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Art. 5 — Se o nosso intelecto intelige compondo e dividindo.

(Supra, q. 58 a. 4).
 
O quinto discute-se assim. ― Parece que o nosso intelecto não intelige compondo e dividindo.
 
1. ― Pois, composição e divisão só se podem referir a muitas coisas. Ora, o intelecto não pode inteligi-las simultaneamente. Logo, não pode inteligir compondo e dividindo.
 
2. Demais. ― Com toda composição e divisão vai junto o tempo presente, o pretérito ou o futuro. Ora, o intelecto faz abstração do tempo bem como de outras condições particulares. Logo, não intelige compondo e dividindo.
 
3. Demais. ― O intelecto intelige por assimilação da coisa. Ora, nas coisas não há composição nem divisão; pois cada coisa, singularmente, designada pelo predicado e pelo sujeito, tem unidade e identidade, se a composição for verdadeira; assim, o homem é verdadeiramente animal. Logo, o intelecto não compõe nem divide.
 
Mas, em contrário. ― As palavras exprimem a composição do intelecto, como diz o Filósofo. Ora, nelas há composição e divisão, como é claro nas proposições afirmativas e negativas. Logo, o intelecto compõe e divide.
 
Solução. ― O intelecto humano intelige compondo e dividindo, necessariamente. Pois, como sai da potência para o ato, tem certa semelhança com as coisas geradas, que não têm a sua perfeição imediatamente, mas a adquirem sucessivamente. Semelhantemente, o intelecto humano não adquire, imediatamente, pela primeira apreensão, conhecimento completo da coisa; mas, primeiro, apreende-lhe algo, por exemplo, a qüididade, que é o objeto primeiro e próprio do intelecto; e em seguida, intelige as propriedades, os acidentes, e as relações circunstantes à essência da coisa. E então, o intelecto há de, necessariamente, compor uma coisa apreendida, com outra, ou dividi-las, e de uma composição e divisão passar para outra, o que é raciocinar.
 
O intelecto angélico, porém, e o divino comportam-se como coisas incorruptíveis que são: imediatamente, desde o princípio, têm perfeição total. Por onde, tais intelectos têm imediata e perfeitamente o conhecimento total de uma coisa. E assim, conhecendo a qüididade da coisa, dela conhece simultaneamente tudo o que nós podemos conhecer compondo, dividindo e raciocinando. E portanto, o intelecto humano conhece compondo, dividindo e raciocinando. Ao passo que o intelecto divino e o angélico conhecem, certamente, a composição, a divisão e o raciocínio, não, porém, compondo, dividindo e raciocinando; mas pela intelecção da simples qüididade.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― A composição e a divisão do intelecto realizam-se por diferenciação ou comparação. Por onde, conhecer muitas coisas, compondo e dividindo, é, para o intelecto, como conhecer a diferença ou a comparação das coisas.
 
Resposta à segunda. ― O intelecto abstrai, dos fantasmas; e contudo não intelige, em ato, senão voltando-se para eles, como antes ficou dito (a. 1; q. 84, a. 7). E, voltando-se para os fantasmas, à composição e à divisão do intelecto adjunge-se o tempo.
 
Resposta à terceira. ― A semelhança da coisa é recebida no intelecto, ao modo deste e não ao daquela. Por onde, à composição e à divisão do intelecto corresponde, certo, algo por parte da coisa, que, todavia não está na coisa do mesmo modo por que está no intelecto. Pois, o objeto próprio do intelecto humano é a qüididade da coisa material, que está ao alcance do sentido e da imaginação. Ora, dupla é a composição que se encontra nas coisas materiais. A primeira é a da forma e da matéria; e a esta corresponde, no intelecto, a composição, pela qual o todo universal é predicado da sua parte. Pois, o gênero é deduzido da matéria comum; a diferença completiva da espécie, da forma; e o particular, da matéria individual. A segunda composição é a do acidente em relação ao sujeito. E a esta composição real corresponde a composição do intelecto pela qual o acidente é predicado do sujeito; assim, quando se diz ― O homem é branco. Contudo, difere a composição do intelecto da composição das coisas. Pois, na composição das coisas há diversidade; ao passo que a composição do intelecto é sinal de identidade das coisas compostas. Assim, o intelecto não compõe de modo a dizer que um homem é a brancura; mas diz que um homem é branco. i. é, tem brancura; pois há identidade, no sujeito, entre o que é tal homem e o que tem a brancura. E, semelhantemente, a composição da forma e da matéria. Pois, animal significa o que tem a natureza sensitiva; racional, o que tem a natureza intelectiva; homem, o que tem alma; Sócrates, por fim, o que tem tudo isso, com a matéria individual.
 
E conforme essa noção da identidade, o nosso intelecto compõe uma coisa com outra, predicando.

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