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Art. 11 ─ Se as exéquias fúnebres aproveitam aos defuntos.

O undécimo discute-se assim. ─ Parece que as exéquias fúnebres aproveitam aos defuntos.
 
1 ─ Pois, diz Damasceno, citando palavras de Atanásio: Embora as cinzas do defunto, morto na fé cristã, se tenham dispersado nos ares, não lhe recuses, invocando a Deus, queimar no sepulcro óleo e cera. Pois, Deus se compraz com essas práticas e as paga com múltiplas retribuições. Ora, essas práticas são exéquias fúnebres. Logo, estas aproveitam aos defuntos.

2. Demais. ─ Segundo Agostinho, aos justos dos tempos antigos cumpriam-se solenemente os deveres de piedade fúnebre, celebravam─se─lhes exéquias, cuidava-se-lhes da sepultura; e eles próprios, em vida, dispunham o modo como devessem ser sepultados e os seus restos transferidos. Ora, tal não fariam se as exéquias fúnebres e cousas semelhantes em nada aproveitassem aos defuntos. Logo, algo lhe aproveitam.

3. Demais. ─ Ninguém faz esmola sem tirar disso nenhum proveito. Ora, sepultar os mortos é prática considerada como esmola. Donde o dizer Agostinho: Como o atestou o anjo, Tobias, sepultando os mortos, bem mereceu de Deus. Logo, sepultar os mortos é prática que lhes aproveita.

4. Demais. ─ É absurdo afirmar que a devoção dos fiéis ficará frustrada. ─ Ora, muitos manifestam a verdade de ser enterrados em lugares sagrados. Logo, o culto da sepultura aproveita aos mortos.

5. Demais. ─ Deus é mais inclinado a ter misericórdia que a condenar. Ora, a sepultura em lugar sagrado é prejudicial aos mortos indignos dela. Por isso diz Gregório: Os culpados de pecados graves, tendo os seus corpos sepultados numa Igreja, em lugar de serem perdoados desses pecados, sofrem as consequências de uma condenação mais severa. Logo e com maior razão, devemos concluir, que o culto da sepultura aproveita aos bons.

Mas, em contrário, Agostinho: Todas as honras fúnebres prestadas ao corpo humano são apenas deveres de humanidade e em nada aproveitam à vida eterna.

2. Demais. ─ Gregório diz: A prestação de honras fúnebres, escolha da sepultura, pompa das exéquias servem antes de consolar os vivos que de proveito para os mortos.

3. Demais. - O Senhor diz: Não tem ais aos que matam o corpo e não podem matar a alma. Ora, depois da morte, o corpo dos santos pode ficar privado de sepultura; assim se passou, como o refere a História Eclesiástica, com certos mártires de Lião, na Gália. Logo, nenhum dano causa aos mortos o lhes ficarem os corpos insepultos. Portanto, em nada lhes aproveita também o culto da sepultura.

SOLUÇÃO. ─ A sepultura beneficia tanto os vivos como os mortos. ─ Os vivos, livrando-lhes a vista da corrupção cadavérica, e a saúde do corpo que poderia ficar prejudicada pelo mau odor exalado pelo cadáver. Isto quanto ao corpo. ─ Beneficia ainda espiritualmente aos vivos, fortificando-lhes a fé na ressurreição. ─ Aos mortos, porque a vista do sepulcro desperta nos vivos a memória dos defuntos e os incita a orar por estes. Por isso a palavra monumento implica a idéia de memória: monumentum, em latim é como monens mentem, como explica Agostinho. Os pagãos erraram nesta matéria pensando que da sepultura tirava a alma do morto a vantagem do repouso; pois, estavam crentes que neste não entrava a alma, antes de ser dado o corpo à sepultura. Crença absolutamente ridícula e absurda.

Quanto à sepultura em lugar sagrado, aproveita ao morto, não certo ex opere operato, mas ex opere operante. Quando o moribundo, ou outro por ele, dispõe que o seu corpo, depois de morto, seja sepulto num lugar sagrado, comete-o ao patrocínio de um santo, por cujas preces crê será socorrido; e também ao patrocínio dos que servem no templo, que mais frequente e especialmente oram pelos que estão neles sepultos. Quanto aos ornatos colocados na sepultura, são úteis aos vivos, por lhes servir de consolação. Podem porém servir também aos mortos, não em si mesmos, mas por acidente, despertando nos vivos a comiseração e levando-os a orar pelos defuntos. Ou ainda porque os gastos com esses ornatos vão aproveitar aos pobres ou à decoração das igrejas; assim, a sepultura é considerada como esmola.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O óleo e a cera colocados nos túmulos dos defuntos só acidentalmente lhes aproveitam. Ou quando oferecidos à igrejas dados aos pobres; ou quando servem tais práticas para reverenciar a Deus. Por isso às palavras citadas se acrescenta: O óleo e a cera como holocausto.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Os santos Patriarcas dispunham como queriam ser sepultados, para mostrar que Deus vela com a sua providência sobre os corpos dos mortos; não que conservem ainda qualquer sensibilidade depois da morte, mas para fortificar a fé na ressurreição, como o diz Agostinho. Por isso quiseram ser sepultados na terra da promissão, onde acreditavam que Cristo havia de nascer e morrer, cuja ressurreição é a causa da nossa.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Fazendo a carne naturalmente parte do homem, naturalmente ele a ama, conforme aquilo do Apóstolo: Ninguém aborreceu jamais à sua própria carne. E assim, esse amor natural explica a solicitude com que, vivos, cuidamos da sepultura a ser dada ao nosso corpo, e sofreríamos pressentindo que ele viesse a sofrer qualquer profanação. Por isso, como a amizade é uma conformidade de afetos, ela nos leva a prestar ao amigo morto os deveres de humanidade para com o seu cadáver. Por isso, diz Agostinho: Se as roupas, um anel ou cousas semelhantes, de nossos pais defuntos, tanto mais as queremos quanto mais intenso o afeto que neles depositávamos, com maior razão não lhes devemos desprezar os corpos; pois, mais familiar e íntima é a nossa união com o corpo do que com quaisquer vestuários que usemos. Ora, sepultando um cadáver satisfazemos um afeto e assim cumprimos um dever que não poderia o morto cumprir para consigo próprio; razão por que se considera o sepultamento como uma esmola.

RESPOSTA À QUARTA. ─ A devoção dos fiéis não fica frustrada, como diz Agostinho, quando dá a sepultura a um ente querido, em lugar sagrado; pois, assim procedendo comete-o ao sufrágio dos santos, como se disse.

RESPOSTA À QUINTA. ─ A sepultura de um ímpio em lugar sagrado não lhe causa nenhum dano, senão por ter buscado, por glória humana, um lugar de que é de todo indigno.

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