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Artigo 1 - Se a estultícia se opõe à sabedoria.

O primeiro discute-se assim. Parece que a estultícia não se opõe à sabedoria.

1. Pois, a insipiência se opõe diretamente à sapiência. Ora, segundo parece, a estultícia não é o mesmo que a insipiência: pois, parece que esta, como a sapiência, só diz respeito às coisas divinas; ao passo que a estultícia é relativa tanto às coisas divinas como às humanas. Logo, a sapiência não se opõe à estultícia.

2. Demais. Um contrário não é a via para se chegar ao outro. Ora, a estultícia é a via para se chegar à sapiência; pois, diz a Escritura Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se insensato para ser sábio. Logo, à sabedoria não se opõe a estultícia.

3. Demais. – Um contrário não é causa do outro. Ora, a sabedoria é causa da estultícia; pois, diz a Escritura: Todos estes homens se tornaram néscios pela sua ciência; ora, a sabedoria é uma espécie de ciência. E a Escritura ainda diz: A tua sabedoria e a lua ciência é a que te seduziu; ora, ser seduzido é próprio da estultícia. Logo, à sabedoria não se opõe a estultícia.

4. Demais. – Isidoro diz: estulto é quem a desonra não causa dor nem se aflige com a injúria. Ora, isso pertence à sabedoria espiritual, como diz Gregório. Logo, a estultícia não se opõe à sabedoria.

Mas, em contrário, Gregório diz, que o dom da sabedoria é um dom oposto à estultícia.

SOLUÇÃO. – Parece que O nome de estultícia é derivado de estupor. Donde o dizer Isidoro: estulta é o que, por estupor, não se move. E também difere a estultícia da fatuidade, como no mesmo lugar o diz; porque a estultícia implica o embotamento do coração e a obtusidade dos sentidos; ao passo que a fatuidade importa totalmente na privação do senso espiritual. Por onde e convenientemente, a estultícia se opõe à sabedoria. Pois, como diz Isidoro no mesmo lugar, a denominação de sapiente é derivada de sabor; porque assim como o gosto tem por junção discernir o sabor dos alimentos, assim o sapiente, a de discriminar as coisas e as causas. Por onde, é claro que a estultícia se opõe, como contrária, à sabedoria; ao passo que a fatuidade se lhe opõe como pura negação. Pois, o fátuo carece do senso judicativo; o estulto tem esse senso, mas embotado; e enfim o sapiente tem-no subtil e perspicaz.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Como diz Isidoro, o insipiente é contrário ao sapiente, por não ler o sabor do discernimento e do sentido. Por isso a insipiência é o mesmo que a estultícia. Pois é considerado como estulto principalmente quem padece falta dessa sabedoria de juízo, cujo objeto é a causa a mais elevada; pois, a ninguém que lhe falte o juízo relativo ao que é de pouca importância se lhe chama estulto.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Assim como, conforme dissemos, há uma   sabedoria má, chamada sabedoria do século, que toma como causa altíssima e fim último um bem terreno; assim também, há uma estultícia boa, oposta a essa má sabedoria, que nos faz desprezar as coisas terrenas. E dessa estultícia é que fala o Apóstolo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A sabedoria do século é a que engana, e nos torna estulto diante de Deus, como claramente o diz o Apóstolo.

RESPOSTA À QUARTA. – Não se comover com injúrias pode, às vezes, provir de que ao homem não sabem bem as coisas terrenas, mas só as celestes. Por onde, isso pertence à estultícia do mundo, mas também à sabedoria de Deus, como diz Gregório no mesmo lugar. Outras vezes, porém, procede de ser o homem absolutamente estúpido, em relação a tudo; como o demonstram os loucos, que não discernem o que é injúria. E isso pertence à estultícia absoluta.

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