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Art. 2 – Se o fim do governo do mundo é algo de exterior ao mesmo.

O segundo discute–se assim. Parece que o fim do governo do mundo não é nada de exterior ao mesmo.

1. – Pois, o fim do governo de um ser é o para o que tal ser tende. Ora, aquilo para o que um ser tende é um certo bem nele mesmo existente; assim o enfermo busca a saúde, que é um bem nele mesmo existente. Logo, o fim do governo dos seres é um bem não extrínseco, mas existente neles próprios.

2. Demais. – O Filósofo diz: dos fins, umas são tu operações e outras, tu obras, isto é, as coisas feitas. Ora, como a operação esta nos operantes, nada de extrínseco a todo o universo pode ser operado. Logo, nada de extrínseco pode ser o fim do governo das coisas.

3. Demais. – O bem da multidão é a ordem e a paz, que é a tranquilidade da ordem, como diz Agostinho. Logo, o mundo consiste numa multidão de coisas. E portanto o fim do governo do mundo é a ordem pacífica, existente nas coisas mesmas. Por onde, o fim do governo das coisas não é nenhum bem extrínseco.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Tudo fez o Senhor por causa de si mesmo, Mas, Ele mesmo está fora da ordem total do universo. Logo, o fim das coisas é algum bem extrínseco.

SOLUÇÃO. – Como o fim corresponde ao princípio, não é possível, uma vez conhecido este, ignorar–se o fim das coisas. Ora, sendo, conforme resulta do que já foi dito, o princípio das coisas, Deus, ser extrínseco a todo o universo, necessariamente também o fim delas há de ser algo de extrínseco. E isto racionalmente se demonstra. Pois, é manifesto que o bem tem natureza de fim. Por onde, o fim particular de um ser é algum bem particular; e o fim universal de todos, é algum bem universal. Ora, universal é o bem em si e essencial, que é a essência mesma da bondade; e particular é o bem, participativamente. E sendo manifesto que, em toda a universidade das criaturas, nenhum bem há que não o seja participado, necessariamente há de o bem, que é fim de todo o universo, ser extrínseco à totalidade do mesmo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – De muitos modos podemos conseguir um bem: de um modo, como forma existente em nós, e assim a saúde ou a ciência; de outro, como algo operado por nós, e assim o edificador consegue o fim fazendo a casa. De outro, como um bem adquirido ou possuído, e assim quem comprou consegue o fim, possuindo o campo. Por onde, nada impede seja aquilo, a que é levado o universo, um bem extrínseco.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O Filósofo se refere aos fins das artes, das quais umas tem como fim, as próprias operações. sendo assim o fim do citarista tocar citara : ao passo que outras tem, como fim uma cousa feita, sendo assim o fim do edificador, não edificar, mas a casa. Ora, dá–se, que o extrínseco pode ser fim, não só como operado, mas também como possuído e como adquirido, ou ainda, como representado; assim, se dissermos que Hércules é o fim da imagem feita para representá–lo. Por onde, pode–se dizer que o bem extrínseco a todo o universo é fim do governo dos seres; como adquirido e como representado; porque todos eles tendem a participar dele, e a assimilá–lo o mais possível.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Há um fim do universo que é um bem nele mesmo existente e esse fim é a ordem do dito universo. Porém tal bem não é o último fim, mas se ordena ao bem extrínseco como ao fim último; assim como também a ordem de um exército se ordena ao chefe, como diz Aristóteles. 

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