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Art. 2 ─ Se todos ressurgirão com a mesma estatura.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que todos ressurgirão com a mesma estatura.

1. ─ Pois, assim como o homem é medido pela quantidade dimensiva, assim também pela de duração. Ora, a quantidade de duração será reduzida em todos à mesma medida, porque todos ressurgirão com a mesma idade. Logo, também a quantidade dimensiva será reduzida em todos à mesma medida, porque todos ressurgirão com a mesma estatura.

2. Demais. ─ O Filósofo diz, que a natureza estabeleceu para todos os seres o termo e a lei da grandeza e do crescimento. Ora, esse termo é fixado pela forma, a que deve corresponder a quantidade, como todos os outros acidentes. Logo, como todos os homens tem a mesma forma especifica, todos devem chegar à mesma quantidade dimensiva do corpo, salvo erro da natureza, ora, o erro da natureza se corrigirá na ressurreição. Portanto, nem todos ressurgirão com a mesma estatura.

3. Demais. ─ A estatura do ressurrecto não poderá ser proporcionada à primeira virtude natural formadora do corpo, do contrário, os que não puderam atingir uma estatura maior pela virtude natural, nunca poderiam ressurgir com essa maior estatura ─ o que é falso. Logo, essa estatura há de proporcionar-se à virtude reconstituidora do corpo humano na ressurreição, e à matéria de que será reconstituído. Ora, a virtude que há de reconstituir todos os corpos será a mesma ─ a virtude divina; e todas as cinzas, de que os corpos humanos se reconstituirão, são igualmente aptas a receber a ação dessa virtude. Logo, todos os homens hão de ter como termo a mesma quantidade corpórea. Donde, a mesma conclusão anterior.

Mas, em contrário. ─ A mesma quantidade natural resulta da natureza de cada indivíduo. Ora, na ressurreição não variará a natureza do indivíduo. Logo, nem a sua quantidade natural. Mas nem todos tem a mesma quantidade natural. Logo, nem todos ressurgirão com a mesma estatura.

2. Demais. ─ A natureza humana será reconstituída pela ressurreição para entrar no gozo da glória ou no sofrimento da pena. Ora, nem todos os ressurrectos gozarão na mesma intensidade a glória nem na mesma intensidade sofrerão a pena. Logo, também não ressurgirão com a mesma estatura.

SOLUÇÃO. ─ Na ressurreição a natureza humana não será reconstituída na mesma espécie só, mas também no mesmo indivíduo. Por onde devemos atender não somente ao que convém, então, à natureza específica, mas também à natureza individual. Ora, a natureza específica tem uma determinada grandeza quantitativa que não pode, sem erro, ultrapassar nem deixar de atingir. Essa grandeza porém é susceptíva de certos graus de latitude, e não deve ser considerada como tendo uma medida determinada. Ora, cada indivíduo da espécie humana atinge, dentro dos termos dessa latitude, uma certa grandeza quantitativa própria à sua natureza individual. E essa ele a atinge no termo do seu crescimento, salvo erro na obra da natureza, causador de algum acréscimo ou alguma subtração nessa quantidade, cuja medida se funda na proporção do calor que dilata, e da umidade susceptível de estender-se, que não tem a mesma virtude em todos. Logo, nem todos ressurgirão com a mesma quantidade corpórea; mas cada qual ressurgirá com as dimensões que teria no termo do crescimento, se não houver erro nem falha da natureza. O que porém for excessivo ou deficiente no corpo, o poder divino o amputará ou suprirá.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Do sobredito já se conclui, que quando se afirma a ressurreição de todos com a mesma idade, não se afirma tenham todos a mesma quantidade de duração; mas que terão todos o mesmo estado de perfeição. Estado que pode coexistir com uma estatura maior ou menor.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A estatura do indivíduo corresponde não só à forma específica, mas também à natureza individual. Logo, a objeção não colhe.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ A estatura do ressurrecto não é proporcional à virtude reconstitutiva do corpo, que não pertence à natureza deste; nem às cinzas, no estado em que se encontram antes da ressurreição; mas à natureza primitiva do indivíduo. Contudo, se a virtude formativa, por alguma deficiência, não pudesse restabelecer a estatura própria à espécie, a virtude divina suprirá essa falha na ressurreição. Tal o caso dos anãos. E o mesmo se dirá dos que foram de estatura descomedida e fora do natural.

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