadores e da Igreja) aos conselhos de tolerar no México o protestantismo e o judaísmo, religiões pouco representativas no país...

Quando Maximiliano sugeriu formar um exército imperial mexicano, Bazaine encarrega-se de quebrá-lo. É assim que ele envia sistematicamente jovens recrutas formados por um oficial austríaco, o conde von Thun, rumo a missões-suicidas, bem antes do fim de seu aprendizado. Nesse ínterim, Bazaine, marechal do exército francês, abastecia Benito Juárez com armas e munições. Em 1865, dois oficiais norte-americanos, Reed e Crowford, foram nomeados generais do exército de Juárez. Nas suas Memórias, o general nortista Sheridan revelará:

“Meu exército apoiava e estimulava os liberais mexicanos, fornecendo-lhes armas em abundância, permitindo-lhes instalar-se ao longo do Rio Bravo, do lado americano, a distâncias adequadas... Só do arsenal de Baton Rouge nós lhes enviamos trinta mil fuzis.”

As armas americanas? Excelentes carabinas Sharp, revólveres Colt de seis tiros, e muitas Remington. Enquanto isso, a cavalaria francesa usava pistoletes de um tiro com fecho de pederneira...

No início de 1866, desejando fugir do vespeiro mexicano, Napoleão III decide que, a partir de novembro daquele ano, as tropas francesas embarcariam para a França. Maximiliano pede então a seu irmão, o imperador Francisco José da Áustria-Hungria, que envie um Corpo Expedicionário. Francisco José promete dez mil homens. Mas, pressionado pelos Estados Unidos, envia somente uma pequena “legião austríaca” com mil voluntários. A Imperatriz Carlota viaja até o Vaticano para pedir ao Papa que venha em socorro do México católico. Em vão.

Quando tudo parecia perdido, três oficiais católicos — Miguel Miramón, Leonardo Márquez e Tomás Mejía (um puro índio otomi) — decidem formar in extremis três tropas para tentar salvar o Império.

Enquanto Bazaine deixava o México, antes tratando de explodir os depósitos de pólvora para que Maximiliano não pudesse se servir deles, o general nortista Sherman e soldados norte-americanos vinham dirigir o exército juarista.

Em 17 de fevereiro de 1867, Maximiliano declara:

“Tomo hoje o comando de nosso exército, coloco-me à sua frente. Há muito aguardava este dia. Agora, livre de todo compromisso, posso seguir meus sentimentos”.

No dia 19 de fevereiro ocorreu a batalha de Querétaro.

Nove mil Imperiais contra quarenta mil Juaristas. O primeiro assalto das tropas de Juárez foi repelido. Os soldados de Miramón matam mil Juaristas e aprisionam dezenas de soldados norte-americanos. Estando o México ameaçado por uma coluna Juarista conduzida pelo general Porfirio Díaz, o general Márquez teve de subtrair 2.200 homens aos defensores de Querétaro e correr para Puebla. Isolado no México, Márquez viu-se obrigado a conter os ataques das tropas de Díaz.

Em 27 de abril, Miramón derruba as forças juaristas e, conduzindo pessoalmente ataques abertos, recupera o terreno, víveres, munições e vinte canhões. Mas era tarde demais. Traídos pelo coronel López que, à frente do “Batalhão da Imperatriz”, entrega aos Juaristas o setor-chave do Convento de la Cruz (contra 12 mil pesos pagos pelo agente juarista Antônio Yablouski), os Imperiais foram derrotados.

Maximiliano, Mejía, Miramón foram condenados à morte. Maximiliano transmitiu uma mensagem a Juárez, de maçom para maçom, pedindo-lhe misericórdia. Porém, Maximiliano era apenas “grau 18”, pequeno nível “filosófico” destinado aos idiotas úteis. Seu pedido foi rejeitado. Maximiliano pediu então que morresse só, que fossem poupados os leais Miramón e Mejía. Isto também lhe foi negado.

No dia 19 de julho de 1867, os três homens foram fuzilados ao pé da montanha de Las Campunas.

O México tornou-se o quintal dos Estados Unidos. Presidente do México, Juárez recebeu das lojas maçônicas o título de “Meritorio de las Americas”. Seu primeiro ato oficial foi o de transformar a igreja da paróquia de São Francisco em templo protestante. Em seguida, começou a fazer concessões econômicas às empresas norte-americanas e, mais especialmente, ao magnata Jacob P. Lease. Benito Juárez morreu no dia 18 de julho de 1872.

 

Os segredos da Revolução mexicana (1910-1923)

Porfirio Díaz sucedeu Benito Juárez. Díaz, desejando dar ao México uma infraestrutura moderna, dedica-se a equipar o país: estradas de ferro, telégrafo, telefone, usinas de aço, hospitais, eletricidade, rede de esgoto, água potável encanada, estradas pavimentadas...

Para assegurar o poder, Díaz se rodeou de importantes maçons, como Francisco de Gochicoa, Grão Kadosh (“santo”, em hebreu...) do Rito Mexicano. Maçom iniciante, Porfirio Díaz julgava poder utilizar a maçonaria em seu proveito, pensava poder levá-la no papo.

Assim, quando os maçons pediam o fechamento desta ou daquela igreja, desta ou daquela escola católica, Porfirio Díaz nomeava uma “comissão de estudos” que enterrava o assunto. Ou fazia alguma oportuna indiscrição a sua esposa Carmen, católica fervorosa, que se incumbia de prevenir quem de direito. 

Não obstante, teve de ceder aos “Mestres”, que se opuseram que a encíclica Humanum Genus de Leão XIII fosse publicada e comentada — mesmo por padres — no México.

No dia 31 de agosto de 1895, Porfirio Díaz anunciou que abandonava, “por falta de tempo”, sua condição de “Grão-mestre da Grande Assembléia” (Grande Loja de Arksansas). Este “posto” foi então cedido a Manuel Lévi, deputado federal porfirista.

Pouco a pouco, as diferenças se acentuam entre a maçonaria e Don Porfirio, e este se torna alvo de críticas dos jornais a soldo dos maçons, O Combate e O Partido Liberal. E isto a ponto de ele escapar por pouco de um atentado, cuja origem não permite dúvida.

Ao mesmo tempo em que tomava distância das lojas maçônicas, Díaz começou a reconsiderar os interesses dos Estados Unidos no México, aonde o grande capital maçônico norte-americano se dirigia como a um país conquistado. A família Hearst (Hirsch, era seu verdadeiro nome) dispunha de três milhões de hectares; a exploração mineral estava nas mãos de Salomon e William Guggenheim; Rockefeller controlava todo o cacau ao sudeste do país; a indústria têxtil dependia do magnata Goblentz; todas as transações bancárias passavam pelo banco Kuhn-Loeb (que financiará Lênin, poucos anos mais tarde...).

Com discrição, Porfírio fechou contratos com os britânicos, e, principalmente, com a empresa de Lord Cowdray, incumbida de construir uma estrada de ferro ao longo do Istmo de Tehuantepec: Caminho que rivalizava diretamente com o Canal do Panamá, pois “economizava” 2.700 km aos navios, que poderiam descarregar suas mercadorias na costa do Pacífico, as quais seriam transportadas a outras embarcações na Costa do Atlântico, e vice-versa.

No dia 16 de outubro de 1909, “Mister” Taft, presidente dos Estados Unidos e maçom, veio censurar Don Porfirio:

“A estrada de ferro de Tehuantepec foi concluída. Isto implicará consequências que não podemos prever. É um ataque direto ao Canal do Panamá”.

O destino de Porfirio Díaz estava selado. O instrumento deste destino foi Francisco Madero, chefe do minúsculo “partido anti-reeleicionista”. Em 20 de novembro de 1910, Madero instalava-se em San Antonio (Texas) e conclamava o povo mexicano a levantar-se contra Díaz. Em vão. Mas Madero logo recebeu o apoio de um certo Ricardo Flores Magón. Perigoso ideólogo de extrema esquerda, refugiado nos Estados Unidos, Magón preconiza ações de agitprop nos povoados ao norte do México.

Logo, uma dezena de guerrilheiros do “general” Orozco aproximaram-se de Madero e Magón, assim como, poucos dias depois, uma figura pitoresca: Francisco “Pancho” Villa. Procurado pela polícia — por ter matado um vagabundo que abusara de sua irmã — Villa só tinha a ganhar com uma mudança de regime.

Uma vez formado este pequeno e heteróclito grupo, o bom “Mister” Taft lhes concedeu dinheiro, munições e carabinas Winchester 30-30, e, além disso, um conselheiro, o maçom Sommerfield.

Chefiando cinco mil revolucionários, Pancho Villa e Orozco vão, de início, atacar Ciudad Juárez, mal defendida por quatrocentos Federais. Declarando-se impressionado por esta conquista, os Estados Unidos reconhecem os guerrilheiros como “beligerantes” e concedem uma “embaixada” em Washington a seu representante, José Vasconcelos.

Em abril de 1911, os Revolucionários, aos quais se juntaram um “reformador agrário”, Emiliano Zapata, e seus 2.500 homens originários do Estado mexicano de Morales, dispunham de 14.500 homens, equipados de moderníssimos canhões norte-americanos “Blue Whistlers”.

As tendências políticas desta Revolução? Francisco Madero é um perfeito maçom; o “general” Orozco, um maçom “moderado”; José Vasconcelos, um oportunista a soldo da maçonaria americana; Pancho Villa, nacionalista sincero, representa a ala direita da Revolução; Emiliano Zapata, a ala esquerda não comunista.

O mais perigoso? Ricardo Flores Magón. No dia 29 de janeiro de 1911, com a ajuda de seu conselheiro norte-americano, o capitão Wilcox, ele se apodera de Mexicali. Seu fim confesso é formar uma república bolchevique na Baixa Califórnia. Ao seu lado, um outro esquerdista norte-americano, Carl Rhys Price, chefe da 2ª Divisão do Exército Liberal...

Moralmente esgotado — e ainda que seu regime não esteja ameaçado — Porfirio Díaz decide se exilar. Vai para a França, deixando nos cofres do Estado quase setenta milhões de pesos.

Porém, “Mister” Taft não está satisfeito. Insiste que o México adote o 6º item do plano maçônico estabelecido pelas lojas de Nova Orleans, no dia 4 de setembro de 1835: dissolução da propriedade territorial, seja grande, seja pequena.

Madero mal foi nomeado presidente da República, e Zapata e Orozco se rebelam contra ele. O erro de Madero, aos olhos do bom “Mister” Taft, foi ter autorizado a criação de um “partido católico” de oposição. Indignado pelas impertinências dos norte-americanos, Madero escolhe a guerra. Ataca militarmente Zapata e Orozco e freia as atividades subversivas da “Casa do Operário Mundial”, criada por Flores Magón e um comunista dos EUA, Samuel Gompers.

Os Estados Unidos alimentam então uma nova rebelião, dirigida pelo governador corrupto Venustiano Carranza e pelo general Mondragón. Em fevereiro de 1913, o embaixador dos EUA no México, Lane Wilson, chegará a ameaçar Madero com um desembarque de Marines.

Foi então que um general católico, nacionalista e obstinado, o general Victoriano Huerta, decide acabar com o regime molenga de Madero. Um putsch rápido. Duas balas na cabeça de Madero, e uma política sem concessões.

O drama do general Huerta é que ele não leva a sério a maçonaria, que considera uma reunião de esquisitões. Já os americanos, levam Huerta bem a sério. O presidente maçom Woodrow Wilson, que sucedeu o maçom Taft, recusa-se a reconhecer o governo Huerta. Relança, portanto, a rebelião de Venustiano Carranza, ajudada agora pelo “general” Obregón.

Enquanto Huerta decretava o fim definitivo da “Casa do Operário Mundial” e levava muitos agitadores marxistas ao exílio, dinheiro enviado pelos EUA reativava Pancho Villa, e agentes norte-americanos incitavam Zapata a pegar novamente em armas.

Uma última tentativa foi feita para com Huerta por uma comissão maçônica méxico-americana: “Entre na maçonaria e seu governo será reconhecido e ajudado”. Huerta recusa brutal e irrevogavelmente a oferta.

Wilson então ordena às companhias petrolíferas dos EUA que não paguem mais impostos ao governo mexicano, e a Huestaca Petroleum Company entrega setecentos mil pesos aos rebeldes. A guerra explode. Obregón ataca, com a ajuda da US Navy, a guarnição de Guaymas. Pancho Villa ocupa Torreón no dia 3 de outubro de 1913. Em seguida, ocupa Chihuahua, Ciudad Juárez e Ojinaga.

Rapidamente, Huerta retoma Torreón, dissolve o Congresso e aprisiona os deputados maçons. Tendo o presidente Wilson protestado oficialmente, Huerta encarrega seu primeiro-ministro de lhe responder, com esta instrução:

— Xinga muito, senhor ministro! (“Mientele la madre, señor ministro!)

Wilson ordena então a US Navy fornecer abertamente armas aos rebeldes pelo porto de Tampico. Huerta reforça a defesa do porto. No dia 21 de abril de 1914, quatro encouraçados dos EUA, dentre os quais o Prairie, bombardeiam Veracruz antes de enviar Marines ao assalto de uma cidade, na qual enfrentaram um punhado de Cadetes da Academia Real e alguns civis armados de revólveres...

Wilson, triunfante, declara:

— A velha ordem morreu para sempre!

No dia 15 de julho de 1914, o general Huerta anuncia sua demissão. Capturado pela polícia americana quando partia para o exílio, teve de se submeter a uma operação cirúrgica da qual não se recuperará. A esposa do embaixador norte-americano no México, Edith O’Saughnessy, acusará os médicos de terem-no deixado morrer.

Venustiano Carranza torna-se então presidente da República, e inicia uma série de perseguições religiosas. Um pastor protestante dos EUA, Francis R. Joyce, testemunha do abuso de freiras mexicanas em Veracruz, ouviu a seguinte resposta de Silliman, representante pessoal do presidente Wilson, a quem reclamara do incidente: “O que há de pior no México, após a prostituição, é a Igreja Católica. Ambas tem de desaparecer!”

Outro conselheiro de Wilson, John Lind, exclamou ao ouvir sobre o massacre de padres: “Excelente notícia! Quanto mais matam padres no México, mais fico contente!”. A loja mexicana “Guardiães da Liberdade” de El Álamo, escreveu a Carranza: “Todas nossas felicitações pelos esforços feitos para libertar o povo do pior dos abutres humanos: o catolicismo.”

E destruirão a estrada de ferro de Tehuantepec... O general Juan Andrew Almazán acusou Carranza de estar sob “a tutela dos plutocratas de Wall Street”, enquanto Zapata e Villa, partidários de Eulalio Gutiérrez, designado por 112 votos contra 21 como presidente no lugar de Carranza (que recusa-se a votar), reiniciam a guerrilha...

Zapata e Villa voam de vitória em vitória, e tomam conta do México. Porém, Carranza, exilado em Veracruz, possui um aliado de peso: Woodrow Wilson. Este inunda-o com armas e dinheiro.

Após ter reconquistado o México, em fevereiro de 1905, Carranza manda fuzilar 160 padres, reabrir a “Casa do Operário Mundial” e cria — dois anos antes da Guarda Vermelha russa — cinco “Batalhões Vermelhos”.

Opondo-se doravante diretamente aos Gringos4, Villa torna-se um homem acossado. Quer pelos homens de Carranza, quer pelas tropas dos EUA, que ele fora provocar, em 9 de março de 1916, até Columbus5. Seu colega de rebelião, Emiliano Zapata, tendo caído numa cilada preparada pelos soldados de Carranza, foi assassinado em 10 de abril de 1919.

Mas, o próprio Carranza acabou por desconfiar da maçonaria e dos bolcheviques, a ponto de reabrir as igrejas, interditar dois jornais de extrema esquerda e desarmar os “Batalhões Vermelhos”. Um acaso? Uma campanha de extrema violência foi lançada contra ele na imprensa... norte-americana. Fez-se mesmo correr o boato — os EUA estavam então engajados na Primeira Guerra Mundial — que as nações latino-americanas, mas sobretudo o México, preparavam-se para entrar em guerra contra os EUA em nome dos alemães...

Uma nova rebelião — desta vez enquadrada por Obregón e Plutarco Calles — explodiu. Carranza, obrigado a deixar o México, foi liquidado durante sua fuga. Obregón torna-se presidente no dia 1º de dezembro de 1920 e Calles, primeiro-ministro. Ao saber da novidade, o general Murguía — o “vencedor” de Pancho Villa — rebela-se, alegando que Calles, descendente de judeus espanhóis, não poderia governar o povo mexicano.

A guerrilha de Murguía dura dois anos, e o general termina sua carreira perante um pelotão de execução, em 31 de outubro de 1922. Era o acerto de contas da maçonaria. No dia 20 de julho de 1923, Pancho Villa foi assassinado, sob ordem de Plutarco Calles, alguns dias após ter feito declarações bastante anti-comunistas...

Os Cristeros, os chouans6 do México (1926-1930)

No dia 14 de novembro de 1921, o bolchevique Juan Esponda, membro da CROM (Confederação Regional Operária Mexicana), veio colocar um buquê de flores aos pés da imagem da Virgem de Guadalupe, na Basílica da Cidade do México. No buquê havia dinamite.

Descoberto pelos fiéis, foi protegido do linchamento pela polícia. De noite, por falta de provas — havia contudo mais de cem testemunhas... — soltaram-no.

Isto, e as campanhas da comunista espanhola Belén de Sarraga7 e do “Grande Luminar” Ramirez, contra o Cristo-Rei do Cerro Cubilete, e o resto — isto foi sob Obregón.

No dia 1º de dezembro de 1924, Plutarco E. Calles lhe sucede. Com ele, o ódio a Cristo não terá limites. Ao lado de Calles, Aarón Sáenz, ministro das Relações Internacionais; Moisés Sáenz, irmão do precedente e vice-ministro da Educação; Luís Morones, ministro da Indústria e secretário-geral da CROM; um conselheiro americano, o denominado Habermann, além de agentes da GPU soviética8; o mestre da Grande Loja mexicana, Jorge Hirschfeld; etc.

Mestre maçom (grau 33), Calles tentou inicialmente quebrar a Igreja Católica no México por intermédio do Padre Pérez, proclamado pelo governo “Patriarca da Igreja Católica mexicana”... Este Padre Pérez, maçom da loja “Amigos da Luz” de Oaxaca, não conseguiu convencer ninguém.

Então, Calles fez votar uma lei: os padres não poderiam doravante oficiar se não fossem casados. Isto não funcionou melhor. Assim, no dia mesmo em que recebia com grande pompa Alexandra Kollontay, primeira embaixadora soviética no México, fechou dezenas de igrejas e escolas católicas, ao passo que duzentos padres e cinquenta freiras foram exiladas para a Guatemala. Ao mesmo tempo, Calles oferecia cem mil pesos a uma pouco expressiva denominação protestante e permitia a abertura — graças a subvenções estatais — de duzentos colégios da mesma denominação...

No dia 12 de maio de 1926, Dom Caruana, o novo núncio apostólico, foi expulso. Isto provocará a seguinte reação da parte do Arcebispo de Baltimore, Michael Curley:

“Calles continua a perseguir a Igreja no México pois sabe que tem a aprovação de Washington. Nosso governo armou os assassinos a soldo de Calles. Nossa amizade o encorajou na sua nefasta empresa: destruir a idéia de Deus dos corações de milhares de mexicanos”.

No dia 28 de maio de 1926, Calles recebe de Luis M. Rojas, Grande Comandante do Rito Escocês no México, a medalha maçônica do mérito. Uma recompensa e um encorajamento a seguir em frente.

No Yucatán, as pias de água benta são proibidas por “razões higiênicas”. Em Querétaro, a polícia abre fogo contra os católicos, e dois são mortos. Muitas moças são detidas na saída da missa, encarceradas com criminosas comuns e prostitutas, e freqüentemente violadas. No México, o chefe da polícia, Roberto Cruz (sic), esbofeteia publicamente uma moça conhecida por sua militância católica. No dia 26 de julho, dois policiais à paisana assassinam um velho comerciante, José Farfán, porque afixara na sua loja os dizeres: “Viva Cristo-Rey!”.

No sul dos Estados Unidos, um general aposentado, Francisco Estrada, decide que é hora de reagir. Valendo-se de quinhentos homens armados de metralhadoras e carabinas Winchester 30-30, sete caminhões e de três aviões bi-planos, Francisco Estrada parte para o México. Jamais o alcançará: ele e seus homens serão detidos e encarcerados pelo FBI...

Na sua edição de dezembro, 1926, a revista maçônica norte-americana The New Age, observa: “A Igreja Católica perverte os mexicanos há quatrocentos anos. O mérito de Calles é tê-los libertado da ignorância e superstição. É por esta razão que pode contar com nossa simpatia e com o apoio da América do Norte”.

Decididos a não se deixar matar como cordeirinhos, os católicos se organizam. Sob a conduta de Luis Navarro, dois mil moços armados se levantam prontos para uma insurreição, marcada para o dia 1º de janeiro de 1927.

Enquanto esperam a data, e apesar das perseguições — sete moços católicos, torturados pela polícia até a morte, são mortos à la dundum9 — os membros da UCM (União dos Católicos Mexicanos) e da ACJM (Associação Católica da Juventude Mexicana) trabalham na semi-clandestinidade.

Logo, os Cristeros — assim chamados por causa de seu grito de guerra, “Viva Cristo Rey!” — entram em ação. Em León, 3 de janeiro de 1927, guiados por seu chefe, Anacleto González Flores, ex-professor, quase conquistam a cidade. Mas Flores é capturado e torturado até a morte.

Na província de Sonora, milhares de índios Yaquis juntam-se aos Cristeros. A represália é sangrenta: suas aldeias são metralhadas pela aviação mexicana.

Enrique Gorostieta, antigo Cadete do Colégio militar, sucede Flores. Mas os Cristeros não têm dinheiro nem aviões, e seu armamento é, para dizer o mínimo, inusitado (rifles de caça, algumas carabinas, revólveres de pólvora negra, calibres dos mais diversos: 30-30, 32-20, 38 etc.).

Para combatê-los, Calles constitui cem Colunas móveis, em tudo comparáveis às Colunas infernais, assassinas de vendeanos10.

Em junho de 1927, os Cristeros somam 18 mil combatentes. A logística no campo é assegurada pelas Brigadas Juana de Arco, compostas de mulheres e moças. Sob as aparências de comércio, transportam, escondidos sob tomates, sabonetes e tortillas, cartuchos e munições.

No fim do ano 1927, os Cristeros já contam com trinta mil homens: vinte mil “regulares” e dez mil guerrilheiros de “tempo-parcial”. Os combatentes do “general” Navarro — sete mil homens — estão equipados com excelentes armas Mauser, subtraídas ao exército.

Ao passo que a revolta cristera cobre 17 províncias do México, Calles recebe dos EUA 13 aviões de combate [que são] imediatamente utilizados contra os Cristeros, o que não impede os Cristeros de fazer em pedaços — seiscentos mortos — os Federais em Puerto Obispo.

Enquanto combatia os “soldados de Deus”, Calles sonha com sua reeleição. Em 1927, acelera a imigração de dez mil judeus. Em 1928, acolhe noventa mil. Todos serão naturalizados mexicanos, mal tendo pisado o solo mexicano.

Nos EUA, os jornalistas Frank Tannenbaum, Walter Lipmann e Ernest Gruening lançam uma campanha em defesa de Calles. Ela será contrabalançada pelo apoio dado aos Cristeros pelos católicos do Brasil11, Chile, Argentina, Colômbia, Uruguai e Canadá.

Chegam as eleições. Ao arrepio da Constituição, Calles pretende se reeleger. Sentindo que a cólera popular crescia, propõe como candidato seu cúmplice, Obregón. Este tampouco poderia se eleger, visto que já fora presidente...

Ameaçado por um motim militar, Calles manda fuzilar os generais Gómez e Serrano, que desejavam criar um partido contra a dupla Calles-Obregón. Em seu delírio, manda seus homens dinamitarem a estátua do Cristo-Rei do Cerro Cubilete. Em seguida, anula as eleições e faz com que seja eleito seu fantoche, o advogado Portes Gil, reservando para si o cargo de Ministro da Defesa no novo governo.

Em 1929, Portes Gil, Calles e Obregón haviam conseguido esta façanha de mobilizar contra si:

- Os Cristeros;

- A rebelião militar do general Escobar (trinta mil homens);

- O Partido da Direita Nacional, criado por José Vasconcelos, antigo ministro de Calles, enojado pela sanha anti-católica deste.

Em janeiro de 1929, os Cristeros — que se batizaram “Guardam Nacional” – ocupam a cidade de Manzanillo. Em abril, nocauteiam oitocentos Federais.

Uma vez mais, devido às habilidades do embaixador norte-americano no México, Dwight Morrow (afiliado ao ramo maçônico Misrachi), os EUA enviam cinqüenta aviões para Calles e lhe concedem um empréstimo de 25 milhões de dólares.

Mas, nos EUA, uma surpresa divina: as eleições levaram ao poder, no início de 1929, um novo presidente, Hoover. Ora, Hoover não era maçom. Esquecida por algum tempo do México, a maçonaria consagra então todas suas forças contra este inconveniente Hoover. A continuação da história é bem conhecida: veio a terrível crise de 1929, e foi substituído pelo maçom Franklin D. Roosevelt (grau 33).

Ao fim de negociações secretas com o Vaticano, um acordo foi assinado, segundo o qual Portes Gil pôde anunciar cinicamente que as leis impostas por Calles não eram anti-religiosas mas... que haviam sido mal compreendidas.

Os Cristeros estavam — apesar da morte em combate de Gorostieta, em 2 de junho de 1929 — a dois passos da vitória. Pressionado pela Liga de Defesa das Liberdades Religiosas, o general em chefe dos Cristeros, Jesús Degollado, anunciou a seus homens, com voz de choro:

“Sua Santidade, o Papa, por intermédio do Excelentíssimo Núncio Apostólico, dispôs, por razões que nos são desconhecidas, mas que, como católicos, aceitamos, que o culto recomece sem que a lei seja modificada... Este acordo (...) tirou de nós o que  havia de mais nobre, de mais santo em nossa bandeira, desde o momento em que a Igreja declarou se resignar com o que conseguira...

Por conseguinte, a Guarda Nacional assume a responsabilidade pelo conflito...

Enquanto homens, possuímos uma alegria que jamais poderão nos tirar: a Guarda Nacional não sucumbiu vencida por seus inimigos, mas abandonada por aqueles que seriam os primeiros a receber os frutos de nossos sacrifícios e de nossa abnegação...!

Ave Cristo! Nós que por vós marchamos para a humilhação, para o desterro e, talvez, para uma morte inglória [...] com nosso mais fervoroso amor vos saudamos e, mais uma vez, vos aclamamos Rei de nossa Pátria! Viva Cristo Rei! Viva Santa Maria de Guadalupe!”.

Seis mil Cristeros, que depuseram armas depois deste apelo, foram assassinados em seguida. Durante os combates, os Cristeros tiveram “apenas” 4.797 mortos...

Pouco depois, a Direita Nacional, de José Vasconcelos ganhará as eleições. Mas Portes Gil (que, durante uma festança, teria gritado: “A luta não começa hoje. A luta é eterna. A luta começou há vinte séculos”) as anulou. No dia 14 de fevereiro de 1930, 23 pessoas próximas a Vasconcelos só não foram assassinadas porque ele partiu rápido para o exílio.

Tendo, sem dúvida, servido o bastante, Calles foi assassinado por um general bolchevique, Lázaro Cárdenas. Sob a sua direção — e as de Salomon Schreimbaum (vindo da Lituânia) e de Max Schachman (vindo de Nova York) — o comunismo instalou-se no México.

A Universidade Operária do México foi confiada a Isaac Libenson, no dia 8 de fevereiro de 1935: Lá eram formados os quadros sindicais-marxistas.

Em 1938, Cárdenas estatiza o petróleo mexicano, o que hoje é apresentado como uma medida “nacionalista”. Tratava-se, com efeito, de prejudicar, segundo pleitos dos EUA, os ingleses (que então dispunham das Honduras britânicas, a atual Belize). Não apenas os Mexicanos depositaram 170 milhões de dólares em indenizações aos EUA, mas, a partir de então, os americanos deram um jeito de impor o seu preço ao petróleo “nacional” mexicano...

Tranquilamente, mas à surdina, as perseguições religiosas, conduzidas pelos “Camisas vermelhas”, recomeçaram, mas sem grandes entusiasmos. É preciso dizer que, nos EUA, Roosevelt e a maçonaria precisavam das igrejas para mobilizar a todos contra a Itália e a Alemanha, em prol de uma “cruzada” em nome dos “direitos humanos”, bem como dos “valores cristãos” de milhões de homens.

Em nossos dias, o Partido Nacional-Revolucionário de Calles, atualmente chamado de Partido Revolucionário Institucional (PRI), continua a ter cada vez mais peso.

É de se admirar que o México tenha sido pró-sandinista? Que Tomás Borge, ex-ministro de interior da Nicarágua vermelha, passe aí um auto-exílio dourado (enquanto aguarda que seu amigo, Humberto Ortega, chefe do exército sandinista, retome o poder)? Que a imprensa e a televisão sejam lá tão servis quanto as nossas? Que as autoridades da Guatemala tenham muitas vezes denunciado o governo mexicano, que permite que a guerrilha esquerdista guatemalteca tenha suas bases no sul do México (província do Yucatán)? Que o exército seja menosprezado, sem influência, e não conte com mais de cem mil homens, para um país de 70 milhões de habitantes, enquanto a polícia (civil e sindical) conta com mais de duzentos mil homens? É de se admirar? Talvez não...

(Tradução: Permanência. Mexique de l’Indépendance aux Cristeros, Atelier Fol’fer, 2014)

  1. 1. [N. do T] Nos tempos da colonização espanhola, Alta Califórnia era o nome dado ao território mais ou menos equivalente ao atual estado norte-americano da Califórnia; a Baja California é nome atual do estado mais setentrional do México, cuja capital é Mexicali.
  2. 2. [N. do T] Veracruz é o nome de um dos 31 estados mexicanos.
  3. 3. [N. do T] Maximiliano I, Imperador do México, nutriu na juventude uma forte paixão por D. Maria Amélia, filha de Dom Pedro I, com quem pretendia se casar. Primo-irmão de Dom Pedro II, tentou sem maiores resultados aproximar-se, a fim de formar uma vigorosa aliança entre México e Brasil.
  4. 4. O termo “gringo”, pejorativo, remonta à guerra méxico-americana de 1836. Os soldados americanos marchavam entoando a canção, “Green grow the lilacs” ... as primeiras sílabas “grin-grou” tornaram-se “gringo”.
  5. 5. [N. do T] Columbus é uma cidade do estado do Novo México, EUA.
  6. 6. [N. do T] O autor refere-se aos camponeses da Vendeia (França) que, com heroísmo, pegaram em armas contra um governo que se opunha à sua Fé. Sobre o assunto, recomendamos o artigo publicado em PERMANÊNCIA, “A Guerra da Vendeia”, escrito por Jean de Viguérie, nº 266, tempo de Pentecostes 2012.
  7. 7. [N. do T] Maçom, espírita e ávida leitora de Bakunin, viajou pela América Latina, dando conferências as mais subversivas, dirigindo e contribuindo para periódicos, fundando associações como, no México, a Federación Anticlerical Mexicana.
  8. 8. [N. do T] GPU ou OGPU é o nome do antigo serviço secreto soviético.
  9. 9. [N. do T] As balas dundum, inventadas no final do século XIX, foram projetadas para se expandir e fragmentar durante o impacto. Elas se estilhaçam dentro do corpo do indivíduo atingido provocando dores lancinantes.
  10. 10. [N. do T] As colunas infernais, comandadas pelo general Louis-Marie Turreau, receberam a ordem de marchar pela Vendeia e matar a todos, mulheres e crianças incluídos.
  11. 11. [N. do T] O nosso Jackson Figueiredo (fundador do Centro Dom Vital), escrevendo na Gazeta de Notícias, foi talvez a mais veemente voz da nossa imprensa contra a odiosa política de Calles. Seus artigos causaram tamanho mal-estar, que o embaixador mexicano escreveu pedindo a pronta demissão de Jackson de Figueiredo ao presidente do país, o Sr. Arthur Bernardes. Este, porém, ignorou completamente o pedido dos mexicanos.

    Reunimos os textos de Jackson de Figueiredo – talvez pela primeira vez desde sua publicação em 1926 – no site da Revista Permanência: http://www.permanencia.por.vc/revista/historia/Dossie/jackson.htm