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Art. 1 ─ Se a extrema unção tem o poder de perdoar os pecados.

O primeiro discute-se assim. ─ Parece que a extrema unção não tem o poder de perdoar os pecados.
 
1. Pois, o que se pode fazer por um meio não há necessidade de se empregar outro. Ora quem recebe a extrema unção teve necessidade de recorrer, antes, à penitência, para alcançar perdão dos pecados. Logo, pela extrema unção não se perdoam os pecados.
 
2. Demais. ─ Nos pecados só há três elementos: a mácula, o reato da pena e as relíquias do pecado. Ora, a extrema unção não apaga a mácula do pecado, sem a contrição; esta a apaga, mesmo sem a unção. Nem tão a pena pois, mesmo depois de convalescido o doente, estaria obrigado a cumprir a satisfação imposta. Nem, ainda, as relíquias da culpa; porque, depois dela, perduram as disposições resultantes dos atos precedentes, como o demonstra a convalescência da doença. Logo, de nenhum modo, a extrema unção produz a remissão dos pecados.
 
2. Demais. ─ A remissão dos pecados não acontece sucessiva, mas instantaneamente. A extrema unção, porém, não é toda simultânea, pois requerem-se inúmeras unções. Logo, seu efeito não é a remissão dos pecados.
 
Mas, em contrário, a Escritura: Se estiver em alguns pecados, ser-lhes-ão perdoados.
 
2. Demais. ─ Todo sacramento da lei nova confere a graça. Ora, a graça produz a remissão dos pecados. Logo, a extrema unção, sendo sacramento da Lei Nova, contribui para a remissão do pecado.
 
SOLUÇÃO. ─ Cada sacramento foi instituído principalmente para um efeito, embora possa também produzir outros por consequência. E como um sacramento realiza o que figura, por isso, da significação mesma dele se deve deduzir o seu efeito principal. Ora, este sacramento é aplicado a modo de remédio, como o batismo a modo de oblução. E o fim de um remédio é curar da doença. Por onde, este sacramento foi principalmente instituído para curar a doença do pecado. E assim como o batismo é uma regeneração espiritual e a penitência, uma ressurreição da mesma natureza, assim também a extrema unção é uma cura ou medicação espiritual. Ora, assim como a medicação corporal pressupõe a vida do corpo no medicado, assim a espiritual pressupõe a vida espiritual. Por isso este sacramento não é aplicado contra os defeitos que excluem a vida espiritual, isto é, contra o pecado original ou mortal; mas contra aqueles defeitos que nos enfermam espiritualmente, privando-nos do perfeito vigor para os atos da vida da graça ou da glória. E essa deficiência outra coisa não é senão uma debilidade ou ineptidão, herança do pecado atual ou original. Contra essa debilidade é que nos fortificamos por este sacramento.
 
Mas, como essa fortificação resulta da graça, incompatível com o pecado, por isso e consequentemente, encontrando um pecado mortal ou venial, apaga-lhe a culpa, contanto que lhe não oponha óbice quem recebe tal sacramento, como o dissemos da Eucaristia e da confirmação. Por isso, Tiago também se refere condicionalmente à remissão do pecado, dizendo: Se estiver em alguns pecados, ser-lhes-ão perdoados, quanto à culpa. Mas nem sempre dele o pecado, pelo não encontrar sempre; mas sempre o perdoa, no concernente à referida debilidade, a que certos chamam relíquias do pecado.
 
Outros porém dizem, que a extrema unção foi principalmente instituída contra o pecado venial, que não podemos durante esta vida curar perfeitamente; por isso, o sacramento dos que dela se vão se ordena em especial contra o pecado venial. ─ Mas esta opinião não é verdadeira. Pois, também a penitência apaga suficientemente nesta vida a culpa dos pecados veniais. O não podermos porém evitá-los, depois de cumprida a penitência, não exclui o efeito da penitência precedente. O que, demais, concerne à debilidade referida.
 
Por onde, devemos pensar que o efeito principal deste sacramento é a remissão das relíquias do pecado; e por consequência, também a culpa deles, quando existir.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Embora possamos colher o efeito principal de um sacramento sem o recebermos a este atualmente, ou sem o sacramento, ou por outro sacramento e por via de consequência, nunca porém o poderemos colher sem a intenção de receber o referido sacramento. Por onde, como a penitência foi principalmente instituída contra a culpa atual, qualquer outro sacramento, que apague por via de consequência a culpa atual, não exclui a necessidade da penitência.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A extrema unção perdoa de certo modo o pecado, nos seus três elementos referidos. ─ Pois, embora a mácula da culpa não possa ser perdoada sem a contrição, contudo este sacramento, pela graça que infunde, faz com que esse ato do livre arbítrio contra o pecado seja a contrição; como também pode se dar com a Eucaristia e a confirmação. ─ Semelhantemente, também diminui o reato da pena temporal; mas, por via de consequência, por eliminar a debilidade, pois, uma mesma pena mais levemente a suporta um forte que um fracasso. Por onde, não é necessário seja por isso diminuída a medida da satisfação. ─Quanto ao que aqui se entende pelas relíquias do pecado não são as disposições como consequências dos atos, que são uns hábitos incoativos; mas uma certa debilidade espiritual existente na alma mesma; eliminada a qual, ainda que perdurem os mesmos hábitos ou disposições, não pode contudo inclinar-se do mesmo modo a alma para os pecados.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. ─Sendo muitas as ações ordenadas a um só efeito, a ultima é formal em relação a todas as precedentes e age em virtude delas. Por onde, a graça se infunde pela última unção, que confere o efeito do sacramento.

 

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