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Art. 6 – Se o Filho é igual ao Pai pelo poder.

(I Sent., dist. XX, a. 2; IV Cont. Gent., cap. VII, VIII).
 
O sexto discute-se assim. – Parece que o Filho não é igual ao Pai pelo poder.
 
1. – Pois, diz a Escritura (Jo 5, 19): O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma senão o que vir fazer ao Pai. Mas, o Pai pode fazer por si. Logo, o Pai é maior que o Filho, pelo poder.
 
2. Demais. - Maior é o poder de quem manda e ensina do que o de quem obedece e ouve. Ora, o Pai manda o Filho, segundo a Escritura (Jo 14, 31): Faço o que o Pai me ordena. O Pai também ensina ao Filho, segundo ainda o Evan­gelho (Jo 5, 20): O Pai ama ao Filho e mostra-lhe tudo o que faz. Enfim o Filho ouve, ainda segundo a Escritura (Jo 5, 30): Assim como ouço, julgo. Logo, o Pai tem maior poder que o Filho.
 
3. Demais. – Pela sua onipotência é que o Pai gera um Filho igual a si, segundo Agos­tinho: Se não pôde gerar um filho igual a si, onde está a onipotência de Deus Padre?1Ora, o Filho não pode gerar o Filho, como se demons­trou. Logo, nem tudo o que pode a onipotência do Pai o pode também o Filho. Portanto, este não lhe é igual em poder.
 
Mas, em contrário,a Escritura (Jo 5, 19): Tudo o que fizer o Pai o faz também semelhantemente o Filho.
 
Solução – Éforçoso admitirmos que o Filho é igual ao Pai em poder. Pois, o poder de agir resulta da perfeição da natureza. Assim, vemos que quanto mais perfeita for a natureza de uma criatura, tanto maior será o seu poder de agir. Porque, como demonstramos2, a essência mesma da paternidade e da filiação divina exige que o Filho seja igual ao Pai em grandeza, i. é, em perfeição natural. Donde resulta que o Filho é igual ao Pai em poder. – E o mesmo devemos dizer do Espírito Santo, em relação às outras duas pessoas.
 
Donde a resposta à primeira objeção. – Quando a Escritura diz: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma– não o priva por isso de nenhum poder do Pai; pois, logo acres­centa: - Tudo o que fizer o Pai o faz também semelhantemente o Filho. Mas essa expressão mostra que o Filho tem o poder, do Pai, de quem recebeu a natureza. Por isso diz Hilário: A unidade da natureza divina é tal que o Filho faz por si o que não faz de si3.
 
Resposta à segunda. – Quando a Escritura diz que o Pai ensina e o Filho ouve, não quer dizer senão que o Pai comunica a sua ciência ao Filho e também a sua essência. No mesmo sentido podemos entender o mandado do Pai; porque abeterno deu ao Filho, gerando-o, a ciência e a vontade de agir. – Ou antes, devemos referir o mandado a Cristo, na sua natureza humana.
 
Resposta à terceira. – Assim como a mesma essência é no Pai a paternidade, e no Filho, a filiação, assim pelo mesmo poder o Pai gera e o Filho é gerado. Por onde é manifesto que tudo quanto pode o Pai pode o Filho. Donde, porém não se segue que este possa gerar; mas que se muda o ponto de vista absoluto (quid) o relativo a (ad aliquid). Pois, geração significa relação em Deus. Tem portanto o Filho o mesmo poder que o Pai, mas com outra relação. Porque o Pai o tem como dador, e é o que se exprime quando se diz que pode gerar; o Filho, porém, o tem como quem recebe e é o que se exprime quando se diz que pode ser gerado.

  1. 1. Contra Maximin., L. II (al. III), c. 7.
  2. 2. Q. 42, a. 4.
  3. 3. IX de Trin., num. 48.
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