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Art. 7 ─ Se o fogo do inferno está no interior da terra.

O sétimo discute-se assim. ─ Parece que o fogo do inferno não está no interior da terra.

1. ─ Pois, do homem condenado diz a Escritura: Do mundo o transportará Deus. Logo, o fogo que punirá os condenados não está no interior da terra, mas fora dela.

2. Demais. ─ Nada de violento e acidental pode ser sempiterno. Ora, o fogo do inferno é sempiterno. Logo, não está lá por violência, mas naturalmente. Ora, no interior da terra o fogo não pode estar senão por violência. Logo, o fogo do inferno não está no interior da terra.

3. Demais. ─ No fogo do inferno serão atormentados todos os corpos dos condenados, depois do dia de juízo. Ora, esses corpos ocuparão lugar. Logo, colho será enorme a multidão dos condenados, porque infinito é o número dos estultos, será necessariamente um espaço máximo o que conterá o fogo eterno. Ora, não é admissível que haja no interior da terra uma tão grande concavidade, porque as suas partes são naturalmente levadas para o centro. Logo, o fogo do inferno não estará no interior da terra.

4. Demais. ─ A Escritura diz: pelas cousas em que alguém peca, por essas é também atormentado. Ora, os maus pecaram na terra. Logo, o fogo que os pune não deve estar no interior da terra.

Mas, em contrário, a Escritura: O inferno se viu lá em baixo todo turbado para te sair ao encontro. Logo, o fogo do inferno está debaixo dos nossos pés.

2. Demais. ─ Gregório diz: Não vejo o que obsta acreditarmos estar o inferno debaixo da terra.

3. Demais. ─ Aquilo da Escritura ─ Tu me lançaste no profundo até o coração do mar, diz a Glosa: Isto é, no inferno, correspondente à expressão do Evangelho ─ no coração da terra; porque, como o coração ocupa a parte central no corpo do animal, assim dizemos estar o inferno no centro da terra.

SOLUÇÃO. ─ Diz Agostinho, citado pelo Mestre: penso que ninguém sabe em que parte do mundo está o inferno, salvo quem obtiver revelação do Espírito divino. Por isso, Gregório, interrogado sobre essa questão, respondeu: Nesta matéria seria temeridade, que não ouso fazer qualquer afirmação categórica. Porque uns pensaram estar o inferno numa parte da superfície da terra; outros, no interior dela. Mas julga esta última opinião a mais provável, por duas razões. ─ Primeiro, pela etimologia mesma do nome: Assim, escreve: Se dissermos que o inferno é assim chamado por ocupar a parte inferior, o que é a terra para o céu isso mesmo deve ser o inferno para a terra. ─ Segundo, pelo que diz o Apocalipse: Ninguém podia, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, abrir o livro. Onde, a expressão ─ no céu ─ refere-se aos anjos; a expressão ─ na terra, aos que ainda vivem neste mundo; e a outra ─ debaixo da terra, as almas que estão no inferno.

E Agostinho também parece indicar duas razões que corroboram a opinião de estar o inferno no interior da terra. ─ A primeira é que, como as almas dos mortos pecaram pelo amor da carne, são tratadas como a carne morta, i. é, enterradas no solo. ─ A outra é que como está a gravidade para o corpo, assim a tristeza para o espírito, do qual a alegria é como a leveza para o corpo. Por onde, assim como, os corpos, se obedecerem à lei do seu peso, os mais graves ocuparão os lugares inferiores, assim, na ordem dos espíritos, os inferiores são os mais acabrunhados pela tristeza. E assim, como o lugar apropriado à felicidade dos eleitos é o céu empírio, assim, o lugar apropriado à tristeza dos condenados é o lugar ínfimo da terra. ─ Nem nos deve causar embaraço o que diz Agostinho no mesmo lugar: É crença ou suposição que o inferno está debaixo da terra. Porque o santo Doutor retratou-se desse dito quando escreveu: Eu deveria ter ensinado, antes, que o inferno está debaixo da terra, do que dar a razão por que crêem ou supõem que é esse o seu lugar.

Certos filósofos porém ensinaram que o inferno está localizado sob o globo terrestre, mas sobre a superfície da terra que nos é oposta. E este parece ter sido o sentir de Isidoro, quando disse: O sol e a lua permanecerão nos lugares onde foram criados, a fim de os ímpios, presa dos tormentos, não lhes gozarem da luz. Razão que seria nula se se colocasse o inferno debaixo da terra. Que sentido, porém, podemos dar a estas palavras já o dissemos. ─ Pitágoras, por seu lado, colocou o lugar das penas na esfera do fogo, que, na sua opinião, está no centro do universo, como o refere o Filósofo.

Mas, concorda melhor com o ensinamento da Escritura colocar o inferno debaixo da terra.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Essas palavras de Job ─ Do mundo o transportará Deus, deve entender-se do globo terrestre, i. é, deste mundo. É essa a exposição de Gregório, nestas palavras: É transportado fora do globo, quando, ao aparecer o soberano juiz, for retirado a este mundo, em que desvairadamente se glorificou. Nem se deve entender este globo pelo universo, como se o lugar das penas estivesse totalmente fora do universo.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O fogo do inferno durará eternamente por disposição da justiça divina; embora, pela sua natureza, não possa nenhum elemento durar fora do seu lugar, sobretudo enquanto os seres estiverem sujeitos à lei da geração e da corrupção. E aí esse fogo desprenderá um calor intensíssimo, porque esse calor será no inferno concentrado de todos os lados, por causa do frio da terra que de todas as partes o rodeia.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O inferno nunca será tão pequeno que não baste a conter os corpos dos condenados; pois, ele está colocado entre as três causas insaciáveis. Nem é nenhum inconveniente haver no interior da terra, por obra do poder divino, uma concavidade bastante grande para conter o corpo de todos os condenados.

RESPOSTA À QUARTA. ─ O lugar da Escritura ─ Pelas cousas em que alguém peca, por essas é também atormentado, não se verifica necessariamente senão em relação aos principais instrumentos de pecado. Pois, é por pecar pela alma e pelo corpo que o homem será punido em ambos. Mas nenhuma necessidade há de ser o pecador punido no mesmo lugar em que pecou; pois, o lugar que ocupa o homem nesta vida é diferente daquele onde estão os condenados. ─ Ou devemos responder que esse passo se refere às penas com que somos punidos nesta vida, onde cada culpa tem a sua pena correspondente, pois, cada Clima que vive na desordem é para si mesma o seu castigo, como diz Agostinho.

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