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Art. 4 ─ Se os condenados no inferno quereriam que houvesse outros condenados, além deles.

O quarto discute-se assim. ─ Parece que os condenados no inferno não querem que haja outros condenados além deles.

1. ─ Pois, o Evangelho diz que o mau rico orava pelos seus irmãos, não viessem a cair no lugar dos tormentos. Logo e pela mesma razão; os outros condenados não quereriam que ao menos os seus amigos carnais fossem condenados ao inferno.

2. Demais. ─ Os condenados não ficam purificados dos seus afetos desordenados. Ora, certos condenados amaram com afeto desordenado a outros que não foram condenados. Logo, não haveriam de lhes querer o mal da condenação.

3. Demais. ─ Os condenados não desejam o aumento das suas penas. Ora, se houvesse maior número deles, maior pena sofreriam, como também, ao contrário, a multiplicação dos bem-aventurados aumenta-lhes a alegria. Logo, os condenados não quereriam que os salvos se condenassem.

Mas, em contrário, aquilo de Isaías ─ Ergueram-se de seus sólios, diz a Glosa: É consolação dos maus ter muitos companheiros de sofrimentos.

2. Demais. ─ Os condenados têm enorme inveja uns dos outros. Logo, sofrem com a felicidade dos bem-aventurados e lhes desejam a condenação.

SOLUÇÃO. ─ Assim como os bem-aventurados na pátria terão uma caridade perfeitíssima, assim, perfeitíssimo será o ódio dos condenados. Por onde, assim como os santos se comprazem com todo bem, assim todo bem será para os ímpios uma causa de dor. Daí o fazê-las soberanamente sofrer a consideração da felicidade dos santos. Por isso diz a Escritura: vejam e sejam confundidos os que têm inveja do teu povo e devore o fogo a teus inimigos. Por isso quereriam que todos os bons fossem condenados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Tão grande será a inveja dos condenados que, por ser suma a sua miséria, invejarão até a glória dos seus parentes; o que mesmo nesta vida se dá, quando a inveja é muita. Menos invejarão porém aos parentes que aos outros, e maior lhes seria a pena se todos os parentes se condenassem e todos os mais se salvassem, que se algum dos parentes se salvasse. E foi por isso que o mau rico orava para seus irmãos se livrarem da condenação. Pois, sabia que muitos outros se salvariam, e preferiria que os irmãos fossem condenados, mas com todos os outros.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O amor não fundado no honesto facilmente desaparece, sobretudo entre maus, como diz o Filósofo. Por onde, os condenados não conservarão amizade para com os que amaram desordenadamente. Mas nisto a vontade lhes permanecerá perversa, que ainda amarão a causa desse amor desordenado.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Embora a multidão dos condenados aumente a pena de cada um, contudo lhes crescerá o ódio e a inveja a ponto de preferirem ser mais atormentados com muitos, do que menos sós.

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